quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Chimpanzés em guerra


 

Imagem tomada por cientistas durante o ataque fatal

a 'Basie', na qual se vê suas presas no centro da imagem

 

 

“Os três assassinatos que desataram a segunda ‘guerra civil’ entre chimpanzés - A brutalidade das mortes entre ex-companheiros surpreende os cientistas que os observam há décadas.” Esta é a chamada para a reportagem de Javier Salas para El País (29 jan 2021).

Relata Salas: “O primatologista Aaron Sandel estava lá quando um grupo de chimpanzés matou Erroll, um macho do baixo escalão. Durante muito tempo, todos eles compartilharam um clã na comunidade de Ngogo, Uganda. Mas o grupo havia crescido muito, mais de 200 chimpanzés, algo nunca visto antes. E se dividiu. Desde 2015, cada vez que se encontravam entre as árvores frutíferas, crescia a tensão entre os grupos. Até que em janeiro de 2018, três machos do grupo ocidental seguraram este jovem de 15 anos e acabaram com sua vida com golpes e dentadas.”

Os chimpanzés conseguiram manter a coesão de um grande grupo de  150 indivíduos. Mas quando ultrapassaram 200 indivíduos, espontaneamente eles se dividiram em três comunidades. Uma delas teve três de seus machos assassinados na fronteira entre grupos, em disputa por árvores frutíferas.  

Certo dia os cientistas presenciaram o cerco de um grupo de chimpanzés por grupo rival, com gritos e gestos ameaçadores, “até que Basie, um macho de 33 anos de alto escalão na hierarquia de Ngogo, caiu ou saltou de galhos de 15 metros de altura, encurralado pelos atacantes. No solo, os agressores cercaram Basie rapidamente, atacando-o com golpes e mordidas, deixando-o mortalmente ferido.” 

Os cientistas concluíram que não havia mais simples atritos entre grupos, era uma guerra de morte. Muitos primatologistas recusam o nome de “guerra”, pois faltam os significados social e político específico para tanto. Outros cientistas veem na “agressão letal dos chimpanzés, cooperativa e coordenada”, como algo semelhante às origens evolutivas da guerra nos humanos.

Afirma Salas: “Os chimpanzés são um exemplo paralelo interessante, mais do que uma prova de nossas origens violentas. Sobretudo porque temos outros primos igualmente próximos, os bonobos, que vivem em um plácido matriarcado em que os conflitos se resolvem com encontros sexuais, também homossexuais.”

Explica Sandel: “É tentador concluir que, se os chimpanzés se matam, então a violência está em nossa natureza. A violência pode estar em nossa natureza. Mas nossa natureza é fortemente moldada pela sociedade. Não sou historiador nem filósofo, mas suponho que não precisamos olhar muito além do capitalismo, do imperialismo e do patriarcado para entender por que os humanos são violentos. Vamos começar aí, pelo menos.”

Tudo isso dá muito o que pensar, digo eu, quando observamos o comportamento do Homo sapiens através dos tempos e ainda nos dias de hoje.

 

 

https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-01-30/os-tres-assassinatos-que-desataram-a-segunda-guerra-civil-entre-chimpanzes.html

 

2 comentários:

  1. Parece que temos um núcleo atávico de selvageria e violência. Mas estaremos condenados eternamente a isso? Não se pode evoluir?

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    1. A própria evolução das espécies atesta a possibilidade de mudanças.

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