Um certo editor de Calcutá
pediu a Mo Yan (1955, Gaomi, China), Nobel de Literatura em 2012, que
escrevesse sobre as transformações ocorridas na China nos últimos 30 anos. Mo
relutou, e acabou escrevendo uma autobiografia que se desenvolve paralelamente as
tais mudanças verificadas naquele país.
O livrinho, de apenas 125
páginas (depois de certa idade não é prudente iniciar a leitura de livros mais
avultados...), é delicioso! Intitula-se Mudança,
editado com o capricho de sempre pela Cosacnaify (2a impressão,
2014), com tradução de Amilton Reis.
Bem no início da
narrativa, um professor de uma escola rural para pequenos lê uma redação de He Zhiwu, aluno
indisciplinado, presente em toda a trama, que mais parece um microconto:
“Não tenho nenhum outro sonho. Só tenho um sonho. O meu sonho é ser o
pai da Lu Wenli.”
A
turma cai na gargalhada – o bullying
já existia na China há 50 anos, ou desde sempre – e o coitado é posto para fora
de sala. O pai de Lu Wenli dirigia um caminhão soviético, relíquia da última
guerra contra a Coreia, e o sonho de He Zhiwu, na realidade, era ser motorista
daquele caminhão.
As
peripécias do protagonista, de seu amigo de infância, e do caminhão são o
retrato fiel das mudanças ocorridas na China, relatadas de forma poética, simples,
bem humorada, até com certa humildade.
Três anos depois desse
relato, Mo Yan ganhou o Nobel de Literatura. Me pergunto se, depois do prêmio,
o autor seria capaz de escrever um texto de beleza tão singela.
O belo deve ser, de preferência, simples. Por outro lado, estaria o ´louco´ a sugerir que os prêmios atrapalham seus ganhadores?
ResponderExcluirAlgumas vezes, sim!
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