“É assim que me lembro de Jerusalém naquele último mandato britânico: uma cidade de pedra espalhada pelas encostas das colinas. Nem era propriamente uma cidade, mas vários bairros isolados, separados por campos repletos de pedras e arbustos espinhentos. Nas esquinas por vezes ficavam blindados britânicos, com suas vigias quase fechadas, como olhos ofuscados pela luz, e suas metralhadoras apontando para fora como dedos que diziam: “Você”.”
Pantera no porão, de autoria de Amós Oz (Companhia das Letras, 2019) é livro de memórias, a infância de um menino de grande sensibilidade, vivendo no recém fundado Estado de Israel, ainda sob a tutela inglesa. O verão é do ano de 1947. Ficção e autobiografia se mesclam para descrever o menino cheio de amor pela nova pátria, e que imagina fazer parte da “resistência” ao obter importantes segredos militares dos inimigos.
Leitura deliciosa, na forma e no conteúdo.
Em meu ponto de vista, Amós Oz faz parte de uma seleta lista de autores que injustamente não ganharam o Nobel de Literatura. Possivelmente as razões para tal foram políticas, já que Oz nunca fugiu ao posicionamento pró-Palestina, embora tenha lutado pelo exército de Israel. Desagradou a gregos e troianos. Sua literatura, porém, vasta e de grande qualidade, há de perdurar.
Em tempo, belíssima capa desta segunda edição pela Cia. das Letras, de Raul Loureiro, com imagem de Dmitri Kessel (The LIFE Picture Collection/Getty Images).
Amós Oz é um craque!
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