domingo, 22 de agosto de 2021

Homem gosta de homem


Dois chimpanzés no Parque Nacional de Gombe, Tanzânia. Ian Gilby

 

 

“Cuidar das amizades, a melhor estratégia para os chimpanzés”: a reportagem é de Javier Salas para El País (17 AGO 2021).

            O artigo começa descrevendo algumas peculiaridades de chimpanzés e bonobos: “Nossos primos mais próximos entre os grandes símios, os chimpanzés e os bonobos, tomaram dois caminhos evolutivos completamente opostos na hora de preparar seu sucesso reprodutivo. Os chimpanzés trilharam o espinhoso trajeto da violência e da coação para assegurar a descendência: os machos que mais batem nas fêmeas, por exemplo, têm mais chances de acasalamento. Já os bonobos continuaram a rota da seda: os machos não sabem quando é o período fértil das fêmeas, que por sua vez dirigem o grupo em um matriarcado, apostando em acasalar muito para aumentar as probabilidades de ter uma prole.”

Porém, se a reprodução ocupa tanto espaço nas relações entre eles, como explicar “que os chimpanzés se dediquem a mimos, cuidados e carícias, catando piolhos e alisando seus pelos mutuamente? Que sentido evolutivo faz reforçar amizades com quem vai tirar a sua oportunidade de procriar?”

Afirma o primatologista Joseph Feldblum, da Universidade de Michigan: “Os machos não passariam todo este tempo alisando outros machos e renunciando a tentar encontrar fêmeas ou comida a menos que obtivessem algum tipo de ganho com isso”. “Os machos cultivam amizades porque isso funciona.” 

São dados reunidos no Parque Nacional de Gombe (Tanzânia) desde os tempos de Jane Goodall: “os cientistas puderam analisar a descendência dos machos que estreitam laços com outros companheiros, comparando àqueles que não o fazem. E obtiveram dois resultados: o primeiro não é nada surpreendente, e algo que já se sabia: os machos que mais têm contato com o macho alfa da comunidade ganham possibilidades de se reproduzir. Faz sentido: neste patriarcado, o alfa controla as fêmeas e permite a seus amigos que acasalem. “Puxar o saco do chefe não é nenhuma novidade”, observa Anne Pusey, coautora do estudo, da Universidade Duke (EUA), que passou três décadas organizando e digitalizando esse conjunto de dados único. E acrescenta: “Demonstramos que sempre valeu a pena”.

No entanto, os cientistas descobriram que “um chimpanzé macho tem 50% mais probabilidades de ter filhos se mantiver pelo menos duas fortes amizades com outros indivíduos equivalentes. Com exceção do alfa, a patente na hierarquia do grupo não impacta nas possibilidades de ter sucesso reprodutivo, mas, sim, em ter muitos amigos aos quais dedicar tempo e cuidados. A estratégia não é a competição violenta, e sim uma colaboração entre companheiros.”

É a primeira vez que se estuda a influência da sociabilidade na capacidade reprodutiva dos machos porque esta perspectiva sempre foi aplicada unicamente às fêmeas. 

Talvez os benefícios destas relações sociais nos chimpanzés proporcionem pistas sobre o papel da amizade nos seres humanos. O estudo sugere que “os laços fortes entre os machos têm raízes evolutivas profundas e proporcionaram a base para as relações mais complexas que vemos nos humanos”, diz Gilby, da Universidade Estadual do Arizona. 

 

Entre nós, há um dito popular: homem gosta de homem. As reuniões sociais em que casais são convidados revelam essa tendência: homens conversam com homens, mulheres com mulheres. Mas esta é tão somente uma blague, sem qualquer fundamento científico.

 

 

https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-08-17/cuidar-das-amizades-a-melhor-estrategia-para-os-chimpanzes.html

 

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