Manto da Apresentação
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tombou nesta quarta-feira o acervo de Arthur Bispo do Rosário. São 805 peças, estandartes, indumentárias, vitrines, fichários, móveis, objetos elaborados em diversos materiais, como vidro, madeira, plástico, tecidos, linhas, botões, gesso, muitos recolhidos do lixo e da sucata.
A reportagem é de Paula Autran, Gilberto Porcidonio e Nelson Gobbi (19/09/2018) para O Globo.
O tombamento inclui a cela em que Bispo do Rosário viveu e que mantém as suas intervenções.
“O sergipano Arthur Bispo do Rosário Paes era natural de Japaratuba, no interior do estado, onde nasceu em 1909. Foi marinheiro e boxeador de 1926 a 1932, e empregado doméstico no bairro de Botafogo no fim da década de 30. De acordo com os registros, ele teve seu primeiro surto de esquizofrenia em 1938, quando peregrinou por igrejas do Centro se dizendo um messias. Foi fichado e preso pela polícia, tendo sido conduzido, primeiramente, ao antigo Hospício Pedro II, na Praia Vermelha. Após um mês, foi conduzido à Colônia Juliano Moreira, lugar que se confunde com a sua arte, onde permaneceu por mais de 50 anos como o "paciente 01662", até sua morte, em 1989.”
Foi neste período que ele começou a produzir suas peças, como mantos, bordados e tiras de tecidos pasteis em que escrevia frases, poemas e manifestos, tudo feito com o que encontrava no lixo e na sucata do complexo manicomial.
"Qual a cor da minha aura?" era a pergunta que dirigia aos visitantes das celas de que tomava conta e onde guardava suas obras. Um dos destaques é o Manto da Apresentação, peça bordada que ele dizia ser a sua vestimenta para o Juízo Final.
Hoje, Bispo do Rosário é considerado um dos maiores expoentes da arte contemporânea brasileira e mundial. Após sua morte, teve sua primeira exposição individual, no Parque Lage, e peças expostas em São Paulo, Veneza, Lyon e no Victoria and Albert Museum, em Londres, entre outras cidades.
A impressionante expressão do inconsciente na arte.
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