terça-feira, 9 de outubro de 2018

Oásis na Savana


     
  
Oásis de vegetação na África
Foto: Monica Nobrega/Estadão


O biólogo Fernando Reinach, em artigo para O Estado de S.Paulo (6 out 2018), Oásis na Savana, destaca que há milhares de anos, no período neolítico, o homem conseguiu melhorar o ambiente em que vivia, deixando marcas que podem ser observadas até hoje. 
Afirma Reinach: “As Savanas africanas, onde pastam os grandes herbívoros e vivem os grandes carnívoros, têm um solo extremamente pobre, que sustenta uma vegetação rala. Florestas e campos luxuriantes são raros. Mas se você observar a região com um satélite vai descobrir milhares de círculos de aproximadamente 100 metros de raio onde a vegetação é luxuriante, e pequenas florestas podem ser vistas.”  
Muitos desses círculos têm pequenos vilarejos habitados por criadores de gado e outros herbívoros, contendo um curral onde o gado é recolhido durante a noite. Naturalmente, as fezes do gado tornam o solo mais fértil. Porém, há um número muito maior desses círculos que o esperado pela quantidade de habitantes que existe na área. 
Agora surge o fato mais interessante: os cientistas decidiram escavar exatamente onde estavam esses círculos férteis não ocupados. O resultado foi surpreendente, afirma Reinach: “Em quase todos esses locais, foram descobertas ruínas de povos pastorais da época neolítica (1,5 mil a 3,7 mil anos atrás), o que indicava que talvez esses locais fossem os currais das culturas neolíticas da África. Mais interessante é o fato de que nesses locais não se acharam indícios de ocupação recente, o que indica que essa ilha de fertilidade teria sido criada por seres humanos milhares de anos atrás.” 
A presença de seres humanos do neolítico fertilizou essas ilhas de terra, resultando em aumento da biodiversidade, atraindo mais herbívoros, árvores e pássaros. 
Conclui Reinach: “É boa notícia, que reforça a ideia de que as intervenções humanas não são obrigatoriamente destrutivas. Quem poderia imaginar 2 mil anos atrás que um curral cheio de fezes iria se transformar em um luxuriante oásis?”
            O que chamou a atenção deste blogueiro foi a fantástica ideia dos cientistas de escavar exatamente nos oásis inabitados, em busca de algo que ignoravam completamente. Encontraram vestígios de povos pastorais.
            Lembrei-me de minha experiência no hospital King’s College, em Londres, nos anos 80. Quanto os pesquisadores, médicos e cientistas, sentavam-se para o chá – acompanhado de insípidos biscoitos –, pela manhã e à tarde, a conversa entre eles era quase sempre sobre pesquisa. Surgiam ideias brilhantes, às vezes mirabolantes; eles não estavam preocupados com a viabilidade dos projetos, apenas exerciam a arte de pensar sobre Pesquisa. Muitas ideias eram aproveitadas e desenvolvidas pelos 50 componentes da Unidade de Fígado do hospital, quase todos estrangeiros. A conversa era sempre enriquecedora. Penso que isso faz a diferença.
            



2 comentários:

  1. Existe até um tipo de pesquisa totalmente aleatória, sem finalidade prática imediata, que no entanto recebe apoio da comunidade cientifica. Pois nunca se sabe se dali, meio por acaso, pode sair alguma consequência revolucionária.

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    1. A chamada pesquisa pura sempre acaba resultando em algo de bom. Mas custa muito caro, poucos países podem praticá-la.

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