quinta-feira, 9 de julho de 2020

Pseudopaludicola coracoralinae


Pseudopaludicola coracoralinae é batizado em
homenagem à poetisa goiana Cora Coralina
Foto: Reprodução


A reportagem, muito boa, é de Lailton Costa, para O Estado de S. Paulo (6 de jul 2020): Nova espécie de anfíbio é batizada em homenagem a Cora Coralina.
         Ela começa inspirada em poema de Cora Coralina:  “Quando o tempo muda, a saúva revoa e um trovão surdo, tropeiro, ecoa na vazante lameira do brejo e dá para ouvir o sapo-fole, o sapo-ferreiro e o sapo-cachorro, como um canto de acauã de madrugada, para marcar o tempo e chamar a chuva. Esse é um dos cenários que envolvem uma roça sertaneja no Poema do Milho, de Cora Coralina.”
O canto é de uma espécie minúscula de anfíbio de tamanho entre 1,25 cm e 1,53 cm, só agora revelado por um grupo de pesquisadores das Universidades Estaduais de Campinas (Unicamp), Paulista (Unesp), no campus Rio Claro, e da Universidade Federal de Uberlândia, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). 
Descreve Lailton: “E foi numa poça d’água temporária em meio ao milharal, formada após uma chuva no ano passado, que os pesquisadores Felipe Silva de Andrade, primeiro autor do trabalho, e Isabelle Aquemi Haga, captaram a vocalização da nova espécie em Palmeiras de Goiás, distante cerca de 71 km de Goiânia.” 
“O achado no meio do milharal levou o pesquisador Felipe Andrade a batizá-la de Pseudopaludicola coracoralinae, em homenagem à poetisa goiana Cora Coralina.” 
“A partir da análise genética e do sequenciamento do DNA, os pesquisadores puderam descobrir que uma população anfíbia anteriormente descrita como Pseudopaludicola facureae, do centro do Brasil e no próprio município de Palmeiras de Goiás, corresponde a essa nova espécie, a coracoralinae.”
Os autores explicam que decidiram homenagear a escritora por sua importância para a poesia brasileira. 
Transcrevo aqui trecho do Poema do milho.

Tempo mudado. Revôo de saúva.
Trovão surdo, tropeiro.
Na vazante do brejo, no lameiro,
o sapo-fole, o sapo-ferreiro, o sapo-cachorro.
Acauã de rnadrugada
marcando o tempo, chamando chuva.
Roça nova encoivarada,
começo de brotação.
Roça velha destocada.
Palhada batida, riscada de arado.
Barrufo de chuva.
Cheiro de terra; cheiro de mato,
Terra molhada, Terra saroia.
Noite chuvada, relampeada.
Dia sombrio. Tempo mudado, dando sinais.
Observatório: lua virada. Lua pendida . . .
Circo amarelo, distanciado,
marcando chuva.
Calendário, Astronomia do lavrador.

                  Cora Coralina







2 comentários:

  1. Poeta e sapo, cada qual ligado à terra, a seu modo. Bonita homenagem.

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  2. Aprendizados de biologia e poesia em uma mesma crônica.

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