domingo, 8 de março de 2015

4-3, 4-1


Christopher Clarey, do The New York Times de ontem (no caderno em colaboração com a Folha de S. Paulo) escreveu: “Em uma tarde de verão em Sydney, em janeiro, dois ex-campeões de Grand Slam, John McEnroe e Patric Raffer, jogaram uma versão abreviada de tênis. Raffer ganhou a partida de exibição pelo estranho e truncado placar de 4-3, 4-1. É o que a turma quer, o que a TV quer.” O novo formato do tênis está sendo chamado de Fast4.

Numa série de outros eventos esportivos, medidas idênticas para abreviar o tempo de jogo, ou torná-los mais rápidos, vêm sendo adotadas, afirma o jornalista americano, com o intuito de atrair o público jovem.

O que o artigo não trata é das possíveis causas do fenômeno. Não tenho muita dúvida de que a Internet tem algo a ver com isso. Tudo agora precisa ser ágil, rápido, curto e grosso.

Na esteira dessa onda, acaba de ser publicado o magistral Grande Sertão: Veredas, do Rosa, em quadrinhos! “Nonada”: pra que enfrentar o texto original, difícil, intrincado, aquela linguagem incompreensível de início, depois poesia pura, se podemos encontrar a história em figurinhas?

E o que dizer de D. Quixote de La Mancha, Guerra e Paz, As benevolentes? Ou de Cenas de um casamento, de Bergman?

Em Nova Iorque, o que mais se vê é gente comendo na rua, enquanto caminha. Para que perder tempo num restaurante, pedir um bom vinho, examinar com calma o cardápio, comer devagar, tomar um café?

Vivemos a era da velocidade superficial. Pensar, nem pensar... Não há tempo.

Entretanto, este blog tem publicado textos curtos, às vezes curtíssimos (microcontos, haicais, aforismos, crônicas breves), o blogueiro convencido de que estes são os formatos contemporâneos de maior aceitação da Internet.

O texto curto tem suas vantagens. Se é bem explorado, se é razoavelmente bem escrito (agora não estou falando deste Loucoporcachorros...), para quem pode pensar, ele dá o que pensar. Para quem é incapaz de pensar, resta a rapidez e a superficialidade.

Um texto curto e provocador há de despertar no leitor determinadas associações de ideias que são próprias do leitor, são originais, capazes de provocar nele outras tantas ideias, e propiciar o que pode ser chamado de expansão psíquica. O escrito inicial serve apenas de motivação. É para isso, também, que se lê. Também é para isso que o escritor escreve.

Um comentário:

  1. Há tempo para o longo e tempo para o curto. Só lembrar que os aforismos (La Rochefoucauld) são uma forma antiga de pensamento escrito. Uma diferença importante é que o Mc Donald não ressoa, o escrito curto, sim.

    ResponderExcluir