segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Trancoso

 

Trancoso era um homem chucro.  Chucro é pouco, era rude bruto burro bravo agreste arisco arrua feroz indócil indomável labrusco montês proceloso sáfaro selvagem beócio besta boçal bronco desalumiado estúpido néscio nulo toupeira e tudo o que de pior haja. Mas tinha um bom coração.

            Criança pequena, o pai dele já se admirava, Trancoso pode estar com gripe, tosse, catarrento, febre alta, mas a fome ele não perde, alardeava o pai. Doentinho, mesmo assim batia o pratão que a mãe lhe preparava, sem se importar com o de comer: gostava de um tudo. E muita vez, repetia. Sarava logo, pudera.

            Cresceu bruto e se casou com a melhor cozinheira da cidade. Dorinha era boa moça, educada, com algum estudo, arranhava o inglês, e se encantou com a ingenuidade de Trancoso, bondade escondida num vão da alma, que só ela viu, a despeito da rudeza, da brutalidade, da selvageria, e pensou – como pensam muitas mulheres –, que poderia domá-lo. 

E domou.

            Dorinha domou Trancoso com a ajuda de Veludo, lindo pastor alemão, cachorro inteligente, afetuoso, valente, que se tornou verdadeiro filho para Trancoso. O homem se desmanchava diante do cão, sempre limpo, de banho tomado toda semana, pelo escovado brilhante, às custas da melhor ração para a raça, o peso bem controlado.

            Viviam felizes, os três. Trancoso ganhou reputação como mestre de obras, disputadíssimo na região; Dorinha, professora do fundamental em escola particular, respeitada pelos colegas e querida pelos alunos; Veludo, zeloso, tomava conta da casa.

            Dorinha pôde observar com o passar dos anos aquilo que o sogro havia profetizado: o marido não perdia a fome por nada desse mundo. Não raro surgia problema com uma obra, ora reclamação do arquiteto ora do proprietário ora do fiscal da Prefeitura, tudo caía nas costas do mestre de obras, que a corda arrebenta sempre... Trancoso embrabecia, rugia por dentro, descontava nos serventes, que a corda... Ao final do dia entrava em casa besta-fera bruto cuspindo fogo, logo apagado por Dorinha, mulher inteligente, sabedora dos humanos sentimentos. Como ela conseguia, um mistério. Na hora do jantar, a comida cheirosa, bonita, gostosa como só Dorinha sabia fazer. Por nada desse mundo, Trancoso nunca perdeu o apetite!

Ele era muito apegado ao pai, que morreu aos 73 anos; Trancoso inconsolável chorava dia e noite, só parava na hora das refeições, e raspava o prato antes de voltar a chorar. Dois anos depois perdeu a mãe e foi a mesma coisa, um chororô sem fim, com intervalos para as refeições. Dorinha intrigada, sem explicação, permanecia em silêncio. Era o jeito dele.

            Até que Veludo morreu. Morreu de velho. Aí Trancoso desabou, chorou mesmo de verdade, desesperado de dor funda, dor na alma, insuportável, rasgando tudo, tanto amor que ele tinha pelo animal. Perdera um amigo.

            Chegada a hora do almoço, Dorinha botou a comida na mesa, ressabiada fez o prato do marido, arroz, feijão-temperado-com-orelha-de-porco, bife-acebolado, ovo-frito, farofa-de-cebola-queimada, tomate-picado, três-gotas-de-malagueta. Trancoso sentou-se à mesa, bateu o pratão.

            A comida de Dorinha havia perdido o gosto.

 

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Louça e sobremesa

Meus quadros favoritos


Kenne Grégoire (1951- ) 

Pintor e escultor holandês, Neorrealismo

Gato transformado em mulher

Meus quadros favoritos,

para Cecília. 



Marc Chagall, 1928


2020

Charge do dia 


Kleber

Água funda



 

Começo a leitura de Água funda, de Ruth Guimarães, com prefácio de Antonio Candido e capa de Tarsila do Amaral (Ed. 34, 2018). O lançamento original do livro ocorreu em 1946.

            Interrompo a leitura logo na segunda página, leio releio embasbacado a prosa poética de Ruth Guimarães, que aqui transcrevo, na forma de poesia:

 

“Que frio! Sentiu?

É a morte.

Passe, morte, que estou bem forte.”

 

            E a prosa continua lindamente.

 

 

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Pobres palavras

 

“Palavras e expressões que precisamos parar de falar!” Esta é a ordem do dia, no combate ao racismo no Brasil. 

    Mulata é uma delas, que pena! Gosto tanto da expressão mulata sestrosa! Vejamos o que diz o Dicionário Informal:

 "Significado de Sestrosa (adjetivo):  Diz-se de pessoa sensual, graciosa, pessoa maneira, bonita, encantadora, cativante. Pessoa que reúna todas essas qualificações."

Ex.: “Morena sestrosa a caminhar pela ladeira, que me encanta o olhar.”

            Mas está proscrita, pois a palavra se refere à mula, originada do cruzamento de burro com égua. Como as escravas eram abusadas pelos patrões, homens brancos, os filhos que resultavam daqueles relacionamentos eram chamados de mulatos. 

 

            O verbo Denegrir está completamente proibido!  O Aurélio informa que  “denegrir” é  apenas “tornar negro, escurecer”. E isso já é racismo, naturalmente.

             Lista negra, Mercado negro, Da cor do pecado, Criado-mudo, Doméstica, Inveja branca, essas e tantas outras estão banidas de nosso vocabulário. Por ordem de quem? Daqueles que pensam que evitando tais vocábulos estaremos combatendo o racismo entre nós.

 

            O gambito da rainha, série apresentada pela Netflix, faz estrondoso sucesso entre nós, reavivando o interesse pelo xadrez, particularmente entre as mulheres. Os que ainda não sabiam, devem ter observado que no jogo de xadrez as brancas sempre dão início à partida!

            Que preconceito é esse, minha gente?

            Por que as brancas detêm tal privilégio, manifestação escancarada de racismo? Por acaso são superiores às pretas?

            Proponho imediata mudança na regra do jogo: antes de cada partida, se fará sorteio para escolher quem dará início, se as pretas ou as brancas. Um segundo sorteio indicará com que pedras cada jogador disputará a partida. Fora isso, é racismo puro.

            E tenho dito!

A Origem das Espécies




Em 24 de novembro de 1859 finalmente foi publicada "A Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural", do naturalista britânico Charles Darwin, um marco definitivo para a Ciência, e por que não, para a História da Humanidade. 

Mais dois anos?

 

Está sendo criada uma frente ampla da sociedade contra os delírios kafkianos de Bolsonaro? Esta é a animadora manchete da crônica assinada por Juan Arias para El País de ontem (24 nov 2020).

Arias faz afirmações incomuns e francas no noticiário nacional:

1. “Os partidos políticos já falam abertamente em começar a criar uma frente ampla contra o bolsonarismo.”

2. “Talvez o mais importante seja que está se organizando ao mesmo tempo essa frente plural por parte da sociedade que pede a saída de um presidente que a cada dia atenta contra as essências deste país.”

3. “Saia, já!”, é uma das frases mais escutadas sempre que Bolsonaro lança uma de suas barbaridades kafkianas, destrutivas e alimentadoras de ódio entre os brasileiros. A última foi a negação descarada de que no Brasil existe racismo.” 

4. “O último exemplo foi seu desastroso discurso ao G20, a reunião dos países mais importantes do mundo economicamente. Enquanto o país chorava pela brutal execução do negro João Alberto Silvério de Freitas, de 40 anos, pelos seguranças brancos de um Carrefour, Bolsonaro, sem uma palavra de repúdio ao crime cometido à luz do dia diante dos clientes atônitos, negou que exista racismo no Brasil e que o problema é que existem “brasileiros bons e brasileiros maus”.

5. “Seu [do Bolsonaro] negacionismo da realidade que está diante dos olhos de todos é patológico.

6. “O kafkiano, que abunda na política de Bolsonaro, como bem explicou em um ensaio o médico, psiquiatra e psicanalista argentino, radicado na Espanha, Eduardo Braier, está estreitamente ligado “ao funesto”, a “elementos persecutórios”, à “angustiosa negatividade”, ao “desassossego e ao desespero”.

7. “E que este é um país de maricas e de covardes cheios de ódio.”

 

Depois de apresentar visão tenebrosa do governo atual, resumida na expressão “delírios kafkianos” do presidente, Arias afirma que “A sociedade brasileira começa a se cansar das loucuras calculadas e negativistas de Bolsonaro e se sente cada vez mais envergonhada de que a nação esteja nas mãos de um presidente que, apesar dos freios colocados pelos generais de seu Governo, é como um cavalo descontrolado cujas limitações, como ensina a psicologia, o levam a superar-se dia após dia em seus julgamentos arrogantes e negativos sobre este país que começa a perder a paciência e a se sentir humilhado dentro e fora do país. “Aqui quem manda sou eu”, repete como um mantra dos complexados.” 

Arias pergunta: “...será possível aguentar mais dois anos de descalabro político e social ao que o bolsonarismo está submetendo o país enquanto a educação está sendo atacada e humilhada, a cultura envergonhada e as relações internacionais prostituídas?” Porém, ele não apresenta resposta clara para esta questão; apenas apela para as “instituições democráticas do Estado”, para “usar o poder que lhes é concedido pela Constituição”. Ou esperar pelo resultado das urnas em 2022.

A nação, as instituições democráticas, nossa gente chamada de maricas, estamos todos atônitos diante do cavalo descontrolado.

 

 

https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-11-24/esta-sendo-criada-uma-frente-ampla-da-sociedade-contra-os-delirios-kafkianos-de-bolsonaro.html

 

sábado, 21 de novembro de 2020

Conciso

 

Tornou-se tão exímio em microcontos que agora só se expressava com monossílabos.

Quem foi Paulo Leminski?

 



Quem foi Paulo  Leminski? 

O garoto que descobriu ser poeta aos sete anos ou o bandido que sabia latim? 

O judoca faixa preta, filho de militar ou o mestiço parceiro dos Novos Baianos no Solar da Fossa?

O carismático boêmio sem limites ou o pai de família amoroso e preocupado? 

Leminski foi esses todos. Viveu suas vidas com fome e pressa. Seus sonhos eram dirigidos por cineastas americanos. Aprendeu hebraico para ler a bíblia e japonês para entender o zen budismo. Escreveu biografias e investigou o sucesso de Jesus, o idealismo de Trotsky e a graça concisa do Haicai.

Foi vanguardista, concretista, tropicalista, marginal e Leminski. Musicou seus poemas enquanto distribuía versos para as canções da MPB. De Ney Matogrosso a Caetano, de Itamar Assunção a Moraes Moreira, todos queriam beber da fonte do poeta que encarnou o espírito do seu tempo.

Na volta a Curitiba, manteve a casa e o coração sem portas. O polacolocopaca tornou a cidade madrasta mais doce. Caneta, guardanapo, óculos e bigodes atentos, vinte quatro horas por dia, e um pouco mais. 

Paulo Leminski foi, antes e acima de tudo, um poeta. Usou os idiomas, o judô, a música, a vodca e os sonhos para equipar sua linguagem. Queria poder dizer tudo em forma de poesia. Inventou, então, uma nova forma de escrever. 

O rigor desleixado e a anarquia calculada de suas poesias curtas desconstroem e revelam brincando. Desautomatizam trocadilhos e ditados populares num “golpe único e perfeito, sem hesitar diante da intuição”, como um mestre de arte marcial, como um Zico. 

Aos quarenta e quatro anos Leminski “partiu da embriaguez de viver, para o sonho de outras esferas”.  Sofrer foi a obra que fez questão de viver até o fim. Feriu-se de morte com a própria espada, como um samurai de bigodes longos que decide a sua hora.

            “Criar beleza com linguagem é inato, é um erro de programação genética”. Quando um poeta morre antes da hora, leva com ele o dicionário do seu tempo. Leminski deixou órfãs de palavras a sua geração e mais outras três à frente. A inutilidade dos poetas é imprescindível.

 

                                                Moisés Lobo Furtado 18/11/2020

Isso precisa acabar

 


Lady entre dois escravos

Isso precisa acabar!


Fotógrafo desconhecido, cerca de 1860.


https://artsandculture.google.com/asset/lady-in-litter-with-two-slaves-ba-brazil-unidentified-photographer/JAFJAOWXynvx7g


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Homenagem ao Dia da Consciência Negra



José Correia de Lima (1853)


Retrato do intrépido marinheiro Simão, 

carvoeiro do vapor Pernambucana

 

 

Museu Nacional de Belas Artes
Rio de Janeiro, Brasil

 

 https://artsandculture.google.com/asset/_/zgH-IM4NIEf8Hg




"José Correia de Lima (Rio de Janeiro, 1814 - 1857) foi um pintor acadêmico brasileiro.

Matriculou-se na Academia Imperial de Belas Artes em 1826 ou 1827, sendo aluno de Debret em Pintura Histórica, e de Grandjean de Montigny em Arquitetura. Substituiu Debret em 1837, e em 1840 substituiu Manuel de Araújo Porto-Alegre.

Na Exposição Geral de Belas Artes de 1840 recebeu medalha de ouro e, na exposição seguinte, o hábito da Ordem de Cristo no grau de Cavaleiro, pela tela Magnanimidade de Vieira. Participou do certame também nos anos 1845, 1846, 1848 e 1850. Foi mestre de Victor Meirelles.

De suas obras, as mais conhecidas são o retrato da Imperatriz Teresa Cristina, hoje no Museu Imperial de Petrópolis, o Retrato do Marinheiro Simão, o Carvoeiro, e Francisco Manuel ditando o Hino Nacional às suas Enteadas, ambas no Museu Nacional de Belas Artes.

Uma fonte dá como seu local de nascimento Minas Gerais." 

 

https://pt.wikipedia.org/wiki/José_Correia_de_Lima

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

O sal da vida

 Fotografia e Natureza morta



O sal da vida



Foto: AVianna, nov 2020
iPhone 11 Pro

Moisés brilha outra vez!


O maior microcontista do mundo


Receba

 

Perca sua memória em paz. É o melhor que pode lhe acontecer agora.

 

 

 

Pequenez

 

Divirto-me com a prepotência de Ully, minha cadelinha. Deus deve dar gargalhadas de mim.

 

 

 

Tic-tac

 

Meu corpo é um relógio. Marca as horas por onde andei e tenta, inutilmente, me mostrar que um dia vai parar.

 

 

 

Garoto

 

O prazer de ganhar o primeiro relógio se confundia com o medo de que alguém lhe perguntasse as horas.

 

 

 

Apego

 

Não consigo finalizar meus escritos. Eles é que se livram de mim.

 

 

Moisés Lobo Furtado,

para gáudio deste blogueiro.

Erro desumano

 


Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello 

Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

 


A reportagem de Julia Lindner para O Globo (18 nov 2020) traz informação estarrecedora, porque impensável a “retratação” do Ministério da Saúde sobre a importância do isolamento social e a ausência de qualquer medicação no tratamento da Covid-19. 

            Eis a nota:

 

“BRASÍLIA - O Ministério da Saúde classificou como "erro humano" a publicação feita mais cedo em defesa do isolamento social como principal medida de combate ao novo coronavírus. No texto, que acabou apagado, a pasta reconhecia a inexistência de remédios que previnam ou acabem com a Covid-19, o que contraria o discurso do presidente Jair Bolsonaro. O ministério alega agora que as informações estavam equivocadas e por isso foram deletadas.

Em nota, pasta defendeu tratamento precoce para a Covid-19, mas reconheceu que ainda não há "solução efetiva" que evite risco de contágio.”

 

            Em resumo, o MS lançou nota informando duas verdades: a importância do isolamento e a ausência de tratamento eficaz contra a doença. Em seguida apaga o texto e alega que houve erro humano na publicação! (Estou sendo repetitivo, eu sei, mas é tão difícil de acreditar que preciso repetir, para que eu mesmo possa compreender.)

            Quem será o autor do tal erro humano? (Se não fosse humano, de quem mais poderia ser? De algum lobisomem que habita o ministério?) Algum funcionário cochilou e a verdade vazou? Ou foi o próprio ministro quem escorregou, em lampejo de coragem e honestidade? (Não seria a primeira vez...)

            O erro desumano é do próprio Presidente da República, garoto propaganda da cloroquina, negacionista contumaz, que costuma humilhar subalternos, mesmo que se trate de ministros designados por ele próprio, obrigando-os a desmentir eventuais verdades.

            Mas não vou atacar aqui o Presidente. O parágrafo inicial da crônica de Mario Serio Conti,  O Amapá de hoje será o Brasil de amanhã se o Cavalão não for detido, para a Folha de São Paulo (13.nov.2020), é imbatível: descreve com precisão quem governa o país. Ei-lo, o parágrafo:

 

“O presidente é aquilo que a sua camarilha da caserna dizia: um Cavalão com maiúscula. Cavaleiros da elite quiseram botar-lhe cabresto e tomaram coices. Arisco, ele relincha e baba fel nos que tentam ajudá-lo. É uma besta.

Besta fera política, um quadrúpede da extrema direita. Não adianta tomá-lo por interlocutor. Mesmo xingá-lo é inócuo. O bate-boca é o pasto no qual empapa a pança.

Não admitiu a derrota de Trump? Danem-se os dois. Disse que os brasileiros são maricas? Afe, está inseguro da sua macheza. Vai bombardear os Estados Unidos? Que se exploda.

É de caso pensado que ele bate os cascos no asfalto e provoca faíscas. Acha que as centelhas da idiotice disfarçam o tropel trôpego do seu desgoverno.”

 

            Depois de Conti, dizer mais o quê?

 

 

https://oglobo.globo.com/sociedade/ministerio-da-saude-diz-que-publicacao-favor-de-isolamento-social-foi-erro-humano-1-24754158

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/mariosergioconti/2020/11/o-amapa-de-hoje-sera-o-brasil-de-amanha-se-o-cavalao-nao-for-detido.shtml

 

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Esgotamento do ego

 


Thomas Lerooy

 

A segunda onda está confirmada, não só na Europa como também nos Estados Unidos, e parece que agora chega ao Brasil. 

Fala-se no clima: a aproximação do inverno é a explicação mais fácil para o recrudescimento da peste na Europa; pessoas confinadas em ambientes fechados, isso favoreceria o contágio. Porém, China, Taiwan, Coreia do Sul mantêm a doença sob controle, apesar do clima frio. 

Hipótese plausível é aventada por Hélio Schwartsman em sua crônica de hoje para a Folha de S. Paulo (18 nov 2020), a do “esgotamento do ego, um nome pomposo para cansaço. As pessoas conseguem manter-se disciplinadas, mas não indefinidamente. A força de vontade tem limites.” Viagens de férias, festas, vida noturna são manifestações de esgotamento do ego, responsáveis pela tal segunda onda, o que parece estar acontecendo em São Paulo.

O psicólogo Roy Baumeister afirma que “o autocontrole funciona como um músculo, sujeito a episódios de fadiga, mas que também pode ser fortalecido por exercícios.” 

Schwartsman recomenda o autocontrole, o que estão conseguindo na Ásia, já que a vacinação em massa ainda vai demorar. Pergunto: como exercitar o autocontrole se o ego está esgotado?

Confesso – eu não devia reclamar –, ando esgotado desse isolamento social. Sinto falta de conversar com meus amigos, de ir à livraria, ao cinema, ao restaurante japonês, sinto falta dessas coisas banais da vida cotidiana, como fazer compras no supermercado perto de minha casa, onde conheço todo mundo, converso com os empregados, com a caixa minha amiga, e penso que não é pedir muito. Trata-se apenas de se sentir vivo.

Observo minhas emoções e sentimentos; a tristeza me abate com certa frequência (não se trata da doença chamada depressão, nada disso, tristeza é outra coisa); preguiça, coisa que nunca tive, me ataca ainda pela manhã – vontade de fazer nada; o ato de escrever se torna mais difícil e posso reconhecer o esforço adicional de que necessito para elaborar este pobre texto; pequenos afazeres domésticos, como voltar com os livros consultados para suas respectivas prateleiras, exigem de mim esforço hercúleo, para desespero de minha mulher; a louça do café da manhã precisa ser lavada e pesa uma tonelada.

Shakespeare, em Hamlet, vem em meu auxílio, com um alerta: 

 

“Dormir... talvez sonhar: eis onde surge o obstáculo:

pois quando livres do tumulto da existência,

no repouso da morte os sonhos que tenhamos

devem fazer-nos hesitar: eis a suspeita

que impõe tão longa vida aos nossos infortúnios.”

 

Me ajudam nesse tumulto da existência a escrita, a boa leitura, a música – sobretudo os Noturnos de Chopin –, os exercícios físicos. A TV apenas colabora para o embotamento. Será que o ego esgotado pede mesmo o embotamento? Talvez.

E ainda me pedem autocontrole! Puta que o pariu!

 

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2020/11/segundas-ondas.shtml

 

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Paula fala bravo!

Galeria de Família 


Sobre o que estarão conversando estas duas irmãs? Paula tem um copo de batida na mão esquerda, quase seco. Aponta o indicador, fecha a cara, fala alguma coisa muito grave. Ciça ouve atentamente, sem interromper a irmã!

Foto: AVianna, Primeiro de Janeiro de 2017, jardim da casa 12.

Ofir e Shaun

Galeria de Família



Não faço ideia de onde a foto, nem quando, foi batida. Quem sabe Shaun pode informar? Provavelmente na Inglaterra.

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Fotografia e natureza morta

 

A fotografia, tanto quanto a pintura, se serve do tema Natureza Morta, há séculos utilizado pelos grandes mestres da pintura. 

            Rápida pesquisa na Internet revela dois tipos de naturezas mortas em Fotografia. O primeiro se constitui de fotos de pinturas com este tema, o que não me agrada, pois me parece não haver criatividade alguma por parte do fotógrafo. Ele apenas copia. O segundo revela fotos sobre o tema, com arranjos criados pelo próprio fotógrafo, que passa então à qualidade de artista.

            Como ilustração, mostro a belíssima fotografia de Rein Janssen (Adobe stock).

 


Rein Janssen 


            As demais fotografias – na realidade, experimentações – são de autoria deste blogueiro.

 

 


Folha e mariposa



Bule branco



Moedor



Bolhas



Bule verde



Chapéu sobre cadeira
Autoria de Paulo Sergio Viana




Pão e pitaia




Polvo na brasa




Proporções / Limão siciliano




Infância



Sobremesa



Tonalidades


Tonalidades

As cigarras cantam em mim menor.



Overdose

O exame toxicológico revelou elevada concentração de consciência no sangue da paciente, que persiste em coma.



Alarma


Quando o nível de tristeza atingir a linha vermelha, quebre o vidro.



Wireless

Meus filhos me disseram que o google e o wifi são fenômenos da natureza. Da luz elétrica e da água de torneira eu já sabia.



Fluxo

No reencontro após tantos anos, a cachoeira tentou imaginar quanto sangue passou pelo coração do turista.


                                   Moisés Lobo Furtado,
                                   Colaborador assíduo deste blog!

domingo, 15 de novembro de 2020

Contrabando


 


In Antologias de antologias, Magaly T.Gonçalves et al., Musa editora, 1995.

Naturezas Mortas


“Natureza-morta é um tipo de pintura e fotografia em que se veem objetos inanimados, como frutas, louças, instrumentos musicais, flores, livros, taças de vidro, garrafas, jarras de metal, porcelanas, dentre outros objetos. Se refere à arte de pintar, desenhar, fotografar composições deste gênero. 

          Na arte contemporânea, é frequente se utilizar, ainda, outros suportes para estas representações de objetos inanimados, como a escultura, instalação e a videoarte, como referências à história da arte.

          Esse gênero de representação surgiu na Grécia antiga, e também se fez presente em afrescos encontrados nas ruínas de Pompeia. 

          A denominação natureza-morta surgiu na Holanda no século XVII, nos inventários de obras de arte. A expressão competiu durante algum tempo com natureza imóvel e com representação de objetos imóveis no século XVIII.”

          Entre os grandes pintores, Caravaggio é considerado dos primeiros a pintar naturezas mortas. A primeira imagem a seguir é dele, e famosíssima!


https://pt.wikipedia.org/wiki/Natureza-morta

 

          Eis algumas das minhas preferidas, que revelam as mudanças ocorridas ao longo de cinco séculos na composição das naturezas mortas:



Michelangelo Meriti Caravaggio (1571-1610)




Joachim Beuckelaer (1533-1574)




Panfilo Nuvulone, 1620



Pieter Claesz, 1627



Rembrandt van Rijn, 1639



Jean Siméon Chardin, 1737



Vincent van Gogh, 1888



Almeida Júnior(1850-1899)



Paul Cézane, 1894



Piet Mondrian, 1901



Helen Augusta Hamburger, 1910



Pablo Picasso, 1925 



René Magritte, 1935



Martiros Saryan (1880-1972)



Andy Warhol, 1962


Aldemir Martins, 2003



Lucy Citti Ferreira (2011-2008)