O canto livre de Nara Leão é uma série documental recém produzida pela Original GloboPlay, de qualidade excepcional, que não pode deixar de ser vista por todos que viveram o início da Bossa Nova, e pelos que não viveram mas desejam conhecer aquele período fundamental da música popular brasileira. A magistral direção é de Renato Terra.
Os cinco episódios da série oferecem uma imagem quase completa de quem foi a mulher e a cantora Nara Leão (19 de janeiro de 1942 – 7 de junho de 1989), aquela que “não se deixava conduzir por nada nem ninguém”, nas palavras de Chico Buarque, compositor de destaque e amigo pessoal.
Dona de temperamento forte, a despeito da aparência (e da voz) frágil e timidez acentuada, ela tinha posições muito bem definidas tanto naquilo que desejava fazer como artista, quanto na participação da vida política do país. Nara enfrentou a ditadura militar como poucos, com desabrida coragem. Ela e os artistas da época acreditavam que podiam mudar o Brasil... e o mundo (!), através de suas participações culturais, em especial na música popular e no teatro.
Os cinco episódios da série se desenvolvem num ritmo quase lento, sem pressa,
com fotos raras da adolescência de Nara, com o áudio da primeira apresentação em público da cantora, em 13 de novembro de 1959, na Escola Naval, no Rio de Janeiro.
A sequência de pessoas entrevistadas transmite com extrema fidelidade o clima reinante no início do movimento mais importante da música brasileira, a Bossa Nova, do qual Nara foi considerada a musa. Tais entrevistas aconteceram com Chico Buarque, Edu Lobo, Fagner, Maria Bethânia, Marieta Severo, Nelson Motta, Paulinho da Viola, testemunhas da personalidade marcante de Nara Leão.
Depois veio o rompimento com a Bossa Nova, desencadeada pela desilusão amorosa com o então namorado Ronaldo Bôscoli. Em seguida veio o estrondoso sucesso de A banda, que Nara cantou em companhia do Chico no festival de 1966. Interessante a participação de Fagner, Dominguinhos (1941 – 2013), Sidney Miller (1945 – 1980) e Nelson Motta.
Quero que vá tudo para o inferno é o título do quarto episódio de série, quando Nara resolve gravar músicas de Roberto Carlos e Erasmo Carlos e provoca irada reação dos puristas defensores da chamada MPB. Há quem defenda a ideia de que a MPB teria começado com o primeiro LP da cantora, em 1964, com músicas de Baden Powell (1937 – 2000), Cartola (1908 – 1980), Nelson Cavaquinho (1911 – 1986) e Zé Kétti (1921 – 1999). Importante depoimento de Maria Bethânia revela a participação de Nara junto à Tropicália.
Fiz a cama na varanda é o quinto e sensacional episódio, quando os filhos de Nara – Isabel Diegues é consultora da série –, falam da mãe que recusava shows e entrevistas para ficar em casa em companhia dos filhos. Cacá Diegues, em depoimento emocionado, lembra que foi Nara quem o pediu em casamento e que decidiu ter filhos.
Os depoimentos de Roberto Menescal, presente em toda a série e com participação decisiva na vida e música de Nara Leão, e dos filhos Isabel e José Bial, que Nara teve com Cacá Diegues, encerram o documentário de forma extremamente emocional.
Só resta dizer que Nara não morreu! E que O Canto Livre de Nara Leão é imperdível!
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