Christopher Clarey, do The
New York Times de ontem (no caderno em colaboração com a Folha de S. Paulo)
escreveu: “Em uma tarde de verão em Sydney, em janeiro, dois ex-campeões de
Grand Slam, John McEnroe e Patric Raffer, jogaram uma versão abreviada de
tênis. Raffer ganhou a partida de exibição pelo estranho e truncado placar de
4-3, 4-1. É o que a turma quer, o que a TV quer.” O novo formato do tênis está
sendo chamado de Fast4.
Numa série de outros
eventos esportivos, medidas idênticas para abreviar o tempo de jogo, ou
torná-los mais rápidos, vêm sendo adotadas, afirma o jornalista americano, com
o intuito de atrair o público jovem.
O que o artigo não trata é
das possíveis causas do fenômeno. Não tenho muita dúvida de que a Internet tem
algo a ver com isso. Tudo agora precisa ser ágil, rápido, curto e grosso.
Na esteira dessa onda,
acaba de ser publicado o magistral Grande Sertão: Veredas, do Rosa, em
quadrinhos! “Nonada”: pra que enfrentar o texto original, difícil, intrincado,
aquela linguagem incompreensível de início, depois poesia pura, se podemos
encontrar a história em figurinhas?
E o que dizer de D.
Quixote de La Mancha, Guerra e Paz, As benevolentes? Ou de Cenas de um
casamento, de Bergman?
Em Nova Iorque, o que mais
se vê é gente comendo na rua, enquanto caminha. Para que perder tempo num
restaurante, pedir um bom vinho, examinar com calma o cardápio, comer devagar,
tomar um café?
Vivemos a era da
velocidade superficial. Pensar, nem pensar... Não há tempo.
Entretanto, este blog tem
publicado textos curtos, às vezes curtíssimos (microcontos, haicais, aforismos,
crônicas breves), o blogueiro convencido de que estes são os formatos
contemporâneos de maior aceitação da Internet.
O texto curto tem suas
vantagens. Se é bem explorado, se é razoavelmente bem escrito (agora não estou
falando deste Loucoporcachorros...), para quem pode pensar, ele dá o que
pensar. Para quem é incapaz de pensar, resta a rapidez e a superficialidade.
Um texto curto e
provocador há de despertar no leitor determinadas associações de ideias que são
próprias do leitor, são originais, capazes de provocar nele outras tantas ideias,
e propiciar o que pode ser chamado de expansão psíquica. O escrito inicial
serve apenas de motivação. É para isso, também, que se lê. Também é para isso
que o escritor escreve.
Há tempo para o longo e tempo para o curto. Só lembrar que os aforismos (La Rochefoucauld) são uma forma antiga de pensamento escrito. Uma diferença importante é que o Mc Donald não ressoa, o escrito curto, sim.
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