Ao meu querido leitor Emerson
Não me canso de afirmar que não sou crítico musical; me faltam conhecimentos técnicos para tal. No entanto, gosto de registrar observações quase sempre sobre música erudita – que pretensão, meu deus! –, a música que costumo ouvir, irresponsavelmente. (Acontece que gosto muito de escrever.)
Sabemos que há duas eras com relação à forma Concerto para Piano e Orquestra: antes e depois de Beethoven. Não há necessidade de explicações técnicas para compreender tal afirmativa; basta ouvir e comparar. E acrescento, “antes e depois” não se restringe ao desenrolar linear do tempo. Beethoven nasceu em 1770 e morreu em 1827; Chopin nasceu em 1818, portanto tinha 17 anos quando Beethoven morreu, e não aprendeu com o Mestre a arte do Concerto para piano. (São interessantes os dois concertos de Chopin – e ainda bastante requisitados pelo público –, mas pecam pela orquestração, já dizia minha mãe Ondina, que os ouvia sob restrições.)
Bem, depois de ouvir o Trio N.2 em mi bemol maior D919, de Franz Shubert, um contemporâneo de Beethoven, interpretado pelo The Florestan Trio, com seus cinco movimentos, pensei em traçar o mesmo paralelo de excelência, comparando a forma Trio para piano a Beethoven.
Para tanto, escolho o Trio para piano n.1, op. 70, em ré maior, de Beethoven. Desde o início do primeiro movimento a diferença é gritante: enquanto Shubert privilegia descaradamente o piano – sei que esta palavra há de chocar os puristas, mas como não sou crítico musical e adoro as palavras... – em detrimento do violino e do violoncelo, Beethoven inicia seu trio com a voz do violino, belíssima, acompanhada do cello – e só depois entra o piano. Piano, violino e cello conversam todo o tempo, cada qual sabedor de seu próprio valor. E ele sabia disso.
No Trio op. 11, em si bemol maior, surge uma novidade: no terceiro movimento Beethovem apresenta um tema, “Pria ch’ l’impegno” sob a forma de Alegretto. Em seguida, ouvimos 9 variações curtíssimas, 30 a 40 segundos cada, sobre este tema. A peça termina com um Alegro. Fica evidente a intenção do compositor em desenvolver e expandir a forma Trio para piano.
Talvez os Trios para piano também possam ser divididos em “antes e depois” de Beethovem.
Caríssimo André, muito obrigado pela postagem/homenagem, imerecida, que atribuo à sua generosidade! Embora não tenha conhecimento técnico musical a ponto de poder aprofundar o debate, acredito que você tem razão; tudo que Beethoven legou à humanidade possuía uma marca personalíssima, que serviu, no mínimo, para levar a arte musical a um patamar a partir do qual ela poderia se desenvolver ainda mais. Por isso, creio que até mesmo no caso dos Trios para piano poderíamos dizer que há um antes e depois de LvB. Esse a que você faz menção, o nº 1 do op. 70, além de ser uma pequena obra-prima, como sabe ainda foi batizado de “Fantasma” após Czerny mencionar que o segundo movimento lhe evocava a aparição do espectro de Hamlet pai na célebre peça homônima. Abraços. (P.S.: “São interessantes os dois concertos de Chopin (...), mas pecam pela orquestração, já dizia minha mãe Ondina, que os ouvia sob restrições”: sábias palavras!)
ResponderExcluirHá momentos de sumo requinte neste blog! Vamos lá ouvir o trio.
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