“Por uma série de problemas, que vão da metodologia à estrutura das carreiras e das publicações, boa parte das conclusões de trabalhos científicos que são feitos atualmente está errada. Nas contas de John Ioannidis (Stanford), a maioria das pesquisas em medicina não merece crédito. Para Jeffrey Leek (Universidade de Washington), os erros alcançam só 14% dos estudos. Os números melhoram na física, mas pioram nas ciências sociais e na psicologia.
Se as coisas são tão precárias, por que seguir a ciência? Creio que a ciência é um pouco como a democracia. É um sistema confuso, cheio de ruídos e distante de qualquer ideal. Ainda assim, é o melhor sistema que temos, se não para encontrar verdades, para produzir conclusões provisórias que dependem mais da realidade do que de nossos desejos. Não é pouco.”
Hélio Schwartsman
A despeito das reais limitações expostas acima por Schwartsman, o método científico traz em si uma grande virtude: ele busca a verdade, encontra o erro, reconhece-o como tal, e torna a buscar a verdade, incansavelmente. Não verificamos tal virtude na Religião, que é feita de dogmas, verdades imutáveis por definição, fonte perene do fundamentalismo tão pernicioso de algumas crenças.
Não se trata de voltar à velha disputa Religião versus Ciência, que não leva a coisa alguma. Trata-se de reconhecer o real valor da Ciência em tempos de pandemia. Isolamento social, uso de máscaras e vacinação constituem prescrições da Ciência. Por que então não são obedecidas por grande parte da população de nosso país, até mesmo quando a pandemia se agrava? O decantado Leblon ignora a Ciência, de dia na praia, à noite nos bares e boates. Não será por falta de informação, o nível sócio-econômico lá é dos melhores, a maioria é de gente educada; por acaso desprezam a vida?
Em Israel, judeus ultraortodoxos teimam em realizar casamentos e funerais com grandes aglomerações. “O que é mais importante?”, indagou Esti Shushan, ativista ultraortodoxa do movimento pelos direitos das mulheres, depois de ver imagens do funeral. “Ir ao funeral e estudar a Torá? Ou continuar vivo?”
Entre nós, o que é mais importante, acreditar na Ciência ou aferrar-se à ideologia política de falsos profetas?
A crônica deste domingo de Hélio Schwartsman para a Folha de S.Paulo, A fé na Ciência, bate na mesma tecla dos últimos meses. Parece que é preciso mesmo repetir repetir repetir.
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2021/02/a-fe-na-ciencia.shtml
Não são as verdades da ciência que são provisórias, são as verdades dos homens, todas elas. Mesmo as religiosas, deveríamos considerá-las provisórias: afinal, que sabemos nós da perfeição espiritual?
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