A crônica do biólogo Fernando Reinach, Um mutante menos letal do coronavírus, para O Estado de S.Paulo (29 ago 2020) é bastante esclarecedora porque oferece visão ampla do que chamamos Evolução das Espécies.
Diz ele: “Muitos temem o aparecimento de um SARS-CoV-2 mais perigoso - que se espalhe pelo planeta, aumentando o caos em que vivemos. Já sabemos muito sobre a evolução da relação de um parasita com seu hospedeiro. E, por isso, o mais provável é que aconteça o contrário: o aparecimento de uma forma branda do SARS-CoV-2. Um mutante descoberto em Cingapura é um bom exemplo.
Os vírus são parasitas radicais. Além de só reproduzirem no interior de seu hospedeiro, sobrevivem em um estado de dormência absoluta quando estão fora dele. O SARS-CoV-2 não é diferente. Após aderir à superfície de uma célula humana, ele é posto para dentro e começa a reproduzir. Centenas ou milhares de cópias são produzidas e expelidas pela célula. Uma vez fora da célula, ele não possui metabolismo e fica praticamente “morto”, flutuando passivamente pelo ambiente até aderir a uma outra célula do mesmo hospedeiro ou de outro hospedeiro, onde reinicia sua fase “viva”. Sabemos que, nessa relação vírus-hospedeiro, leva vantagem o vírus que não mata rapidamente o hospedeiro ou produz sintomas.”
Em palavras mais simples: se o vírus mata o hospedeiro, ele também não sobrevive. Apenas sobreviverá aquele vírus que matar menos, ser mais transmissível e acometer o maior número possível de hospedeiros; é uma questão de seleção dos mais aptos.
Este fenômeno vem ocorrendo desde que surgiu a Vida na Terra: sobrevivem os mais aptos, incluindo a espécie humana. Nada de sobrenatural nisso tudo.
Um último lembrete: a palavra evolução aqui empregada nada tem a ver com “crescimento” ou aprimoramento moral; é apenas uma questão de adaptação para a sobrevivência.
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