domingo, 30 de setembro de 2018

Homenagem ao tradutor



São Jerônimo


Afirma Karnal, para O Estado de S.Paulo (30 Set 2018): “Hoje é dia de São Jerônimo, padroeiro dos tradutores. Homem de cultura erudita e gênio difícil, o chamado “dálmata selvagem” foi assistente do papa Dâmaso no fim do século 4.º. Assim, 30 de setembro também é dia dos secretários e das secretárias. A obra máxima do santo é ter traduzido a Bíblia do grego e do hebraico para o latim. A versão das escrituras feita por Jerônimo, chamada de Vulgata, foi oficial para os católicos pelos séculos seguintes.” 
            Karnal nos oferece uma bela definição do que seja traduzir: 

“Traduzir é arte combinada com conhecimento, técnica e intuição. ...Traduzir é compreender ao máximo dois sistemas e lançar luzes sobre dois continentes separados pela maior fronteira humana: a cultura da língua.” 

            Dedico estas poucas palavras ao meu irmão Paulo Sergio Viana, pessoa dedicada à difusão do Esperanto no Brasil e no mundo, incansável, sempre disposto a ajudar os aprendizes, tradutor de José Saramago (O conto da ilha desconhecida) para o Esperanto (livro que se encontra hoje na Casa dos Bicos, em Lisboa, na Fundação José Saramago).
            O tradutor, antes de tudo, ama as palavras, seja numa língua ou na outra, e escolhe entre tantas, aquelas que mais lhe convém. Graças a ele, ao seu trabalho, lemos as obras primas da literatura universal, com palavras que podemos compreender.
            Salve São Jerônimo!



quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Gabriela fotógrafa

A foto do dia


Seguindo os passos do avô, do tio avô, da tia e principalmente da mãe, Gabriela inicia sua trajetória fotográfica!!!

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Poluição e capacidade cognitiva



Poluição atmosférica 
Foto: Thomas Peter/Reuters


“Estudo liga poluição a declínio cognitivo em seres humanos. Ar poluído é péssimo para os pulmões, e provavelmente para o cérebro”, afirma Mike Ives, para The New York Times (25 Set 2018). 
Estudo realizado na China sugere relação entre a poluição do ar e dificuldades na linguagem e matemática. Diz a reportagem: “A relação entre a poluição e as doenças respiratórias já é bastante conhecida, mas a maioria dos especialistas agora acredita que partículas ínfimas também podem elevar o risco de infartos e derrames. Ainda não se sabe ao certo se esta forma de poluição atmosférica prejudica a cognição, mas vários estudos sugerem a existência de uma relação.” 
O estudo mais recente analisou as consequências da exposição à poluição atmosférica em mais de 25 mil pessoas de 162 condados chineses. Os efeitos em termos cognitivos foram particularmente acentuados entre homens mais velhos. 
“Uma equipe de pesquisadores da França e da Grã-Bretanha afirma em um estudo de 2014 que a poluição causada pelo trânsito em Londres esteve associada ao declínio das funções cognitivas ao longo do tempo entre os participantes do estudo, cuja idade média era de 66 anos.” 
A China tem a maior população mundial com demência e o número deverá subir de cerca de 44,4 milhões em 2013, para 75,6 milhões até 2030. 
         Para concluir, com muito orgulho, uma foto do nosso quintal!





segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Rabo quente

A foto do dia


Nina Simone esfria o rabo, literalmente


Foto: AVianna, set 2018.

Músicas que iluminam


“Quando escuto Bach, imagino que Deus existe”. 
A afirmação é de Alberto da Costa e Silva para a Folha de S.Paulo (23.set.2018), quando o historiador, poeta, ensaísta, membro da Academia Brasileira de Letras, vencedor do Prêmio Camões, revela sua relação com Johann Sebastian Bach, mais precisamente com a Missa em Si Menor. 
         Confessa Costa e Silva: “Desde menino, deixou-me a fé. Por isso, penso que não posso emocionar-me e comover-me com a mesma intensidade de quem, sendo católico, ao ouvir essa missa, pede perdão por não ser santo. Quando a escuto, porém, esqueço muitas vezes a minha desesperança de incréu e não resisto a imaginar que Deus existe e que a vida é uma parábola da eternidade. ...A grande “Missa” de Bach iluminou a minha juventude. Pus nela o meu horizonte de perfeição, e dela fui aproximando as sucessivas descobertas das muitas formas com que se dá a beleza.” 
         Eduardo Giannetti, em seu excelente livro O elogio do vira-lata e outros ensaios (Companhia das Letras, 2018), descreve seu arrebatamento pela Partita N.2 para violino solo, de J. S. Bach: “Religião: religarerelegere. Ouvir concentradamente a Partita II de Bach constitui, para mim, a experiência religiosa por excelência: o restabelecimento do vínculo sagrado com a totalidade do universo (religare) e o retorno a uma síntese primeira, anterior à cisão da autoconsciência e à dor de formas repartidas (relegere). Acima de tido que conheço, reverencio ou possa conceber, a pureza e a perfeição austera destes sons traduzem a ideia do absoluto.”
         Giannetti prescreve ainda o modo-de-ouvir sua música predileta: “Ouvir bem – estar minimamente à altura do que se ouve – é trabalho exigente, normalmente precedido de um pequeno ritual. Silêncio, isolamento e concentração são essenciais: olhos cerrados, respiração apaziguada, corpo na horizontal.”
         O leitor pode constatar a que ponto chega a influência de determinada obra (ou mesmo a música e arte de modo geral), na mente desses dois ilustres pensadores. Quem lê os dois ensaios e ainda não conhece as respectivas peças, corre atrás delas, na tentativa de descobrir as emoções registradas por ambos os ensaístas. Quem já as conhece, torna a ouvi-las, com a certeza que o tal arrebatamento se renovará.
         Chama a atenção deste blogueiro que em ambas as críticas, os autores não entram em grandes considerações técnicas ou teóricas, detendo-se exaustivamente nas emoções e sentimentos neles provocados pelas obras. Pensei, Ah! então é possível escrever sobre determinada música – a música da sua vida! – sem a necessidade de grande conhecimento de teoria musical?! 
         Sem qualquer pretensão ensaística, modestissimamente, com minha formação musical nula, tendo apenas a meu favor o hábito de ouvir música erudita desde os 18 anos (por influência de minha mãe), e algum atrevimento, sinto o forte desejo de registrar aqui minha escolha. Com o único objetivo: que o possível leitor que nunca a ouviu vá correndo atrás dela, em busca do mesmo espanto que em mim provoca. Se ele já a conhece, torne a ouvi-la, sempre.
         Falo da Sonata para Piano n032 em dó menor op. 111 de Ludwig van Beethoven, composta entre 1820 e 1822.


         A música tem início de forma majestática, com certa melancolia, e somos logo surpreendidos por acordes dissonantes, prenunciando tragédia e drama, como se o compositor avisasse, Preparem-se, vocês vão ouvir algo que nunca foi tocado em piano algum! Este primeiro movimento tem a notaçãoMaestoso – Alegro con brio e appassionato.
         Ouço-o, a despeito de sua construção complexa e belíssima, como uma preparação para o segundo movimento, a Arietta – Adagio molto simplice e cantabile.
Agora sim, chegamos ao transcendental!
         Este segundo movimento, antítese do primeiro, despojado em vez de majestoso, tem início com a Arieta, em andamento bem lento, em dó maior (adágio muito simples e cantável, na orientação do próprio compositor). O tema é de fácil identificação e a sensação que me provoca é de tranquilidade, paz e felicidade.  
         Até que surgem as variações! A primeira, com a indicação dolce, é dançante e alegre. A segunda, ainda dolce, apresenta intrigante variação de ritmo, prenunciando o andamento jazzístico.
Na terceira variação Beethoven tem um surto! Esta é a única explicação que encontro para que um homem completamente surdo fosse capaz de criar um ritmo que seria “descoberto” muitos anos depois.  
         Da quarta variação em diante a mudança de ritmo é completa, o tema volta sempre e dissimuladamente, escondido num emaranhado de arabescos, semelhantes às improvisações do jazz, ou mesmo do boogie-woogie. Daí em diante é fechar os olhos e sentir os trinados agudos, acompanhados pelos sons graves da mão esquerda; só resta sonhar.
Há um sutil tom de ironia nos três últimos compassos da peça, mínima alteração no ritmo, como se o compositor afirmasse, Eu não disse que vocês ouviriam algo muito diferente? 
         (Há quem peça um terceiro movimento, a fim de estabelecer a forma clássica da sonata. Penso que este ouvinte não prestou atenção no final do segundo movimento. Ele encerra a própria composição e a sonata, como concebida até então. Agora inventem outra coisa, diria Beethoven...)
         Não sinto necessidade de associá-la à existência de um ser superior, mas é com respeito e humildade que ouço a música da minha vida, pois cada vez que a ouço surgem inesgotáveis descobertas, acompanhadas de novas emoções. 




sábado, 22 de setembro de 2018

Corra Lola corra




Primeiro veio Camões, logo em seguida chegou Lola, mesma raça, Yorkshire terrier, de bom pedigree, marrom e preta, cores bem marcadas. Cresceu saudável, forte como uma leoa.
         Pouco maior que o macho, boa parideira, nos deu duas ninhadas, cinco filhotes na primeira, quatro na segunda, Camões o pai de todos eles – isto é certo. Os filhos que sobreviveram, hoje adultos e já com certa idade, estão espalhados por Brasília, um deles no interior de São Paulo. Nina Simone permanece conosco.
         Foram dezesseis anos de alegre companhia, esta a melhor característica de Lola, a alegria. Já bem mais velha, ao chegarmos em casa, ainda vinha Lola com uma bolinha de tênis na boca, pedindo para brincar. (Camões não brincava, era um filósofo.)
         Lola não gostava de crianças. Chegou mesmo a bater o dente – não era bem uma mordida – na bochecha de Gabriela, nossa netinha com três anos de idade, puro ciúme. Mas quando o rapaz entrou na sala para fazer uma entrega, ela pregou-lhe uma mordida na batata da perna que tirou sangue! (Eu não sabia onde me esconder de vergonha; preocupado com Dora lá fora, uma enorme e feroz mastim, descuidei-me de Lola, fiel guarda de nossa casa.)
         Amorosa ao extremo, Lola não gostava de colo, e com isso, nos ensinava a respeitar o jeito-de-ser do outro. Ela amava a seu modo.
         Lola é a perda de hoje. Já perdemos Dora, Berta, Lenda, Camões, e agora Lola. Quanto sofrimento, meu deus, mas não desistimos, cientes de que a vida é mesmo feita de perdas, desde que nascemos. Até na morte essas criaturas tão especiais, os cães,  nos ajudam, nos oferecem a dolorosa experiência de perder alguém muito querido, nos ensinam a aceitar o inevitável, e aprendemos, a duras penas, a suportar o sofrimento. (Esta singela crônica é um bom exemplo de escrita terapêutica. Ao escrever, penso: tristeza mais tristeza não gera necessariamente depressão, e sim uma enorme tristeza. É preciso vivê-la, para superá-la.)
         Há os que preferem não ter cães, para evitar esse sofrimento. Eles não sabem o que estão perdendo. Gosto de repetir que a presença do cão humaniza a família. Aprendemos muito com eles.
         Para nos consolar nesse dia de luto, temos Nina, Blimunda, Falena e Juliete, todas conscientes e igualmente tristes – não há dúvida quanto a isso –, com a morte de nossa querida Lola.
         Obrigado Lola, por sua alegre companhia. 
Corra Lola, corra! 

         

Sabiá

fotominimalismo




Foto: AVianna, 2015.

Saquê

fotominimalismo




Foto: AVianna, Brasília 2014.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Dez chamamentos ao amigo 4


IV

Minha medida? Amor.
E tua boca na minha
Imerecida.

Minha vergonha? O verso
Ardente. E o meu rosto
Reverso de quem sonha.

Meu chamamento? Sagitário
Ao meu lado
Enlaçado ao Touro.

Minha riqueza? Procura
Obstinada, tua presença
Em tudo: julho, agosto
Zodíaco antevisto, página

Ilustrada de r4vista
Editorial, jornal
Teia cindida.

Em cada canto da Casa
Evidência veemente
Do teu rosto.


Hilda Hilst
Júbilo, memória, noviciado da paixão
In Da poesia, Hilda Hilst, Comp. das Letras, 2017

Massacre contra Rohingyas


Rohingyas fogem de perseguição, em Whaikyang, 
na fronteira com Bangladesh - Fred Dufour / AFP


Reportagem da agência Reuters revela escala 'horrenda' de crimes cometidos pelo Exército em Mianmar (18.set.2018). 
            O relatório de equipe de investigadores da ONU revelou nesta terça-feira (18 set 2018) uma escala "horrenda" de assassinatos, estupros e tortura cometidos pelo Exército de Mianmar contra a minoria étnica muçulmana rohingya. O Exército de Mianmar, conhecido como Tatmadaw, cometeu "os mais graves crimes sob a lei internacional". 
Afirma a reportagem: “O texto de 440 páginas, cujo sumário foi apresentado em agosto, inclui relatos de mulheres amarradas pelos cabelos ou pelas mãos para serem estupradas; crianças que tentavam fugir de casas incendiadas mas foram forçadas a voltar para dentro; o uso difundido de tortura com varas de bambu, cigarros e cera quente; e minas terrestres colocadas nas rotas de fuga dos vilarejos atacados.” 
É necessário que as altas lideranças militares, entre elas o comandante-em-chefe Min Aung Hlaing, sejam processados por genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra.
O governo de Mianmar refutou o sumário na ocasião e disse que a comunidade internacional está fazendo "alegações falsas". O embaixador de Mianmar, Kyaw Moe Tun, rejeitou as conclusões da comissão por serem "unilaterais" e disse que o governo não reconhece sua autoridade.


Arthur Bispo do Rosário sempre



Manto da Apresentação


O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tombou nesta quarta-feira o acervo de Arthur Bispo do Rosário. São 805 peças, estandartes, indumentárias, vitrines, fichários, móveis, objetos  elaborados em diversos materiais, como vidro, madeira, plástico, tecidos, linhas, botões, gesso, muitos recolhidos do lixo e da sucata.
A reportagem é de Paula Autran, Gilberto Porcidonio e Nelson Gobbi (19/09/2018) para O Globo. 
O tombamento inclui a cela em que Bispo do Rosário viveu e que mantém as suas intervenções. 
“O sergipano Arthur Bispo do Rosário Paes era natural de Japaratuba, no interior do estado, onde nasceu em 1909. Foi marinheiro e boxeador de 1926 a 1932, e empregado doméstico no bairro de Botafogo no fim da década de 30. De acordo com os registros, ele teve seu primeiro surto de esquizofrenia em 1938, quando peregrinou por igrejas do Centro se dizendo um messias. Foi fichado e preso pela polícia, tendo sido conduzido, primeiramente, ao antigo Hospício Pedro II, na Praia Vermelha. Após um mês, foi conduzido à Colônia Juliano Moreira, lugar que se confunde com a sua arte, onde permaneceu por mais de 50 anos como o "paciente 01662", até sua morte, em 1989.”
Foi neste período que ele começou a produzir suas peças, como mantos, bordados e tiras de tecidos pasteis em que escrevia frases, poemas e manifestos, tudo feito com o que encontrava no lixo e na sucata do complexo manicomial.
"Qual a cor da minha aura?" era a pergunta que dirigia aos visitantes das celas de que tomava conta e onde guardava suas obras. Um dos destaques é o Manto da Apresentação, peça bordada que ele dizia ser a sua vestimenta para o Juízo Final. 
Hoje, Bispo do Rosário é considerado um dos maiores expoentes da arte contemporânea brasileira e mundial. Após sua morte, teve sua primeira exposição individual, no Parque Lage, e peças expostas em São Paulo, Veneza, Lyon e no Victoria and Albert Museum, em Londres, entre outras cidades. 


quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Boa intenção


Morreu. Ao chegar às portas do céu com a capa do Batman, confundiram-no com o Capeta. Foi direto para o inferno.

Imprevidência


Ao sair de casa K. olhou para o céu, viu que iria chover, pegou guarda-chuva, que foi confundido com fuzil. Morreu com 3 tiros da polícia. 

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Neandertal


Velho, acostumara-se a ser rebaixado. Mas quando sua mulher chamou-o de neandertal, não precisou arrumar as malas, partiu.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Mulher com chapéu preto

Meus quadros favoritos


Egon Schiele

Sobre a Crônica



Desenhos: Cassio Loredano

Tomei conhecimento recentemente do Portal da Crônica Brasileira (https://cronicabrasileira.org.br/sobre-o-portal), criado com o objetivo de tornar accessíveis páginas de diversos periódicos das décadas de 1950 e 1960, quando a crônica teve a sua fase mais exuberante.
Mais de dez mil crônicas em recortes de jornais encontram-se no acervo de Literatura do Instituto Moreira Salles, de autores de renome, como Paulo Mendes Campos, Rachel de Queiroz, Otto Lara Resende e outros. Surgiu então a necessidade de disponibilizar os textos da base de dados do IMS, reunidos no Portal da Crônica Brasileira.
A Fundação Casa de Rui Barbosa tem arquivos de Rubem Braga, responsável por mais de 15 mil recortes de jornal, associando-se assim ao IMS.
Na apresentação do site encontramos as poéticas palavras de Rubem Braga: "o cronista de jornal é como o cigano que toda noite arma sua tenda e pela manhã a desmancha, e vai". 
Estão sendo transcritas algumas crônicas, que pretendem “ser fiéis à versão exibida no recorte de jornal, e não às das edições em livro, quando os textos já foram depurados e se apresentam diferentes da imagem.”
Vale a pena conferir e guardar o endereço eletrônico do Portal.

Assunto difícil


Supremo Tribunal Federal proíbe prática do ensino domiciliar no País. Esta a manchete da reportagem assinada por Amanda Pupo, Rafael Moraes Moura e Teo Cury, para O Estado de S.Paulo (12 Set 2018).
O Supremo Tribunal Federal (STF) vetou a possibilidade do homeschooling no Brasil, ou seja, que alunos possam ser educados em casa. 
O julgamento teve três correntes de entendimento, mas a maioria considerou que o ensino domiciliar precisaria ser regulamentado pelo Congresso Nacional, e não pela Suprema Corte. Houve uma única posição favorável à prática, a do relator Luís Roberto Barroso.  “Em sua análise, o ministro estabelecia parâmetros para a possibilidade de pais educarem seus filhos em casa, como a notificação das Secretarias Municipais de Educação, submissão das crianças a avaliações periódicas e a determinação de matrícula oficial, caso não houvesse melhoria no rendimento do aluno.” 
Moraes, primeiro a divergir de Barroso, ressaltou que o tema precisa passar pelo Parlamento para que sejam estabelecidos requisitos de frequência, de avaliação pedagógica e de socialização, para que a evasão escolar seja evitada. “O Brasil é um país muito grande e muito diverso. Sem regulamentação, sem legislação específica que estabeleça a obrigatoriedade de frequência e de fiscalização, receio que nós voltemos a ter grandes problemas de evasão escolar. Se não aguardarmos a regulamentação congressual discutida, detalhada e que obrigue o Executivo, nós certamente teremos evasão escolar disfarçada de ensino domiciliar”, observou. 
Uma terceira corrente se posicionou pela inconstitucionalidade direta do homeschooling. “Quando a Constituição estabelece a solidariedade entre pais e filhos e sociedade, e poder público, o faz nesse sentido que é uma forma conjunta. A criança matriculada, o pai e a mãe atestam a conduta da criança no colégio”, afirmou Fux. 
“Para Sivia Colello, especialista em psicologia da educação pela Universidade de São Paulo (USP), a decisão é acertada para assegurar que todas as crianças tenham garantido seu direito de conviver com a diversidade. “A escola não é um estoque de conteúdos, é uma experiência muito mais complexa, que se beneficia da convivência em grupo e da pluralidade de experiências cognitivas, sociais, culturais e afetivas.” “Por mais geniais que sejam os pais como mentores, a longo prazo eles não poderiam suprir os benefícios da convivência com a pluralidade de professores, profissionais especializados nos vários campos de conhecimento e com formação pedagógica.” 
Nos Estados Unidos a prática é permitida e o país tem hoje mais de 2 milhões de crianças em idade escolar fora da escola. Na Inglaterra o homeschooling também é legal. Na França o ensino em casa é permitido, mas as famílias devem notificar as autoridades sobre essa preferência e as crianças podem passar por verificações.  O ensino na escola é obrigatório entre os alemães e a educação domiciliar, proibida. Os suecos só consideram a educação domiciliar possível em circunstâncias excepcionais.  
Na Argentina o ensino em casa não é formalmente reconhecido e no Uruguai há obrigatoriedade de matrícula em instituições de ensino.

            Que tema difícil! Meu ponto de vista é que a frequência escolar proporciona os melhores meios para prover a educação necessária, porém, penso que as famílias devem ter o direito de decidir sobre a melhor forma de educar seus filhos, diante de determinadas circunstâncias, sob algum tipo de avaliação do estado. Então os pais não podem tirar um filho de uma escola ruim, que está afetando negativamente o comportamento da criança, e assumir sua educação? Em se tratando de Brasil, isso não é uma ficção.
            Agora é esperar pelos tais legisladores... Argh!

            (Em tempo, por que usar a horrível palavra homescholing em vez de ensino domiciliar? Êta gente besta.)
            



Bruna Linzmeyer

A foto do dia


Bruna Linzmeyer

A atriz atua em O grande circo místico, de Cacá Diegues, filme brasileiro indicado para participar do próximo Oscar, e que estreia em novembro. 

Foto: Celso Tavares / G1

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Dá o que pensar?




Obra exposta no Metropolitan Museum of Art, New York

Foto: AVianna, NY jun 2018

Palmas para Goiás e Espírito Santo


É preciso valorizar aqueles que progridem na qualidade de ensino no Brasil. Míriam Leitão dá o destaque:

“É preciso aprender com os estados que avançaram no Ideb. Não se pode ignorar o tamanho no nosso atraso, mas como a desistência não é uma opção, é fundamental olhar os bons exemplos. Goiás e Espírito Santo foram os destaques do ensino médio este ano e a análise dos dois casos mostra uma mistura de melhora da gestão com maior foco nos fatores socioemocionais. O Ceará, um sucesso nos anos iniciais e finais, deu um salto no ensino médio. Pernambuco também é exemplo.”


Toilet

Meus quadros favoritos


Henri Toulouse-Lautrec

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

domingo, 9 de setembro de 2018

Resumo da solidão


Encostou-se no balcão, pediu duas doses duplas de uísque, virou os dois copos, foi-se embora sem dizer palavra.

Benzinho, o óbvio



Quando vou o cinema não desejo ver apenas o óbvio. Preciso de algo mais para sonhar.
            Benzinho, filme dirigido por Gustavo Pizzi (2018), mostra o óbvio, aquilo que estamos acostumados a ver em nosso cotidiano, nada mais do que isso. Uma família brasileira atrapalhada com o filho mais velho que vai jogar handebol na Alemanha.
            Marido, mulher e quatro filhos, os mais novos são gêmeos ainda pequenos, moram numa casa em que a porta da frente não abre e eles precisam entrar pela janela, caricatura barata da miséria em que vive grande parte da sociedade brasileira. Mais uma vez, o óbvio.
            Salva-se alguma coisa? Sim, a magnífica interpretação da protagonista, a mãe que se desdobra para tentar colocar alguma ordem no caos familiar. Trata-se de Karine Teles, natural de Petrópolis, atriz, roteirista, produtora, e que ficou conhecida por sua participação em Que horas ela volta? Seu desempenho é digno de figurar entre os melhores do cinema nacional.
            Registro, para encerrar, o opinião de Mario Sergio Conti – crítico respeitado – sobre o filme para a Folha (8 set 1018): “A novidade é “Benzinho”, de Gustavo Pizzi. É um melodrama convencional e despolitizado. Mas ao menos fala de uma família de classe média que peleja para não afundar junto com o Brasil.”


Karine Teles


sábado, 8 de setembro de 2018

Gata em branco e preto

fotominimalismo




Foto: Cecília Vianna, set 2018.


A visita da velha senhora




A programação cultural do fim de semana em São Paulo foi intensa e brilhante para toda a família.
            Começamos pela Nona Sinfonia de Beethoven, na sala S. Paulo, com a OSESP, um concerto inesquecível! Em seguida, no MASP, a exposição Histórias Afro-Atlânticas, maravilhosa! À noite, no teatro Sérgio Cardoso, vimos a peça A visita da velha senhora, de Friedrich Dürenmatt, sob a direção de Luiz Villaça. O elenco de primeira linha, com destaque para Denise Fraga, Tuca Andrada, Fábio Herford, entre outros.
            Não me considero crítico de coisa alguma, muito menos de teatro, área em que meu conhecimento deixa muito  desejar. O que faço a seguir é um simples registro de minhas ideias depois de assistir a peça.
            Saí do teatro sem saber se tinha visto uma comédia, uma farsa ou uma tragédia mal contada. Que a história era trágica, não havia dúvida. Será que o diretor errou a mão e a história virou uma falsa comédia? Foi o que pensei. A própria escolha de Denise Fraga, uma comediante reconhecidíssima, não teria sido um erro, a reforçar o exagerado tom de humor? 
            São boas perguntas, e só havia uma solução, pensei, era ler o texto original. Encontrei na Estante Virtual um único volume da obra, da Livraria Agir Editora (1963), com tradução de Mário Silva, livrinho em mau estado de conservação, cheirando a mofo.
            Pois não é que o diretor foi fidelíssimo à obra!
            E minha dúvida perdurou; melhor, acentuou-se: tragédia ou comédia?
            Até que cheguei ao Posfácio, escrito pelo próprio Dürenmatt. Reproduzo aqui o trecho final, “bastante esclarecedor”, em meu ponto de vista:

“A visita da velha senhora é uma peça má, mas, justamente por isso, não deve ser representada de modo mau, senão, ao contrário, do modo mais humano possível, com tristeza, não com cólera, mas, também, com certo bom humor, pois nada prejudicaria tanto esta comédia, que acaba tragicamente, quanto uma excessiva seriedade.”

Veja o leitor! Uma comédia que acaba tragicamente! Penso então que “não entendi” perfeitamente a tal visita... 

            

Nenhum mistério



Lançamento do sétimo livro de poemas de Paulo Henriques Britto:   
NENHUM MISTÉRIO
(Editora: Companhia das Letras ). 

            Dois poemas:

1.

Aprender enfim
a cruel lição:
a que só se aprende
por subtração:  
  
a que não saber
não é desvantagem
(pois nem sempre é ganho
um aprendizagem 
  
(o que vai de encontro
ao que muitos pensam),
e sim uma sorte,
uma vera benção:  
  
a que não é arte
nem tampouco ciência:
pois não há teoria –
só práxis – da ausência. 
  
(Mas dizer-lhe o nome
já é exorcizá-la:
quem a vivencia
cala.) 

2.

Não há nenhum mistério nesta história
em que o culpado se anuncia
ainda na primeira hora,  
  
e são tão copiosas as pistas
quanto inúteis, e o final
– que, é claro, já se sabia 
  
desde o início – é banal,
melancólico, besta
e isento de moral. 
  
Mesmo assim, esta
é a história lida
até por quem detesta  
  
toda a inútil narrativa,
até por não haver alternativa. 


quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Quartetos dissonantes

Mais 47 cenas de um romance familiar

O pai dizia pau, a mãe falava pedra, o pai vinho, a mãe água. Em tudo e por tudo defendiam com veemência pontos de vista opostos. Aprendi a abotoar a camisa de baixo para cima, segundo instruções de minha mãe, e de cima para baixo, de acordo com meu pai.
            Muitas vezes, apenas por pirraça. Ou cizânia azedume agastamento arranca-rabo malquerença chaça porfia quizila implicância cisma rusga testilha arenga paliota peguilha rebordosa querela. O motivo não importava.
            Certa vez, entretanto, o pomo da discórdia – maçã oferecida pela deusa Discórdia à mais bela – assumiu grande sofisticação, acompanhada de alguma graça e humor, o que justifica ser acrescida à Mais 47 cenas
A mãe apreciava a música erudita (o pai nem tanto, preferia o tango). Gostava dos clássicos, Bach, Mozart, Brahms, Chopin, mas Beethoven era um deus, acima de tudo e de todos. E era bastante razoável o senso crítico desenvolvido por ela, às vezes surpreendente:
     – A obra para piano de Chopin é magistral, mas os dois concertos para piano pecam pela fraca orquestração.
            Era peculiar a crítica que ela fazia a Villa-Lobos: adorava as Bachianas, não suportava sua música de câmera. Chamava de “barulhentos” os quartetos para cordas do ilustre brasileiro.
            Até que um dia, para espanto geral, o pai saiu-se com esta:
            – Fulano (não me recordo do nome) afirmou que os quartetos para cordas de Villa-Lobos estão acima de até mesmo dos quartetos de Beethoven.
            Não posso imaginar de onde o pai tirou tal ideia, já que não costumava interessar-se pelo assunto, mas a afirmação caiu como uma bomba, pois ao mesmo tempo que enaltecia os quartetos de Villa-Lobos, depreciava Beethoven, o que era realmente ofensivo.
            Cizânias.
            

Ainda sobre o hífen



REFORMA ORTOGRÁFICA: Hífen - prefixação
O caso dos prefixos e falsos prefixos
Márcia Lígia Guidin*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
COM PREFIXOS OU FALSOS PREFIXOS
PREFIXOS
OU FALSOS
PREFIXOS
REGRAS
EXEMPLOS
OBSERVAÇÕES;
SAIBA MAIS 
Vogais iguais
1. Usa-se o hífen quando o prefixo e o segundo elemento juntam-se com amesma vogal.
anti-ibérico,
auto-organização,
contra-almirante,
infra-axilar,
micro-ondas,
neo-ortodoxo,
sobre-elevação,
anti-inflamatório.
Mas os prefixos coproprere se juntam ao segundo elemento, ainda que este inicie pelas vogais o ou ecoocupar, coorganizar, coautor, coirmão, cooperar, preenchimento, preexistir, preestabelecer, proeminente, propor reeducação, reeleição, reescrita
Vogais diferentes
2. Não se usa o hífen quando os elementos se unem com vogais diferentes.
autoescola, autoajuda, autoafirmação, semiaberto, semiárido, semiobscuridade, contraordem, contraindicação, extraoficial, neoexpressionista, intraocular, semiaberto, semiárido.
Consoantes iguais
3. Usa-se o hífen se a consoante do final do prefixo for igual à do início do segundo elemento. 
inter-racial,
super-revista,
hiper-raquítico,
sub-brigadeiro.
Se o segundo elemento começa com sr
4. Não há hífen quando o segundo elemento começa com s ou r; nesse caso, duplicam-se as consoantes. 
antirreligioso, minissaia, ultrassecreto, ultrassom. 
Porém, coforme a regra anterior, com prefixos hiper, inter, super, deve-se manter o hífen:
hiper-realista,
inter-racial,
super-racional,
super-resistente
Se o segundo elemento começa com hmn, ou com vogais
5. Usa-se o hífen: se o primeiro elemento, terminado em m ou n, unir-se com as vogais ou consoantes hm ou n.
circum-murado,
circum-navegação,
pan-hispânico,
pan-africano,
pan-americano.
Ex, sota, soto, vice
6. Usa-se hífen com os prefixos: exsotasotovice
ex-almirante,
ex-presidente,
sota-piloto,
soto-pôr,
vice-almirante,
vice-rei.
Escreva, porém, sobrepor
Pré, pós, pró 
7. Usa-se hífen com os prefixos pré, pós, pró (tônicos e acentuados com autonomia). 
pré-escolar,
pré-nupcial,
pós-graduação,
pós-tônico,
pós-cirúrgico,
pró-reitor,
pró-ativo,
pós-auricular.
Se os prefixos não forem autônomos, não haverá hífen: predeterminado, pressupor, pospor, propor.
O prefixo termina em vogalou r e b e o segundo elemento se inicia com h
8. Usa-se o hífen quando o prefixo termina em rb ou vogais e o segundo elemento começa com h.
anti-herói,
inter-hemisférico,
sub-humano,
anti-hemorrágico,
bio-histórico,
super-homem,
giga-hertz,
poli-hidratação,
geo-história.
A) Mas as grafias consagradas serão mantidas: reidratar, desumano, inábil, reabituar, reabilitar, reaver.
B) Se houver perda do som da vogal final, prefere-se não usar hífen e eliminar o hcloridrato (cloro+hidrato), clorídrico (cloro+hídrico). 
Sufixos de origem tupi
9. Usa-se o hífen com sufixo de origem tupi, quando a pronúncia exige distinção dos elementos.
Anajá-mirim,
Ceará-mirim,
capim-açu,
andá-açu,
amoré-guaçu.
Este quadro está apoiado nas obras:
BECHARA, Evanildo. O que muda com o Novo Acordo Ortográfico. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2008.
INSTITUTO ANTÔNIO HOUAISS. Escrevendo pela Nova Ortografia. Rio de Janeiro/São Paulo, Houaiss/Publifolha, 2008.
GOMES, Francisco Álvaro. O acordo ortográfico. Porto, Porto Editora, 2008.