sábado, 7 de março de 2015

A Mudança de Mo Yan




Um certo editor de Calcutá pediu a Mo Yan (1955, Gaomi, China), Nobel de Literatura em 2012, que escrevesse sobre as transformações ocorridas na China nos últimos 30 anos. Mo relutou, e acabou escrevendo uma autobiografia que se desenvolve paralelamente as tais mudanças verificadas naquele país.

O livrinho, de apenas 125 páginas (depois de certa idade não é prudente iniciar a leitura de livros mais avultados...), é delicioso! Intitula-se Mudança, editado com o capricho de sempre pela Cosacnaify (2a impressão, 2014), com tradução de Amilton Reis.

Bem no início da narrativa, um professor de uma escola rural para  pequenos lê uma redação de He Zhiwu, aluno indisciplinado, presente em toda a trama, que mais parece um microconto:

“Não tenho nenhum outro sonho. Só tenho um sonho. O meu sonho é ser o pai da Lu Wenli.”

            A turma cai na gargalhada – o bullying já existia na China há 50 anos, ou desde sempre – e o coitado é posto para fora de sala. O pai de Lu Wenli dirigia um caminhão soviético, relíquia da última guerra contra a Coreia, e o sonho de He Zhiwu, na realidade, era ser motorista daquele caminhão.
            
            As peripécias do protagonista, de seu amigo de infância, e do caminhão são o retrato fiel das mudanças ocorridas na China, relatadas de forma poética, simples, bem humorada, até com certa humildade.

    Três anos depois desse relato, Mo Yan ganhou o Nobel de Literatura. Me pergunto se, depois do prêmio, o autor seria capaz de escrever um texto de beleza tão singela.

2 comentários:

  1. O belo deve ser, de preferência, simples. Por outro lado, estaria o ´louco´ a sugerir que os prêmios atrapalham seus ganhadores?

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