sábado, 21 de novembro de 2020

Quem foi Paulo Leminski?

 



Quem foi Paulo  Leminski? 

O garoto que descobriu ser poeta aos sete anos ou o bandido que sabia latim? 

O judoca faixa preta, filho de militar ou o mestiço parceiro dos Novos Baianos no Solar da Fossa?

O carismático boêmio sem limites ou o pai de família amoroso e preocupado? 

Leminski foi esses todos. Viveu suas vidas com fome e pressa. Seus sonhos eram dirigidos por cineastas americanos. Aprendeu hebraico para ler a bíblia e japonês para entender o zen budismo. Escreveu biografias e investigou o sucesso de Jesus, o idealismo de Trotsky e a graça concisa do Haicai.

Foi vanguardista, concretista, tropicalista, marginal e Leminski. Musicou seus poemas enquanto distribuía versos para as canções da MPB. De Ney Matogrosso a Caetano, de Itamar Assunção a Moraes Moreira, todos queriam beber da fonte do poeta que encarnou o espírito do seu tempo.

Na volta a Curitiba, manteve a casa e o coração sem portas. O polacolocopaca tornou a cidade madrasta mais doce. Caneta, guardanapo, óculos e bigodes atentos, vinte quatro horas por dia, e um pouco mais. 

Paulo Leminski foi, antes e acima de tudo, um poeta. Usou os idiomas, o judô, a música, a vodca e os sonhos para equipar sua linguagem. Queria poder dizer tudo em forma de poesia. Inventou, então, uma nova forma de escrever. 

O rigor desleixado e a anarquia calculada de suas poesias curtas desconstroem e revelam brincando. Desautomatizam trocadilhos e ditados populares num “golpe único e perfeito, sem hesitar diante da intuição”, como um mestre de arte marcial, como um Zico. 

Aos quarenta e quatro anos Leminski “partiu da embriaguez de viver, para o sonho de outras esferas”.  Sofrer foi a obra que fez questão de viver até o fim. Feriu-se de morte com a própria espada, como um samurai de bigodes longos que decide a sua hora.

            “Criar beleza com linguagem é inato, é um erro de programação genética”. Quando um poeta morre antes da hora, leva com ele o dicionário do seu tempo. Leminski deixou órfãs de palavras a sua geração e mais outras três à frente. A inutilidade dos poetas é imprescindível.

 

                                                Moisés Lobo Furtado 18/11/2020

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