Folhetim
Primeiro encontro
Duas vezes ao ano, no início de fevereiro e de agosto, Bráulio Tobias de Sousa Mello, professor de literatura na FALESP, oferece ao público em geral sua Oficina de Escrita Criativa, conhecida como a Oficina do Tobias. As vagas são limitadas a 20 participantes – Tobias não admite os termos aluno, aprendiz e congêneres, pois gosta de enfatizar que de repente aparece alguém com criatividade tão exuberante, alguém que pode ser o professor de todos, inclusive dele mesmo, então ninguém ali é aluno e por consequência ninguém é professor. (Humildade e ousadia, título para romance tipo Jane Austen.)
Vagas limitadas, inscrição caríssima, mesmo assim vem gente de todo o país para a tão festejada imersão em literatura e criatividade, na esperança que surjam novos e talentosos escritores, sonho de cada um dos participantes.
Tobias criou interessante sistema de seleção de candidatos, ao qual se aferra sem exceções, pois julga que acima de tudo está o interesse, a determinação, a obsessão mesma do candidato pela preciosa vaga. Em seu blog Estudos sobre Literatura, ele abre as inscrições para a oficina sem aviso prévio, sem hora marcada, nos primeiros dias de fevereiro e agosto, geralmente nas horas mortas de uma madrugada qualquer, e assim que surgem os 20 primeiros inscritos o processo é sumariamente encerrado. Os candidatos passam noites em claro, ligados no blog do Tobias, na expectativa da abertura (e fechamento) das inscrições, verdadeiro pesadelo em vigília.
Quem entrou entrou quem não entrou não entrou! exclama Tobias, e publica a frase no blog, na sessão de microcontos, e ri! Ele gosta tanto da frase que ela se tornou o tema do primeiro encontro – não admitia a palavra aula, pois ali não havia alunos nem professor, repetia incansavelmente. Valorizava a repetição das palavras no texto literário e recriminava o uso desnecessário da vírgula. Mas voltaremos a isso mais adiante.
Os escolhidos sentem-se orgulhosos e privilegiados diante da retumbante frase de Tobias, que lhes serve de estímulo para o início dos trabalhos, mas o coordenador não deixa por menos, provoca em seguida, Será que o leitor há de gostar disso? pergunta a Josíres, arquiteto, 45 anos, natural e residente em Campinas, SP, homossexual declarado de modo mais ou menos ostensivo desde o primeiro encontro, rígido e fiel seguidor das regras gramaticais, apreciador da literatura clássica, Eu não gosto muito, Senhor, para que repetir se posso utilizar uma infinidade de sinônimos e correlatos, Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, rebateu Tobias, enfático, e não me chame de Senhor, meu nome é Tobias, sem acompanhamentos, desde que nasci, lá se vão 65 anos.
Portanto, este será o exercício de hoje, escrever um texto repetindo certas palavras, repetindo de forma a fazer algum sentido, não simplesmente repetir por repetir, de modo a despertar o interesse e a curiosidade do leitor.
Lembrem-se, a FORMA é tudo; o conteúdo fica por conta da imaginação de cada um. Escrevam. Escrevam com total liberdade. Aqui nada é proibido, xinguem se for preciso, não há palavras proibidas, a única exigência desta oficina é escrever. Não há limites para a extensão do texto, importante é a qualidade da escrita, sua originalidade, o desejo de se aprimorar através da escrita.
Até amanhã. Tenham um bom dia.
Muito bom! Ansiosa pela continuação...
ResponderExcluirGrande começo! Prosa fluente, interessante, natural, a suscitar curiosidade pelo capítulo seguinte. E o tema, ótimo! Vamos ver aonde vai dar.
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