Em seu artigo Partos ideológicos, para a Folha de S.Paulo (28.jun.2019), Hélio Schwartsman pergunta se a “cesariana sem indicação médica é, afinal, um direito da mulher ou um crime contra a saúde pública?” O texto é interessantíssimo, como quase tudo que o articulista escreve. Mas o que me interessou mesmo foram algumas análises sobre ideologia.
Afirma Schwartsman: “Ideologia é um troço esquisito. Ela está sempre em busca de novos temas, que levem as pessoas a posicionar-se mais em razão de lealdades de grupo do que de uma análise objetiva do problema.
Um caso bem documentado é o do aquecimento global. Até o fim dos anos 90, essa não era uma questão ideológica. Pesquisa Gallup nos EUA mostra que, em 1998, 47% dos eleitores republicanos e 46% dos democratas concordavam com a afirmação de que os efeitos do aquecimento global já se faziam sentir. Em 2018, os números eram 34% para os republicanos e 82% para os democratas.
Algo parecido está ocorrendo com outros temas científicos, como a vacinação e as cesarianas. ...Tomadas de decisão envolvem sempre um juízo de valor, que vai além das descrições oferecidas pela ciência.”
O que Schwartsman não escreveu, e que me interessa pensar sobre ideologias, é que, uma vez assumida determinada posição, o sujeito não muda mais. Ele é republicano para a vida toda, ou é democrata para a vida toda. É pior que torcedor de futebol: de time não se muda, o menino aprende na infância. Uma vez Flamengo, sempre Flamengo; o que serve para o Corinthians, Palmeiras, Vasco, etc.
Se o sujeito advoga certa crença religiosa, isso pode determinar sua aceitação ou ferrenha rejeição às vacinas, e não muda mais. (Quem sofrerá serão os filhos.)
Uma vez PT, sempre PT, por pior que seja o estrago, a corrupção, a desgovernança.
Muda o governo; a família imperial lança uma pedrada em nossa porta a cada dia; declarações disparatadas caem diariamente nas redes sociais; o fundamentalismo religioso assola o país; o Brasil torna-se motivo de escárnio aqui e no exterior. Porém, uma vez bolsonarista, sempre bolsonarista.
Trata-se de doença nacional, infecção pela ideologia.
Eu tenho um amigo que sempre afirmar detestar os "ismos".
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