Exercício cotidiano e permanente: abro Grande Sertão: Veredas em uma página qualquer, encontro trecho interessantíssimo, sempre, leio com enorme prazer, que desejo repartir neste blog.
O demônio é motivo de frequentes especulações em todo o livro, desde a primeira página, segundo parágrafo:
“Do demo? Não gloso. Senhor pergunte aos moradores. Em falso receio, desfalam no nome dele – dizem só: o Que-Diga. Vote! não... Quem muito se evita, se convive.”
No trecho em destaque o narrador começa a reparar no cão; aos poucos; não tira mais a ideia da cabeça; e de repente percebe que o demo era digno de pena e medo. Mas então ele recobra a lucidez: “Do demônio não se pode ter pena”; porque ele chega “manso mansinho”; mas logo vira o que realmente é, “dôido sem cura”, muito perigoso.
Lembro-me muito bem de uma jovem que certo dia me perguntou, provocadora, O senhor acredita no demônio?, ao que respondi de pronto, peremptório, Não, e ela estremeceu, e perguntou, O senhor não tem medo de dizer isso em voz alta, Não, respondi, Não acredito nele nem nos poderes dele, e ela estremeceu novamente, e calou-se. Anos depois, percebi que o temor pelo demônio havia diminuído nela. Desaparecido, não.
Abrir o grande sertão aleatoriamente pode tornar-se exercício diário para quem gosta de literatura e de pensar a vida.
Referência: Edição Comemorativa, Ed. Nova Fronteira, 2006, pg. 214.
A boa literatura é mar sem fim...
ResponderExcluirOi Andre, leio seu texto e sinto-me acompanhada. Tenho o hábito de abrir os livro aleatoriamente à espera da conversa com o autor. É sempre uma surpresa encantada. Mania de gente esquisita . Mas como diz nosso amigo Sergio, os esquisitos são os melhores.
ResponderExcluirLindo trecho do Rosa.
Esse livro é mesmo um assombro !
Um abraço
Muita gente esquisita nesse mundo. Ainda bem...
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