sábado, 22 de setembro de 2018

Corra Lola corra




Primeiro veio Camões, logo em seguida chegou Lola, mesma raça, Yorkshire terrier, de bom pedigree, marrom e preta, cores bem marcadas. Cresceu saudável, forte como uma leoa.
         Pouco maior que o macho, boa parideira, nos deu duas ninhadas, cinco filhotes na primeira, quatro na segunda, Camões o pai de todos eles – isto é certo. Os filhos que sobreviveram, hoje adultos e já com certa idade, estão espalhados por Brasília, um deles no interior de São Paulo. Nina Simone permanece conosco.
         Foram dezesseis anos de alegre companhia, esta a melhor característica de Lola, a alegria. Já bem mais velha, ao chegarmos em casa, ainda vinha Lola com uma bolinha de tênis na boca, pedindo para brincar. (Camões não brincava, era um filósofo.)
         Lola não gostava de crianças. Chegou mesmo a bater o dente – não era bem uma mordida – na bochecha de Gabriela, nossa netinha com três anos de idade, puro ciúme. Mas quando o rapaz entrou na sala para fazer uma entrega, ela pregou-lhe uma mordida na batata da perna que tirou sangue! (Eu não sabia onde me esconder de vergonha; preocupado com Dora lá fora, uma enorme e feroz mastim, descuidei-me de Lola, fiel guarda de nossa casa.)
         Amorosa ao extremo, Lola não gostava de colo, e com isso, nos ensinava a respeitar o jeito-de-ser do outro. Ela amava a seu modo.
         Lola é a perda de hoje. Já perdemos Dora, Berta, Lenda, Camões, e agora Lola. Quanto sofrimento, meu deus, mas não desistimos, cientes de que a vida é mesmo feita de perdas, desde que nascemos. Até na morte essas criaturas tão especiais, os cães,  nos ajudam, nos oferecem a dolorosa experiência de perder alguém muito querido, nos ensinam a aceitar o inevitável, e aprendemos, a duras penas, a suportar o sofrimento. (Esta singela crônica é um bom exemplo de escrita terapêutica. Ao escrever, penso: tristeza mais tristeza não gera necessariamente depressão, e sim uma enorme tristeza. É preciso vivê-la, para superá-la.)
         Há os que preferem não ter cães, para evitar esse sofrimento. Eles não sabem o que estão perdendo. Gosto de repetir que a presença do cão humaniza a família. Aprendemos muito com eles.
         Para nos consolar nesse dia de luto, temos Nina, Blimunda, Falena e Juliete, todas conscientes e igualmente tristes – não há dúvida quanto a isso –, com a morte de nossa querida Lola.
         Obrigado Lola, por sua alegre companhia. 
Corra Lola, corra! 

         

3 comentários:

  1. Tão ruim quanto uma perda de um cachorro é a experiencia de não poder mais ver o cachorro que tanto você ama, ou sei la hoje, amava, e que tanto te amava.Saber que ele também sofreu em não mais me ver, teve até "depressão canina", engordou, olhar de tristeza. Saber que ele está vivo e não poder chama-lo, preferi assim, melhor ela achar que eu morri, mais fácil para ele. Meu companheiro, no último ano em que estivemos juntos dormiu comigo todos os finais de semanas! Tenho noticias dele de vez em quando, e fico muito feliz em saber que se recuperou, está novamente sendo bem tratado, emagreceu, mas a saudade de seu olhar será inesquecível!

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  2. Lola tinha personalidade. Morreu estoicamente.

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