domingo, 30 de agosto de 2020

Questão de sobrevivência


A crônica do biólogo Fernando Reinach, Um mutante menos letal do coronavírus, para O Estado de S.Paulo (29 ago 2020) é bastante esclarecedora porque oferece visão ampla do que chamamos Evolução das Espécies.

Diz ele: “Muitos temem o aparecimento de um SARS-CoV-2 mais perigoso - que se espalhe pelo planeta, aumentando o caos em que vivemos. Já sabemos muito sobre a evolução da relação de um parasita com seu hospedeiro. E, por isso, o mais provável é que aconteça o contrário: o aparecimento de uma forma branda do SARS-CoV-2. Um mutante descoberto em Cingapura é um bom exemplo. 

Os vírus são parasitas radicais. Além de só reproduzirem no interior de seu hospedeiro, sobrevivem em um estado de dormência absoluta quando estão fora dele. O SARS-CoV-2 não é diferente. Após aderir à superfície de uma célula humana, ele é posto para dentro e começa a reproduzir. Centenas ou milhares de cópias são produzidas e expelidas pela célula. Uma vez fora da célula, ele não possui metabolismo e fica praticamente “morto”, flutuando passivamente pelo ambiente até aderir a uma outra célula do mesmo hospedeiro ou de outro hospedeiro, onde reinicia sua fase “viva”. Sabemos que, nessa relação vírus-hospedeiro, leva vantagem o vírus que não mata rapidamente o hospedeiro ou produz sintomas.”

Em palavras mais simples: se o vírus mata o hospedeiro, ele também não sobrevive. Apenas sobreviverá aquele vírus que matar menos, ser mais transmissível e acometer o maior número possível de hospedeiros; é uma questão de seleção dos mais aptos. 

Este fenômeno vem ocorrendo desde que surgiu a Vida na Terra: sobrevivem os mais aptos, incluindo a espécie humana. Nada de sobrenatural nisso tudo.

Um último lembrete: a palavra evolução aqui empregada nada tem a ver com “crescimento” ou aprimoramento moral; é apenas uma questão de adaptação para a sobrevivência.




https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,um-mutante-menos-letal-do-coronavirus,70003417373

 

Bem-te-vi desconfiado (Aldravia N.93)

 




bem-te-vi
desconfiado
tem
medo
dos
cachorros

Fotos: AVianna, jun 2020



sábado, 29 de agosto de 2020

Homenagem a Brasília

Cheguei em Brasília no dia 11 de novembro de 1973, debaixo de uma tempestade assustadora, às 11 horas da manhã de sábado. Achei a cidade linda! Desde então, passados quase meio século, Brasília fica cada dia mais bonita.

            Especialmente com a florada dos ipês!










Fotos: AVianna, ago 2020
Nikon D7200


sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Olívia na calçada!

Galeria de Família 



Olívia faz pose na caçada!


Foto: Paulo S. Viana, ago 2020, Lorena, SP.

Uma menina!

Galeria de Família 



Nossa querida Maria Helena acaba de escalar a Pedra do Índio, na Serra dos Órgãos, RJ. Mais em forma do que nunca. Uma menina!

Agosto de 2020.

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Nem tudo está perdido

 



OMS anuncia erradicação da poliomielite na África

Foto: Ben Curtis/AP

 

“Na foto de 2013, bebê somali recebe vacina contra a poliomielite. Autoridades de saúde declararam que o continente africano está livre do poliovírus selvagem após décadas de esforços.  

A poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, foi considerada erradicada na África quatro anos depois do registro dos últimos casos no continente, ocorridos no nordeste da Nigéria, uma região devastada pelo conflito contra os jihadistas do grupo Boko Haram. A Organização Mundial da Saúde (OMS) declara oficialmente nesta terça-feira (25), em Genebra que o continente africano está "isento de poliovírus selvagem", que provoca a doença.”

 

Nem tudo está perdido!

 

https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2020/08/25/oms-anuncia-erradicacao-da-poliomielite-na-africa.ghtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=g1

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Notícia fraudulenta?

 Ancelmo Gois, de O Globo, vem fazendo a mesma pergunta que faço há tempos, sem encontrar resposta satisfatória: “Qual a melhor expressão em português para descrever o termo 'fake news'?” (25/08/2020).

Escreve ele: “Tentando, à la Dom Quixote, fugir do anglicismo fake news, a coluna, ontem, numa nota sobre a eleição, traduziu o termo como “notícia falsa”. Foi o suficiente para o jurista Gustavo Binenbojm passar uma bronca no colunista: “As fake news são mensagens falsas, criadas de forma intencional e mediante uso de expedientes fraudulentos com o objetivo de causar danos a pessoas, grupos ou instituições. À falta de tradução mais adequada, prefiro chamá-las de notícias fraudulentas”.
            De fato, “notícia falsa” não é o mesmo que fake new; a notícia pode ser falsa sem que haja a intensão de causar dano; na fake new o dano é certo.

O jurista sugere “notícia fraudulenta”. Vá lá, por enquanto. Acho a palavra fraudulenta antipática, complicada, pedante, quase técnica, comprida demais. Fake new é PÁ PUM!, não precisa dizer mais nada. Nesse caso, melhor seria “notícia fajuta”.

Vamos continuar procurando. 

 

 

https://blogs.oglobo.globo.com/ancelmo/post/qual-melhor-expressao-em-portugues-para-descrever-o-termo-fake-news.html

 

Isolamento das crianças

A foto do dia



O coronavírus na periferia pelo olhar dos vencedores do concurso de fotografia EL PAÍS e Artisan

 


Fotógrafos independentes retratam a vida cotidiana da periferia durante a pandemia do novo coronavírus. (El País, 24 ago 2020)

 

 

 


 

"Ao adentrar o território, a impressão que temos é a de que a pandemia do coronavírus perturbou o mundo como um tornado, ao mesmo tempo em que, por lá, se apresentou como uma brisa leve", diz o fotógrafo LUCA MEOLA.


Digo eu: o isolamento das crianças em tempos de pandemia poderá ter consequências impensáveis. Pobres crianças.

 

 

Gabriela faz pão

Galeria de Família 



Gabriela faz pão!

Clique para ampliar


Fotos: Paula Vianna, Cabo Frio, ago 2020

Solução piedosa

 A dissolução do casamento seria um escândalo perante Deus. Então preferiu matar o marido.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Ética


A fé dele se foi; as virtudes ficaram. Nunca estiveram ligadas.


                                             

                                                 Moisés Lobo Furtado

o amolador


o som agudo da flauta

invade a casa

os cães latem

 

outra vez a flauta do amolador de facas

chega aos meus ouvidos

a me lembrar que a vida continua

 

a despeito das máscaras

do isolamento

do perigo da faca amolada

 

no ar a ameaça permanente

da foice amolada

a flauta em silêncio

 


Nova Rota da Seda


Trens de carga chineses no Terminal Intermodal de Duisburgo.

Foto: Jasper Bastian

 

 

“Não há pandemia que freie o trem chinês no coração da Europa. A cidade alemã, ponto de chegada da Nova Rota da Seda na Europa central, luta para atrair capital em um clima de crescente tensão política com Pequim”, escreve Ana Carbajosa de Duisburgo (16 ago 2920).”

 

“Trens chineses chegam carregados a Duisburgo. No grande porto no interior da Europa param agora mais composições procedentes da China do que antes da pandemia. “As exportações chinesas se recuperaram muito rapidamente. Agora recebemos entre 45 e 60 trens por semana”, explica Martin Murrack, diretor de Finanças da Prefeitura dessa cidade da Alemanha. Este é um número recorde em comparação com os 35 de vezes anteriores. Enquanto as relações diplomáticas entre a Europa e a China estão tensas como resultado da gestão de uma epidemia que acabou afetando todo o mundo, as relações comerciais estão em excelente estado de saúde. 

Nova Rota da Seda contornou a pandemia ao chegar de trem à Europa.”

 

https://brasil.elpais.com/internacional/2020-08-16/nao-ha-pandemia-que-freie-o-trem-chines-em-duisburgo.html

 

Vale a pena ler a reportagem completa sobre a Nova Rota da Seda!

Outra do Vozinho

Galeria de Família


 

Meu querido pai, também conhecido por Vozinho, gostava de televisão. Pela manhã, via o noticiário; à tarde, um faroeste italiano. Às vezes usava um chumaço de algodão em ambas as orelhas...

A foto foi tirada no apartamento de Cabo Frio.

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Ana Cora Coralina: Pequena Biografia

 


Aninha nasceu em 1889, Cora 14 anos depois. Faziam parte da mesma pessoa, Ana Lins dos Guimarães Peixoto.

Aninha já entrou na vida subtraída do pai e da caçulice. Os poucos anos de estudo e o pior lugar entre as mulheres da família na decadente casa velha da ponte foram suficientes para enriquecer sua infância e forjar sua vontade. 

Adolesceu na Fazenda Paraíso entre árvores, rio e bichos. Da paixão pela terra surge a primeira necessidade de contar o que vê. Ali nasce a escritora Cora Coralina.

Os primeiros escritos são publicados em jornais e revistas. A amarela moça feia brilhava nos recitais de encontros literários. Lá decidiu se encantar pelo ciúme de Cantídio Bretas, advogado paulista bem formado, mal separado e vinte dois anos mais velho.

O namoro curto, a gravidez gemelar e o passado suspeito do noivo não cabiam na pequena cidade de Goiás. Ana, Cora, a barriga e Cantídio ganham o mundo cavalgando um corcel negro.

Em Jaboticabal a moça perdeu dois filhos, criou quatro, plantou árvores, participou de jornais e construiu um asilo. Em 1927 Ana deixou a cidade e o nome de Cora na estação de trem. 

Mudou-se para a capital para melhorar os estudos dos filhos, mas a morte decide lhe tirar o marido e o sustento. Ana descobriu a força do seu trabalho e decidiu não se cansar.

Em Penápolis, abriu a loja de tecidos Borboleta, organizou a associação dos comerciários e entrou para Ordem Terceira de São Francisco. Aos cinquenta anos, Ana decidiu não ter medo. 

Ainda inquieta, viu boa chance na área de ocupação pioneira de Andradina. A mulher terra se reencontrou com a natureza no Sítio da D. Cora, o mais respeitado pouso de boiadas da região. 

Aos sessenta e seis anos, Ana é chamada a testamentar sua herança em Goiás. Resistiu o quanto pode, desconfiou do risco. O chamado era maior. Deixou filho, filhas, genros, netos e bisnetos prontos. Foi só e não voltou.

“Vestida de cabelos brancos” caminhou pelas ruas de pedra, molhou os pés nas águas ensaboadas do Rio Vermelho, atravessou a Ponte da Lapa, entrou na velha casa da infância, encontrou Aninha dormindo e Cora desperta, lhe esperando. 

Vendeu doces, escreveu livros, ganhou prêmios e comprou a sua herança. A moça feia da casa da Ponte da Lapa criou uma velha linda e corajosa.

As palavras de Cora Coralina falam do que viveu, não conseguem inventar. Elas têm a força do olhar atento e faminto de quem amou existir e a doçura simples dos que sabem servir. Testemunham os interiores de um país gigante e de uma alma ainda maior.

 

Moisés Lobo Furtado         30/07/2020

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Pensar a Moral

 O psicanalista Contardo Calligaris publicou há 8 dias (5 ago 2020) artigo instigante na Folha de S.Paulo, ao relacionar moral e fé religiosa. 

        Informa Calligaris: “O Pew Research Center acaba de publicar uma pesquisa em que indivíduos de 34 países, geográfica e culturalmente diversos, responderam à pergunta: “É preciso ser religioso para ter moralidade.”

O resultado da pesquisa revela que “a ideia de que só há moralidade graças à religião prospera nos lugares de menor desenvolvimento econômico e cultural — entendendo por “desenvolvimento” cultural a proximidade com as ideias da modernidade ocidental.”

            Eis alguns dados pinçados por Calligaris:

Na Indonésia e Filipinas, 96% estão convencidos de que não há moral sem religião. 

Espanha e Itália, berços do catolicismo, ficam em 23% e 30%.

França, grande pátria da modernidade, 15%. 

Estados Unidos: 54% respondem que é possível sermos morais sem religião, e 44% pensam o contrário.

Os menos convencidos são a Suécia: 9%.

No Brasil e África do Sul, 84% pensam que a religião é a condição da moralidade, logo atrás da Nigéria e do Quênia.

Completa Calligaris: “A modernidade recusa a ideia de que os valores morais estão fora da gente — numa escrita sagrada ou nas palavras do camarada Stálin, do pastor, do padre, do papa ou do PCC, tanto faz. A modernidade é contra a elevação dos braços para convidar o rebanho a adorar, e pouco importa que a gente levante uma hóstia, uma Bíblia ou uma caixa de cloroquina — para a modernidade, o gesto de levantar os braços pedindo adoração é imoral em si. Para a modernidade, a fonte da moralidade está na gente. Ela não se mede na conformidade a mandamentos externos. Ela é uma responsabilidade de foro íntimo.” 

            Ao aceitar  “liberdade moderna”, o homem assume a responsabilidade daquilo que é a moral para cada um de nós; “procurar o certo e o errado na conformidade com prescrições (divinas ou terrenas, tanto faz), isso é sempre o mais imoral dos atos”, resume Calligaris.

            Tudo parece muito bem posto pelo conhecido psicanalista. Até que ontem o mesmo jornal publica crônica de Hélio Schwartsman, De onde vem a moral?, em resposta à provocação de Calligaris.

            Segundo Schwartsman, “De fato, não há boçalidade muito maior do que imaginar que não exista moralidade fora da religião. Acho até que podemos radicalizar o argumento. Não há nada mais imoral do que a moral diretamente extraída das Escrituras, que nos autorizam a vender filhas como escravas (Ex. 21:7) e nos obrigam a matar gays (Lv. 20:13).”

Prossegue o filósofo: “Acredito, contudo, que a moralidade seja um fenômeno com fortes componentes externos (situacionais). Ela é forjada na teia de relacionamentos sociais que mantemos com nossos semelhantes.” ... 

Para Schwartsman, “A moralidade é a solução encontrada pela evolução para compatibilizar os impulsos egoístas do indivíduo e a necessidade de reduzir conflitos dentro do grupo. Essa permanente tensão entre bichos que são ao mesmo tempo rivais e aliados desemboca em emoções e sentimentos socialmente relevantes como inveja, raiva, gratidão, compaixão, vergonha, culpa, que são a tabela periódica com a qual cada sociedade constrói seu código moral.”

 

É possível pensar que as ideias aqui expostas se complementam. É Igualmente razoável admitir que uma pessoa profundamente religiosa – e que pensa com liberdade – seja capaz de reconhecer naquele que não crê a moralidade perfeitamente estabelecida. Penso que a tal “modernidade” deve implicar necessariamente liberdade de pensamento e expressão, e acima de tudo, tolerância para com aquele que pensa diferente.

 

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/2020/08/ideia-de-que-moral-depende-da-fe-prospera-em-paises-menos-desenvolvidos.shtml

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2020/08/de-onde-vem-a-moral.shtml

 

domingo, 9 de agosto de 2020

100 mil vítimas


Primeira página  

Retorno à infância

 


Quase tudo na vida de um adulto, os gostos e os desgostos, se originam na infância. Durante toda minha infância e parte da adolescência eu jogava bola oito vezes por semana – aos domingos jogava pela manhã e à tarde. Daí meu gosto por futebol. Poderia ser diferente? Haverá quem pergunte, Mas isso não é algo muito infantil, ao que respondo, Com muito orgulho e carinho preservo esse menino em mim. Quando toca o Hino Nacional, já estou pronto para entrar em campo.

            Daí o baque, tristeza sem fim, pela ausência do futebol durante a peste. As tardes de domingo ficaram completamente vazias. Não me adaptei às reprises, ao contrário, aumentavam minha melancolia. O mundo já não era o mesmo.

            Até que ressurge o Campeonato Paulista 2020, interrompido perto do final. Os times voltaram a campo como que enferrujados, jogadores sem reflexos, com má forma física, há meses sem jogar. Treinavam, mas não jogavam. 

            E para resumir, chegamos ontem à finalíssima, Palmeiras x Corinthians Paulista. O jogo anterior já havia sido equilibrado: 0 a 0. Ontem, primeiro tempo difícil, o Palmeiras mais bem distribuído em campo, Cassio brilhando novamente. Aos 3 min do segundo tempo o Verdão abre o placar, com Luiz Adriano, belo gol de cabeça! E o time dominou todo o segundo tempo.

            Segundos antes dos 50 min, ao fim da prorrogação de 5 min, um pênalti bobo, desnecessário, dentro da área: o Corinthians empata o jogo. A decisão será por pênaltis.

            Três gols para cada time, o último a bater será o Palmeiras, se fizer, leva... E o técnico escolhe um neguinho de 20 anos para cobrar o último pênalti! Pensei comigo, agora fudeu. Patrick de Paula o nome dele, criado em Campo Grande, no Rio, prata da casa do Allianz Park. 

            Patrick toma grande distância, pára na risca da grande área, permanece imóvel por segundos intermináveis, Meu deus, o que pensa esse menino num instante como este, meu coração saindo pela boca! Então dispara em direção à bola, enche o pé, coloca a pelota no ângulo superior esquerdo da meta de Cassio, chute incrível imprevisto impensável indefensável inesquecível e corajoso acima de tudo, de quem sabe e tem futuro brilhante no futebol.

            Palmeiras Campeão Paulista de 2020! Com sofrimento...



Patrick de Paula, o neguinho do Palmeiras





sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Crimes imperceptíveis



“Agora que se passaram os anos e tudo foi esquecido, agora que recebi da Escócia um e-mail lacônico com a triste notícia da morte de Seldom, acho que posso quebrar a promessa, que, em todo caso, ele nunca me pediu que fizesse, e contar a verdade sobre os acontecimentos que no verão de 1993 apareceram nos jornais ingleses em manchetes que oscilavam entre macabras e sensacionalistas, mas às quais Seldom e eu sempre nos referíamos, talvez pela conotação matemática, simplesmente como a série, ou a série de Oxford.”

 

            Assim tem início o romance do argentino Guillermo Martínez (1962), Doutor em Matemática, que há muitos anos me fascinou com o espetacular Acerca de Roderer, publicado em 1992.   

            Agora, a referida introdução, escrita de um só folego em extenso parágrafo, bem ao gosto do Tobias, conhecido dos leitores deste blog por sua Oficina, e também do meu gosto, agora o livro chama-se Crimes imperceptíveis (Editora Planeta, 2004).

            A escrita é cuidadosa, quase formal, e é ela que me animou chegar ao fim do livro. O enredo não chega a empolgar, com momentos interessantes. Para os apreciadores do romance policial, é obra razoável. Não há um Espinosa para nos deleitar – saudade de Garcia-Rosa! 

Homenagem aos mortos de Beirute

A foto do dia 


Imagem da bandeira do Líbano 

projetada no Cristo Redentor.

Homenagem às vitimas de Beirute.

Olhar Estadão, Foto: Antonio Lacerda / EFE

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Avencário


O raríssimo leitor que me acompanha nesse blog há de ter percebido o quão pobre de ideias tenho andado ultimamente. Um verdadeiro deserto. Estéril assim fica difícil escrever, o que lamento mais por mim do que por meu leitor. Mas hoje descobri que não estou só!

“Nada simboliza melhor nossa submissão ao colonialismo cultural do que dizer “delivery” em vez de “entrega”, escreve Luis Fernando Verissimo para O Estado de S.Paulo hoje (6 ago 2020). E ainda arremata o assunto com um diálogo, por sinal bem pobrinho:

         “– “Delivery”! A que ponto chegamos!

          – Ridículo, né?

          – Ridículo! Qualquer lojinha, qualquer boteco, oferece “delivery”. Por que não “entrega”?

          – “Entrega a domicílio”... É bonito isso.

          – O português é uma língua bonita.

          – Quem precisa do inglês?”

            Acho que também faltava assunto ao grande Verissimo.

            Para minha surpresa, o também grande Sérgio Rodrigues publica sua crônica de hoje (Bateção de panela e de coração, Folha de São Paulo), “usando” as palavras: “Há quem pense que as palavras existem apenas nos dicionários, como peixes na água, e que do lado de fora só lhes resta a morte.” Prossegue Rodrigues: “...passou da hora de acolhermos em nossos dicionários um bicho brasileiro agreste de grande beleza e vigor: o substantivo feminino “bateção”. Os principais dicionários dos dois lados do Atlântico o esnobam. Se no caso português isso é compreensível, pois a palavra batimento lhes basta com folga para resolver a questão das batidas, aqui o quadro é diferente. Temos a bateção de lata (batucada), a bateção de cabeça (desarmonia, confusão), a bateção de panela (protesto), a bateção de estaca e marreta (construção) e até a bateção de pernas (passeio, andança).”

            A este subterfúgio denominei “usar” as palavras, explorá-las (em qualquer sentido), tirar proveito delas (ainda em todos os sentidos), escravizá-las (em casos extremos); quando não há um bom tema disponível ao cronista, ele lança mão das palavras, infinitas e bem guardadas nos dicionários, e até em mais de uma língua.

            Assim fica fácil! Por que não eu? 

            Três vezes seguidas no último mês enviei ao Dicionário Informal, pelo qual nutro respeito e admiração, a palavra avencário, e apresentei a respectiva definição: local onde se cultivam avencas. Expliquei que o avencário exige condições ambientais especiais, luz solar por poucas horas, sombra na maior parte do dia, rega parcimoniosa e constante; trata-se de plantas altamente sensíveis. É bom ter cuidado até mesmo com mau-olhado!

Para meu completo desapontamento, nada de resposta. Quero porque quero registrar a palavra, que acho linda, sonora, calma, tranquilizadora como um vaso de avencas. (E muito mais bonita que bateção...) Me sentiria orgulhoso de vê-la dicionarizada. Quem sabe um dia desses...

Há um consolo que não é pouca coisa: se meu leitor procurar no Google a palavra avencário, vai encontrar uma postagem que fiz no Loucoporcachorros em setembro de 2014, com uma fotografia de avencas e um haicai. 

https://loucoporcachorros.blogspot.com/2014/09/avencario.html

 

            Por ora, a palavra avencário me serviu para esta crônica. Por que não eu?



 


https://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,delivery,70003388965

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/sergio-rodrigues/2020/08/batecao-de-panela-e-de-coracao.shtml

 

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Pantera no porão




“É assim que me lembro de Jerusalém naquele último mandato britânico: uma cidade de pedra espalhada pelas encostas das colinas. Nem era propriamente uma cidade, mas vários bairros isolados, separados por campos repletos de pedras e arbustos espinhentos. Nas esquinas por vezes ficavam blindados britânicos, com suas vigias quase fechadas, como olhos ofuscados pela luz, e suas metralhadoras apontando para fora como dedos que diziam: “Você”.”

 

            Pantera no porão, de autoria de Amós Oz (Companhia das Letras, 2019) é livro de memórias, a infância de um menino de grande sensibilidade, vivendo no recém fundado Estado de Israel, ainda sob a tutela inglesa. O verão é do ano de 1947. Ficção e autobiografia se mesclam para descrever o menino cheio de amor pela nova pátria, e que imagina fazer parte da “resistência” ao obter importantes segredos militares dos inimigos.

            Leitura deliciosa, na forma e no conteúdo. 

            Em meu ponto de vista, Amós Oz faz parte de uma seleta lista de autores que injustamente não ganharam o Nobel de Literatura. Possivelmente as razões para tal foram políticas, já que Oz nunca fugiu ao posicionamento pró-Palestina, embora tenha lutado pelo exército de Israel. Desagradou a gregos e troianos. Sua literatura, porém, vasta e de grande qualidade, há de perdurar.

            Em tempo, belíssima capa desta segunda edição pela Cia. das Letras, de Raul Loureiro, com imagem de Dmitri Kessel (The LIFE Picture Collection/Getty Images).


Aldravia N.92





mesmos 
gostos
livros
música
dois
irmãos


Foto: Mercêdes, Rio de janeiro, no passado.

terça-feira, 4 de agosto de 2020

Fotoabstração N.68

Fotoabstração




Foto: AVianna, ago 2020

Escolinha da Tia Flora

Galeria de Família




Tia Flora e seus alunos

Aldravia N.91




bem-te-vi
de
costas
despreza
o
fotógrafo

Aldravia N.90




garrinchão
de
perfil
pousa
para
fotografia


Foto: AVianna, fev 2020, jardim

Mais 4 aldravias do Moisés

1.


infância

torta
emoldurada
cobogós

e
persianas

2.


gramados
secos
bola
surrada
monark

amarela

 

3.


tesoura 
compasso

eixos
concreto
pilotis
crianças

4.


chocolate
quente 

edredom
vinho
pés
gelados



                               Moisés Lobo Furtado



Casa de Cora Coralina


Galeria de Família



Há tempos fizemos belo passeio à cidade de Goiás Velho, distante pouco mais de 300 km de Brasília. Bela cidade!

            De lembrança, esta foto da casa de Cora Coralina.

sábado, 1 de agosto de 2020