sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Leonardo



            Os amigos já não se espantam com minhas contradições. Há muito venho dizendo que não aprecio o gênero literário das biografias, se é que elas constituem um gênero próprio. Pedro Nava foi mestre do memorialismo, tendo traçado ótimo retrato da cultura brasileira do século XX; penso que isso é bem diferente do conteúdo de biografias que chegam a fazer sucesso, tipo Plínio Salgado, João Goulart ou José Dirceu.
            Também estou cansado de afirmar que já não leio livros com mais de 200 páginas, não tenho tempo para isso, posso não chegar ao fim se os volumes forem mais avultados.
            Leonardo da Vinci, de Walter Isaacson (Intrínseca, 2017), é uma biografia e tem mais de 600 páginas: acabo de devorá-lo com enorme entusiasmo!
            Por que? Para tentar conhecer melhor aquele que talvez tenha sido o homem mais brilhante de toda a Renascença, para não dizer de todos os tempos e ser acusado de exagero. 
           O livro não se destaca por suas qualidades literárias e sim pelas peripécias do biografado.
            Ao final, Isaacson enumera alguns conselhos de Leonardo, anotados em seus incontáveis cadernos, e que traduzem bem as ideias do gênio e representam uma maneira de ser. São eles:

“Seja curioso, incansavelmente curioso.
Busque o conhecimento pelo simples prazer da busca.
Conserve a capacidade das crianças de se maravilhar.
Observe.
Comece pelos detalhes.
Veja o que está invisível.
Mergulhe no desconhecido.
Distraia-se.
Respeite os fatos.
Procrastine.
Faça com que o perfeito seja inimigo do bom.
Pense visualmente.
Evite fechar horizontes.
Faça com que seu alcance seja maior do que sua compreensão.”
Alimente sua fantasia.
Crie para você, não só para os patronos.
Trabalhe em conjunto.
Faça listas.
Faça anotações – no papel.
Esteja aberto ao mistério.”

            Leonardo seguiu ao pé da letra isso que registrou, é fruto da experiência. Um desses conselhos – procrastine – dominou toda sua vida, o que explica a enorme quantidade de obras inacabadas ou nunca começadas. Colaborou igualmente para tais fatos o conselho distraia-se, bastante utilizado por ele. O gênio tinha muito de humano.


            Outro: crie para você, não só para os patronos, explica por que Leonardo, ao morrer, tinha em seu quarto a Mona Lisa.
Ao vê-la no Louvre, alguns desdenham a obra, Quadrino pequeno, Pura fama, Não tem nada demais, Há pinturas muito melhores... Depois de ler o livro de Isaacson e olhar o quadro com redobrada atenção, então é possível apreender seu justo valor, uma das obras mais importantes de todos os tempos.


            

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