terça-feira, 30 de novembro de 2021

A Crônica

 


Um ex-grande amigo, pessoa inteligente e culta, gostava de dizer O Brasil é um país de cronistas! Assim mesmo, com exclamação e tudo. Falava de deboche, ácido crítico que era da “literatura tupiniquim”, palavras dele. Em vão eu brandia nomes como Machado, Graciliano, Mário de Andrade, Drummond, João Cabral, Bandeira, além de Rosa – gênio. De nada adiantava, O Brasil é um país de cronistas...

            (Antes de prosseguir: me bate uma tristeza enorme ao escrever as palavras Um ex-grande amigo... Mas essa é outra história.)

            O imperdoável era que eu me esquecia de defender o gênero, a crônica, que se tornou tão grande e de tamanha importância, que eu bem poderia torcer a fala do ex-amigo e dizer O Brasil é o berço dos maiores cronistas da literatura universal!

            Daí o prazer renovado, com a crônica de Álvaro da Costa e Silva para a Folha de S. Paulo de hoje (29 nov 2021), com o título O talento das cronistas mulheres - Elas escreveram em pé de igualdade com os homens na era de ouro do gênero.

            Afirma Silva: “Um mistério da crônica como gênero tipicamente brasileiro é seu frescor. Escritos há mais de 60 ou 70 anos, no improviso e às pressas, textos feitos para o momento e para encher meia página de jornal ou de revista tinham tudo para ser esquecidos imediatamente e virar embrulho de peixe. No entanto, pela sua qualidade, vão ficar para sempre.”

            Que linda defesa do gênero ‘tipicamente brasileiro’; a palavra ‘frescor’ é magnífica; escrita nas coxas (expressão autorizada por Sérgio Rodrigues, grande cronista): ‘no improviso e às pressas’; feitas para encher página de jornal’; o destino, ‘embrulhar peixe’; no entanto, tornaram-se imortais! 

            Silva relembra os nomes de Antônio Maria, Rubem Braga, Vinicius de Moraes, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, José Carlos (Carlinhos) Oliveira, Stanislaw Ponte Preta, os conhecidos “sabiás da crônica”. E enaltece a escrita de mulheres como Clarice Lispector, autora de ótima definição para o gênero: "Vamos falar a verdade: isto aqui não é crônica coisa nenhuma. Isto é apenas".​

      Cita ainda Rachel de Queiroz, a mais longeva, Cecília Meireles, sempre  a brigar pela educação no país, Eneida de Moraes e seu livro "Cão da Madrugada" (1954),  Elsie Lessa, 40 anos como cronista de O Globo.

      Por que as mulheres haveriam de ser menos brilhantes cronistas que os marmanjos? Eram todas grandes escritoras, e escreviam crônicas. E isso vale para os tempos atuais!

      Este meu Louco por cachorros registra até o presente momento 628 crônicas, todas de qualidade mais que duvidosa, e que jamais se eternizarão. Mas que prazer eu sinto em escrevê-las, sempre nas coxas, e que não servirão nem para embrulhar peixe. 

      A propósito, gosto mesmo é de escrever cônicas esportivas, quase todas sobre futebol, e que não servirão nem para embrulhar gambá-morto-que-vai-pro-lixo.


 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/alvaro-costa-e-silva/2021/11/o-talento-das-cronistas-mulheres.shtml

 

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Microcontos de futebol




Coisa infantil

– Gosta tanto assim de futebol?

– Sim, muito!
– Coisa mais infantil.

– É verdade, cuido bem da criança que vive em mim.



O culpado

 

– Você acha que técnico ganha jogo?

– Ganhar não ganha, mas perde.

 

 

Já era

 

– Meu time perdeu...

– Mas como?

– O técnico era ruim.

 

 

O favorito

 

– Como meu time foi perder aquele jogo!

– Quem mandou jogar de salto alto?


Velho sofre!

 


                      The Real Touching Pics @realtouchin

Futebol, sabor de infância


 

Deyverson marca o segundo gol do Palmeiras

Andres Cuenca Olaondo/ReutersMAIS

 

 

Por quê gosto tanto de futebol? Porque futebol, para mim, tem sabor de infância. Desde pequeno era levado pelas mãos de meu pai ao campo da Esportiva de Guaratinguetá, onde vi jogar Pelé, Coutinho, Djalma Santos, Waldir, Bauer (pelo Bragantino), entre tantos outros craques, além do goleiro e da famosíssima zaga local: Costa, Bolar e Jorge! Dos 6 aos 16 anos de idade, joguei bola quase todo santo dia; aos domingos, de manhã e à tarde! Como tive uma boa infância, futebol para mim sempre foi um manjar.

            Serve a pequena introdução para justificar o amor deste septuagenário pelo esporte bretão – o chavão é indispensável à boa crônica esportiva. Passemos à incontestável vitória do Palmeiras, no último sábado, no Uruguai. O adversário era ninguém menos que o melhor time do país no momento, o Flamengo de Éverton Ribeiro, Arrascaeta, Bruno Henrique, Gabriel, e por que não, Michael. Minha previsão, 3 a 0 para os cariocas.

            Então deu zebra? Não deu zebra porque o Palmeiras jogou melhor, com disciplina tática e disposição física, desde o início do primeiro tempo. Mereceu a vitória, com a ajuda do imponderável!

            O belíssimo gol de Rafael Veiga, o craque do time (juntamente com Weverton, o goleiro), ocorreu aos 6 min de jogo, num passe perfeito de Mayke, lateral reserva de Marcos Rocha. Isso é sempre um perigo para o time que sai na frente, pois haverá tempo de sobra para a reação do adversário. Mas o alviverde continuou jogando bem, com sólida defesa, bem articulada com o meio-de-campo, na espera dos contra-ataques sempre perigosos.

            Esperava-se um Flamengo mais aguerrido, agressivo no segundo tempo, e não deu outra. Até que Gabriel empata o jogo com belo gol, em jogada ensaiada e com dose de sorte, pois a bola passa no mínimo espaço entre a trave e a luva do Weverton. O Palmeiras continuou se defendendo, e o jogo foi para a nervosa prorrogação, sobre-humana mesmo para jogadores e torcedores. Meu deus!

            Quando o histérico português Abel substituiu Rafael Veiga por Deyverson, pensei seriamente em desligar a tevê, a vaca célere em direção ao brejo. Porém, repito à exaustão, Futebol Não Tem Lógica! O pior jogador do time – e escrevo isso me referindo ao jogador, não à pessoa do Deyverson, que nunca vi mais gordo – rouba a bola em falha clamorosa do adversário cujo nome não reproduzo, avança livre para o gol, chuta mal, a bola bate no pé do Diego Alves, passa rente à trave e morre no fundo da rede. Gol do imponderável!

            Dois a um, aos 5 min da prorrogação! O perigo se repete, o Flamengo agora terá 25 min para empatar e até virar o jogo. Sofrimento indescritível para ambas as torcidas!

            O Palmeiras vence. Um grande jogo, o que é incomum em finais desse porte. Jogo limpo, poucas faltas, Gabriel e Felipe Neto sempre reclamando, o que é habitual. De resto, a atuação do árbitro, sem trapalhadas do VAR, foi impecável quase até o final; terminado o tempo regulamentar, ele ainda deu 3 min de prorrogação, num laivo de sadismo. Meu deus!

            Palmeiras Campeão da Libertadores pela segunda vez em 2021! E eu, de volta à boa infância.

      Que venha o Chelsea.

 

 

 

sábado, 27 de novembro de 2021

Bruce Cohen

Meus quadros favoritos


 Pintor americano, 1953.

 

“Bruce Cohen is involved with the contemporary realism movement that emerged in the late 1960s and early 1970s in reaction to the rising popularity of abstraction. His most iconic subjects are domestic interiors that contain no people, but show signs …”

 

Me engana que eu gosto

Charge do dia


 Amarildo

Festa do corona


Austríaco vai a festa na Itália para pegar Covid-19 de propósito e morre: esta a manchete do G1 hoje (26 nov 2021).

“Um austríaco de 55 anos morreu de Covid-19 após se infectar propositalmente com o coronavírus na Itália para obter um passaporte sanitário — as autoridades italianas adotam em alguns casos a infecção prévia como alternativa à vacina para acesso a determinados locais. 

O alerta foi feito na semana passada por Patrick Franzoni, coordenador da unidade anti-Covid de Bolzano, cidade italiana perto da fronteira com a Áustria. Em entrevista à emissora RAI, ele diz que pessoas, jovens e velhas, têm participado de "festas do coronavírus" para tentar se infectar propositalmente e, assim, não precisar se vacinar. 

"Aqui, temos um menino que se recupera na unidade pediátrica e um morto de 55 anos que se infectou em uma 'festa do corona'", disse.

As vacinas aprovadas contra a Covid-19 até agora têm altos graus de efetividade contra todas as formas da doença, especialmente as mais graves. Além disso, mesmo pessoas jovens e saudáveis podem contrair o coronavírus e desenvolver quadros sérios ou até morrer.”

 

            Até onde chega a estupidez humana!

 

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/11/26/austriaco-vai-a-festa-na-italia-para-pegar-covid-19-de-proposito-e-morre.ghtml

 

Imagem de santo

Meus quadros favoritos 



Bernardino Luini (1475 - 1532) foi um pintor italiano do norte, pertencente ao círculo de Leonardo da Vinci. Luini e Giovanni Antonio Boltraffio trabalharam com Da Vinci diretamente e muitos de seus trabalhos foram até atribuídos a Leonardo. 

Luini nasceu Bernardino de Scapis, em Runo, em Dumenza. Há poucos detalhes sobre sua vida. Em 1500, foi para Milão com seu pai. Estudou com Giovan Stefano Scotto e Ambrogio Bergognone. Em 1509, recebeu uma encomenda para um políptico no Museu Poldi Pezzoli, influenciado por Bernardino Zenale, uma de suas obras mais conhecidas. Quando esteve em Roma, em 1521, influenciou-se também por Melozzo da Forlì. 

Morreu em Milão. Seu filho, Aurelio Luini também foi um famoso pintor.”

 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Bernardino_Luini

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

A série continua

Non-sense photography 



Em tempos de pandemia




Variante Ômicron


Micrografia eletrônica de varredura colorida de uma célula 

(marrom) fortemente infectada com partículas do 

Coronavírus (Sars-CoV-2, em verde) isolada de um paciente.

Foto: NIH/NIAID

 

 

“A nova variante do coronavírus encontrada na África do Sul já tem um nome provavel: Nu. Com a pronúncia "niu", ela é a 13ª letra do alfabeto grego, que tem sido usado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para nomear as variantes do Sars-CoV-2 que precisam ser monitoradas.” 

 

https://oglobo.globo.com/saude/nova-variante-do-coronavirus-ja-tem-nome-nu-25293581?utm_source=Twitter&utm_medium=Social&utm_campaign=O%20Globo



Uma hora após esta postagem saiu o nome oficial da nova variante: Ômicron.


Camarilha

Segunda charge do dia 


Amarildo

Bolsa quadrilha

Charge do dia


 Jaguar

Demenciação

Aforismo

 

Perceber, analisar e acompanhar o processo de demenciação em si próprio é a última manifestação possível de sanidade mental do ser humano.


Vencedores do 63º Prêmio Jabuti

 

Jeferson Tenório, vencedor do Jabuti de Melhor Romance

com "O avesso da pele" Foto: Carlos Macedo / Divulgação

 

 

Os vencedores do 63º Prêmio Jabuti, o mais prestigioso da literatura brasileira, foram anunciados na noite desta quinta-feira (25). 

 

Eixo Literatura

 

Conto: “Flor de gume”, Monique Malcher (Jandaíra)

Crônica: “Histórias ao redor”, de Flávio Carneiro (Cousa)

Histórias em Quadrinhos: “META: Depto. de Crimes Metalinguísticos”, de André Freitas, Dayvison Manes, Marcelo Saravá e Omar Viñole (Zarabatana Books)

Infantil: “Sagatrissuinorana”, de João Luiz Guimarães e Nelson Cruz (ÔZé Editora)

Juvenil: “Amigas que se encontraram na história”, de Angélica Kalil e Amma (Quintal Edições)

Poesia: "Batendo pasto", de Maria Lúcia Alvim (Relicário)

Romance de Entretenimento: “Corpos secos”, de Luisa Geisler, Marcelo Ferroni, Natalia Borges Polesso e Samir Machado de Machado (Alfaguara)

Romance Literário: "O avesso da pele", de Jeferson Tenório (Companhia das Letras)

 

Eixo Não Ficção

 

Artes: “Atlas Fotográfico da cidade de São Paulo e arredores”, de Guilherme Wisnik, Henrique Siqueira e Tuca Vieira (AYO)

Biografia, Documentário e Reportagem: “A república das milícias: Dos esquadrões da morte à era Bolsonaro”, de Bruno Paes Manso (Todavia)

Ciências: “Ciência no cotidiano: viva a razão. Abaixo a ignorância!”, de Carlos Orsi Martinho e Natalia Pasternak Taschner (Contexto)

Ciências Humanas: “Sobreviventes e guerreiras”, de Mary Del Priore (Planeta do Brasil)

Ciências Sociais: “A razão africana: breve história do pensamento africano contemporâneo”, de Muryatan S. Barbosa (Todavia)

Economia Criativa: “Prato Firmeza Preto: Guia gastronômico das quebradas de SP”, de Amanda Rahra, Guilherme Petro, Milo Araujo e Jamile Santana (Énois Inteligência Jovem)

 

Eixo Produção Editorial

 

Capa: "Sul da fronteira, oeste do sol".Capistas: Ana Paula Hentges, Bruno Miguell Mendes Mesquita e Gabriela Heberle (Alfaguara)

Ilustração: "Carona". Ilustrador: Ilustrador: Guilherme Frederico Karsten (Companhia das Letrinhas)

Projeto Gráfico: "O Médico e o Monstro". Responsável: Giovanna Cianelli (Antofágica)

Tradução: "Divã ocidento-oriental". Tradutor: Daniel Martineschen (Estação Liberdade)

 

Eixo Inovação

 

Fomento à Leitura: Slam Interescolar SP. Responsável: Emerson Alcalde

Livro Brasileiro Publicado no Exterior: "Tupinilândia". Editora(s): Todavia e Editions Métailié

 

https://oglobo.globo.com/cultura/livros/premio-jabuti-infantil-sagatrissuinorana-ganha-livro-do-ano-jeferson-tenorio-leva-de-melhor-romance-por-avesso-da-pele-25292668

 

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Segue o Diário da Demenciação

 

14 de novembro

 

O gosto pela escrita permanece em mim, mesmo diante da incompetência de sempre, agora agravada, e mesmo percebendo que ninguém mais lê o que escrevo. Avento a hipótese de que isso possa ser uma manifestação do processo de demenciação, isso de escrever para mim mesmo, uma espécie de falar sozinho, e resolvo voltar ao meu Diário da Demenciação para desenvolver a teoria.

            Falar sozinho é coisa de maluco? Parece que não, tem gente bem normal falando sozinha pela vida afora, dizem até que se trata da forma de algumas pessoas organizarem os próprios pensamentos. Eu mesmo, antes da velhice e do tal processo, nunca falei sozinho; pensar em silêncio me bastava. Como não cultivava aquele hábito, hoje escrevo para o silêncio. Talvez seja uma explicação.

Mas pode ser coisa de maluco também, tanto o solilóquio quanto o silêncio mais fechado. Aconteceu na Itália: a mulher era conhecida na aldeia onde morava por ser uma faladeira dos infernos, uma matraca, falava sem parar – e portanto sem pensar –, para desespero de quem estava por perto. Para de falar um pouco, Madalena, que tormenta!, clamavam os vizinhos. Pois não é que certo dia Madalena parou de falar! Assim, de repente, puff!, silêncio absoluto, veio gente de todo lugar para ouvir o silêncio de Madalena, que nunca mais falou. Nunca mais até o dia de sua morte. Consumida por um cancro no estômago, de uma magreza de fazer pena, Madalena fez um pedido, a voz sumida mas ainda clara:

– Una pasta, per favore!

Comeu bem pouco, e morreu.

Aconteceu dentro de um ônibus, enquanto um grupo de estudantes de Medicina do primeiro ano fazia uma excursão a um balneário, em comemoração ao ingresso na universidade. Em meio à balbúrdia generalizada, um colega permanecia sentado na janelinha, no mais profundo silêncio. A viagem durava já cinco horas quando o moço foi provocado com insistência, Fala alguma coisa, Bernardo!

– Apóstrofe!

E permaneceu calado até o dia em que o grupo retornou ao Rio de Janeiro. Dois dias depois ele trancou a matrícula. (Agora me lembro, já contei essa história aqui no blog; repetir faz parte do processo).

 

 

17 de novembro

 

Um fio de pensamento me desviou do assunto no diário anterior. Comecei falando no significado possível de escrever para mim mesmo, o que chamei de escrever para o silêncio, e me perdi pelas histórias desse mundão de deus.

            Retorno ao tema. Que sentido poderá haver em escrever escrever escrever, sem que esta produção miserável jamais chegue aos olhos de alguém? Se a escrita fosse registrada em cadernos manuscritos – uso o plural porque o número deles passaria de 47 nessa altura dos acontecimentos –, algum dia em remoto futuro eles poderiam ser encontrados numa casa velha, no fundo de um baú qualquer, e a partir daí, ninguém sabe o que poderia acontecer. Mas os textos permanecem no hard de um computador, e a chance de que nunca sejam descobertos aumenta ainda mais. Basta uma pane no computador e puff!, desintegra-se a escrita. Ninguém há de chorar por isso.

            E por quê então continuo escrevendo para mim mesmo? Posso ensaiar algumas respostas; a primeira que me ocorre é que se trata de manifestação do processo de demenciação. (Uma certa obsessão pela grafia das palavras me persegue, desde o primeiro ano do ginásio, quando numa prova de História escrevi Brazil, assim mesmo, com zê, e toda a escola veio abaixo, ou melhor, caiu em cima de minha cabeça, fui ameaçado de reprovação e o escambau. Por isso procuro a palavra demenciação em todos os dicionários de que disponho, físicos e virtuais, não são poucos, e não a encontro. Encontro dementação, mas não gosto dela; prefiro demenciação. Uma hora dessas sugiro a palavra ao Dicionário Informal, que tanto aprecio. Até já colocaram lá a palavra avencário, de minha lavra, para orgulho meu.)

            Outra vez o fio do pensamento escorreu pela grafia das palavras e a ideia central se perdeu.

 

 

19 de novembro

 

Quantos dias serão necessários para que eu consiga desenvolver e concluir uma ideia relativamente simples?

            Vou direto ao ponto. Escrever para mim mesmo seria o pendant, o correspondente de falar sozinho. Em vez de demência, pode ser uma tentativa de preservar a sanidade mental. É isso.

            Mas pode ser demência...

Crime à luz do dia

A foto do dia

Movimentação de dragas para mineração 

no rio Madeira

Bruno Kelly/Reuters

 

 

Centenas de balsas de dragagem operadas por garimpeiros empreendem uma corrida por ouro no rio Madeira, importante afluente do rio Amazonas, navegando por vários quilômetros enquanto as autoridades estaduais e federais discutem quem é responsável por impedir a ação ilegal.

 

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2021/11/centenas-de-balsas-de-garimpo-avancam-no-rio-madeira-na-amazonia.shtml

 

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Ainda a máscara...

 



Diferentes personalidades e a Covid-19

A diferença entre...

Charge do dia


 
Nando Motta

Antártica no centro

Eu amo mapas 


Mapa centrado na Antártica

Estranhas palavras

 

Uma palavra estranha: misocinesia. O radical miso indica raiva, ódio; cinesia se refere a movimento. “Em resumo: os pequenos gestos irritantes dos outros que disparam nossos gatilhos de ódio”. É o que afirma Leandro Karnal, para O Estado de S.Paulo (24 nov 2021), na bela crônica intitulada O diabo das pequenas coisas.

Ao pé da letra, portanto, misocinesia significa “ódio aos movimentos”, uma forte resposta emocional negativa a movimentos pequenos e repetitivos de outras pessoas. Trata-se de condição comum: estudo publicado no periódico Scientific Reports mostrou que um terço da população é misocinésica.

Karnal faz referência a uma segunda palavra igualmente estranha: misofonia. “Sons como o estalar de dedos e outros podem despertar em algumas pessoas um ataque de fúria”, explica ele.

Como surgem, pergunta Karnal.  “Segundo o estudo da UBC, é que nossos neurônios-espelhos seriam ativados com a repetição. São os que impulsionam a seguir o que estamos presenciando. Sumeet M. Jaswal e Todd Handy, pesquisadores do tema, reconhecem que não sabemos exatamente por que a irritação cresce tanto em algumas pessoas.”

Agora a parte mais interessante dessa história. Segundo Karnal, “Santa Teresinha do Menino Jesus, a popular doutora da Igreja, afirmava que sofria de misocinesia. Tinha antipatia por uma religiosa no claustro e o simples fato de a confreira agitar seu rosário a irritava. ... No mesmo texto que ela identifica o horror do simples manejo das contas do rosário, a mística católica indica a solução. Passou a combater a antipatia. Criou reação oposta: todas as vezes que cruzava com a freira que a irritava, Teresinha sorria e manifestava alguma fala simpática e de acolhimento. A religiosa chegou a perguntar a ela sobre o sorriso, desconfiada. Nossa ex-irritada combateu sua disposição de antipatia e a transformou em empatia treinada e eficaz. Uma autossugestão funcional.” 

De fato, reconhecer o problema em si próprio constitui o primeiro passo para a solução. Entretanto, esta mesma solução não vem com facilidade, automática, só porque agora eu sei que que o problema existe. (Talvez isso funcione no caso de uma Santa...) Difícil “domesticar” nossos sentimentos, em especial o ódio profundamente enraizado em nós. 

Nas situações mais graves, quando o distúrbio acarreta intenso sofrimento psíquico, a abordagem psicanalítica pode ajudar. Quando analista e analisando podem trabalhar, quando a dupla analítica funciona, é possível encontrar no Inconsciente as verdadeiras razões para comportamentos estranhos, definidos por palavras estranhas. 

 

 

https://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,o-diabo-das-pequenas-coisas,70003906723

 

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Eu sou trezentos...





Eu sou trezentos, sou trezentos e cinquenta,

As sensações renascem de si mesmas 

[sem repouso,

Ôh espelhos, ôh Pireneus! ôh caiçaras!

Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!

 

Abraço no meu leito as melhores palavras,

E os suspiros que dou são violinos alheios;

Eu piso a terra como quem descobre a furto

Nas esquinas, nos taxis, nas camarinhas 

[seus próprios beijos!

 

Eu sou trezentos, sou trezentos e cinquenta,

Mas um dia afinal eu toparei comigo...

Tenhamos paciência, andorinhas curtas,

Só o esquecimento é que condensa,

E então minha alma servirá de abrigo.

 

Mário de Andrade

In Remate de males (1930)

De pauliceia desvairada a lira paulistana

Martin Claret, 2016.

 

Tamanho da Austrália

 Eu amo mapas


Comparação entre Austrália e Mediterrâneo



Entre Austrália e Europa

Uma pergunta idiota

 

“Lula faz da defesa de ditaduras a sua cloroquina”.  Este o ótimo título da crônica de hoje de Josias de Souza, colunista do UOL (23 nov 2021).

Afirma Souza: “A recente viagem de Lula à Alemanha, Bélgica, França e Espanha resultou num êxito político retumbante. ...De repente, exausto da própria liderança, Lula resolveu fazer gols contra. Depois de ser recebido com pompa por lideranças das mais festejadas democracias europeias, o presidenciável do PT afagou as ditaduras da Nicarágua e de Cuba numa entrevista ao diário espanhol El Pais.”

            "Por que Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder, e Daniel Ortega não?", disparou Lula durante a entrevista. 

Difícil imaginar pergunta mais primária, infantil mesmo. A comparação é no mínimo ridícula. Daniel Ortega estabeleceu regime de terror na Nicarágua, com enorme quantidade de assassinatos. Reelegeu-se pela quarta vez, após encarcerar sete opositores. Ele é o retrato da corrupção e do autoritarismo.

Merkel, dona de biografia impressionante na condução do governo alemão, respeitadíssima em todo o mundo, manteve-se no poder através de eleições absolutamente democráticas, obedecendo fielmente à constituição do seu país e à vontade do povo. 

Por quê Lula defende tanto as ditaduras de Cuba e Nicarágua, em contradição com o todo o mundo democrático?

E eu estava quase acreditando que ele havia mudado...

            

 

https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2021/11/23/lula-faz-da-defesa-de-ditaduras-a-sua-cloroquina.htm

 

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

O velho e bom Enem




 

O sempre competente Josias de Souza, para o UOL (22 nov 2021), matou a charada: “a tese segundo a qual o Enem passou a ter a cara do governo Bolsonaro era apenas mais uma mentira do presidente da República. A prova aplicada neste domingo tinha muitas coisas, exceto o semblante do governo. A má notícia é que Bolsonaro não deve desistir do projeto de converter o Enem numa deformidade à imagem e semelhança da sua administração.”

            Uma grata surpresa as notícias sobre este Enem em curso! O tema de redação muito pertinente, com grande alcance social, em busca do direito à cidadania para todos, inclusive para aqueles que não dispõem de documentos de identificação! 

            A questão de número 60 não poderia ser mais apropriada para o momento que vivemos:

 

“Vocês que fazem parte dessa massa

Que passa nos projetos do futuro

É duro tanto ter que caminhar

E dar muito mais do que receber

Ê, ô, ô, vida de gado

Povo marcado

Ê, povo feliz!”

        Zé Ramalho

 

            Outros temas abordados: pandemia, fome, ameaça às populações indígenas, racismo, minorias vulneráveis. Além de Zé Ramalho, obras de Chico Buarque e Gonzaguinha foram utilizadas na prova. Tudo que o presidente não gosta e vira a cara!

            Era mais uma mentira do presidente, cortina de fumaça para esconder o fracasso da recente política internacional no G20 e Oriente Médio, em contraste com o sucesso do adversário na Europa.

            Mas nada disso bate a Mentira do Século: “A Amazônia é úmida e não pega fogo.”

 

 

https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2021/11/22/enem-com-a-cara-do-governo-era-so-mais-uma-mentira-de-jair-bolsonaro.htm


Quando o santo diz não

Charge do dia


 
Autor não identificado.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Coisa de gênio

 


Escada em Chenonceau, França. Desenhada pelo gênio de Leonardo da Vinci em 1516.

David Burdeny

Fotografia




David Burdeny nasceu em 1968, em Winnipeg, província canadense de Manitoba. Autodidata, começou a fotografar aos 12 anos de idade. Graduado em Desenho de Interiores, fez mestrado em Arquitetura.

Fotógrafo premiadíssimo, fez enorme sucesso com a fotografia de um iceberg, dividida em 4 quadrantes perfeitos, contrariando assim a chamada Regra dos Terços.


Portanto, nós, os amadores, podemos nos sentir à vontade para quebrar regras.


Modestamente, mostro aqui um bom exemplo em que a regra dos terços foi utilizada, com resultado razoável.




Sabiá laranjeira

Na foto seguinte a regra foi quebrada, com resultado satisfatório, penso eu. A intenção do fotógrafo era mostrar a imensidão do Rio Negro em oposição ao céu, igualmente imenso, a pequena faixa de mata que divide a foto em duas, e a banhista de pé no meio do rio. Ela divide a foto verticalmente em duas.




Touro dourado brasileiro

Charge do dia


 Amarildo

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Má ideia?

 



Olhar Estadão: “Apanhador de recicláveis passa em frente ao Touro Dourado. Pedestres fazem fotos em frente à escultura do touro dourado diante do edifício-sede da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), na Rua XV de Novembro, região central de São Paulo. A escultura foi idealizada pelo artista plástico Rafael Brancatelli e pelo economista Pablo Spyer e foi inspirada no touro de Wall Street, localizado no distrito financeiro de Manhattan, em Nova York.” Foto Tiago Queiroz / Estadão

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Cotovelada tem consequências

 

Cotovelada de Otamendi em Raphinha

Andres Larrovere/AFP 

 


Em continuação à postagem anterior deste blog:

 

“A Conmebol anunciou hoje (17 nov 2021) a suspensão de dois árbitros que atuaram no empate entre Argentina e Brasil, pelas Eliminatórias da Copa 2022. Os uruguaios Andrés Cunha, que estava no campo, e Esteban Ostojich, que estava no VAR, foram punidos pela comissão de arbitragem por não terem mostrado cartão vermelho ao zagueiro Otamendi, que acertou uma cotovelada no rosto de Raphinha.” 

O lance foi checado pelo VAR e “Ostojich considerou que o golpe foi de "intensidade média", e ponderou que seria lance para amarelo. Segundo o texto de Igor Siqueira para o UOL, “Cunha nem viu a existência do golpe, assim como seu assistente, Richard Trinidad”.

“No ofício em que comunicou a punição, a Conmebol considerou que a atuação de Cunha e Ostojich "foram analisadas tecnicamente pela comissão, concluindo que os mesmos incorreram em erros graves e manifestos no exercício de suas funções no desenvolvimento da partida". O documento é assinado por Wilson Seneme, brasileiro que preside a comissão de arbitragem da Conmebol. A sanção é "por tempo indeterminado".

 

No meu tempo de criança, no campo da Esportiva de Guaratinguetá, a gente gritava JUIZ LADRÃO!

 

 

https://www.uol.com.br/esporte/futebol/ultimas-noticias/2021/11/17/conmebol-suspende-arbitros-de-argentina-x-brasil.htm?utm_source=twitter&utm_medium=social-media&utm_content=geral&utm_campaign=uol

 

Jogo bruto



Jogo bruto entre Brasil e Argentina, em San Juan 

Juan Mabromata/AFP/Folha de S.Paulo



Brasil e Argentina empatam em jogo sem gols, ontem em San Juan. 

            Brasil mantém invencibilidade nas Eliminatórias, com 11 vitórias e 2 empates. Argentina também se classifica por antecipação para a Copa do Mundo no Qatar. 

            Lionel Messi completamente apagado durante o jogo. Neymar fez falta? Jogo nervoso, ríspido, bruto mesmo. Uma ou outra jogada de boa técnica de ambos os lados ao longo de toda a partida, com destaque para Paquetá. Nada mais.

            Apenas um triste lance marcou para sempre a história do principal clássico sul-americano. Aos 34 minutos do primeiro tempo, Otamendi desferiu acintosa cotovelada na boca de Raphinha, em disputa de bola junto à linha de fundo da defesa argentina, depois do defensor ter sido seguidamente driblado pelo ponta brasileiro. Ele simplesmente foi à forra, não tolerou a humilhação, partiu para a agressão física, pública e criminosa, sem qualquer pudor. A tevê mostrou a boca sangrando do brasileiro.

            É possível que o árbitro uruguaio Andres Cunha não tenha visto o lance, é possível. Mas ele consultou o VAR, nada marcou, a partida seguiu. O árbitro de vídeo era Esteban Ostojich, que apitou a final da Copa América este ano, no Maracanã, vencida pela Argentina.

            A repetição das imagens a partir de então não deixou qualquer dúvida: infração grave, claríssima, o argentino deveria ter sido expulso. Hoje não há mais discussão para este tipo de lance, é cartão vermelho. Se o juiz não viu, o VAR viu. Por quê não recomendou a expulsão? 

      Para mim, o jogo perdeu a graça depois disso. Os argentinos continuaram com provocações, deboche, rispidez, deslealdade, estimulados pela torcida, como há muito não se via. Penso que os brasileiros reagiram mal a tais provocações, ou nem reagiram. Triste zero a zero.