“Diga-me qual é o seu signo e eu te direi para onde ir de férias é o mais recente caça-cliques turístico. A obsessão com a estética das constelações vem sendo impressa tanto nas camisetas da marca Stradivarius (28 reais) como nos desenhos de Clare Waight Keller para a Givenchy (1.730 reais). A Goop vende garrafas portáteis com pedras de ametista dentro para se “beber água com boas vibrações” (360 reais). Este ano, na Urban Outfitters se destacaram os “geodos místicos” convertidos em práticos e decorativos suportes de livros (137 reais), mas ainda há estoque de velas e aromatizadores de ar para celebrar os solstícios (114 reais). A K-Hole, agência que prevê tendências, já antecipava em 2015 e acertou em cheio: aproximavam-se tempos de devoção à magia em várias subtendências, todas associadas ao esotérico e ao feminismo.”
Assim tem início do esclarecedor artigo de Noelia Ramírez (26 dez 2019) para El País, intitulado O pujante negócio da astrologia contra o patriarcado. O feminismo exalta bruxas, horóscopo e memes num ramo que faz dinheiro com moda e consultoria pessoal em meio à incerteza social. Trata do novo consumo da astrologia, incluindo os aplicativos de horóscopo, com serviços personalizados diários e gratuitos, entre outros serviços pagos (mapa astral), viciantes e bem-sucedidos.
“Como observou a jornalista Erin Griffith, em um artigo do The New York Times intitulado Investidores digitais estão pondo dinheiro em astrologia, o setor de “serviços místicos” tem um potencial comercial de 2,1 bilhões de dólares (cerca de 8 bilhões de reais), depois que o Co-Star, um aplicativo baixado por três milhões de usuários que permite comparar mapas astrológicos para que “a irracionalidade invada nossas formas de vida tecno-racionalistas”, captou cinco milhões de dólares (cerca de 20 milhões de reais) em investimentos de fundos de capital de risco do Vale do Silício.”
Parece uma brincadeira! Para os consumidores, pouco importa que as informações recebidas tenham amparo científico ou não, trata-se de um paliativo mágico contra a ansiedade e o vazio, é como ir ao shopping e passar o dia a fazer compras. Não vale fazer a clássica pergunta Qual a diferença entre astrologia e Astronomia? A resposta baseada em fatos não interessa.
Em outras palavras, a verdade não está em jogo. Por isso chamei de brincadeira, que rende bilhões ao espertos e emburrece os consumidores.
O artigo de Ramírez termina com bela definição: “Passagem para o intangível, essa fuga no feminino para um pensamento mágico diante de uma tendência global de incerteza econômica e política.”
É preciso combater a ignorância, sempre. Aos suscetíveis à “nova astrologia”, proponho o estímulo ao exercício de pensar.
Parece uma certo charme do contraditório?
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