O tema é da inteira predileção deste blog, tratado hoje (15 abr 2020) por Leandro Karnal para O Estado de S.Paulo: Qual é a nossa língua? O ideal é dominar a linguagem sintética, mas também investir em Euclides da Cunha.
Mário de Andrade (1893-1945) fazia dura crítica ao abismo entre a oralidade e linguagem escrita, em tempos em que “o valor de alguém era medido pela riqueza vocabular, precisão e estilo erudito. Fulano era culto, dominava mesóclises, evitava barbarismos, contrariava o uso corrente e empregava palavras raras em orações com inversões sintáticas. Era um distintivo social, uma forma de exclusão mais do que comunicação.”
Afirma Karnal: “Hoje, a língua escrita, encastelada em palácio de mármore, teve seu fosso terraplenado e suas torres atacadas pelas catapultas do uso coloquial. Se o modernista ironizou a insistência na norma formal lusitana, hoje caminharia em um campo devastado pelo uso que se impôs: a eficácia acima de tudo. ...Importante é comunicar e nivela-se pelo ponto mais baixo, dando a entender que a oralidade é imperatriz e a formalidade, uma serva imunda que se esconde no porão da cidade conquistada.”
Karnal destaca a perda de importância da gramática normativa, em detrimento
do que é falado nas ruas. “Transitamos da demofobia para a normafobia”, alerta o articulista.
Se meu caro leitor ainda não percebeu, peço que preste atenção na fala dos jornalistas dos diversos noticiários da tv. Mesmo em uma breve notícia haverá pelo menos um atentado contra a língua portuguesa, seja na concordância verbal, seja nos plurais “comidos” pelo locutor. Quanto mais extensa a notícia, maior o número de equívocos.
O mesmo ocorre com a fala de gente importante, como os ministros, por exemplo. Um deles, em evidência no momento (pelo menos até hoje), sabe o que diz, porém não se importa como diz. (Outro, apenas em evidência quando diz asneiras, esse erra sempre na forma da comunicação.)
Acrescenta Karnal: “um aluno deve ser estimulado a dominar a linguagem rápida, sintética, sem vogais e com imagens do WhatsApp. Da mesma forma, deve ser levado a decifrar os longos períodos do padre Antônio Vieira ou o vocabulário de Euclides da Cunha. Acima de tudo, no coloquial livre ou no formal profissional, todos devem ter clareza da adequação e da precisão dos termos empregados.”
Aprendi com os mais bem educados que é interessante alternar leituras de clássicos com autores contemporâneos e sigo este conselho à risca. Machado será sempre nosso guia, mas a liberdade de um Luiz Ruffato não pode ser desprezada. Assim, seguimos aprendendo, o antigo e o novo, o rigor e a irreverência, e até mesmo, por que não, o “certo” e o “errado”. Porém, sem fundamentalismos.
Conclui Karnal com frase para se emoldurar e colocar na parede da sala de nossa casa: “Quanto mais eu conseguir aprender, mais longe vejo e mais alcanço.”
Amém!