terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Minha casa é um lago de água quieta e escura


Minha casa é um lago de água quieta e escura.
No fundo, há camadas de lodo antigo,
depositado ali desde tempos remotos.
Meus pés não alcançam 
o sumidouro poço vertigem.
Há poucos peixes nesse lago obscuro,
que ali pulsam suas guelras viscosas,
sem assomar à superfície,
sem se mostrar, afeitos ao desprovido de luz.
Minha casa é inabitável,
por ela transitam espíritos, 
antigas cenas constrangimentos estranhezas
arrependimentos segredos cansaços
risadas fantasias medos
muitas dúvidas e culpas.
Minha casa é líquida,
fluida inapreensível incolor
fumo no ar de uma tarde cinza.
Minha casa é feita de material reaproveitado.
Casa casulo teia toca ninho.
Aqui me puseram, aqui quedo.
Para todo o sempre.

                                   
Paulo Sergio Viana
                                   
Poema a ser publicado brevemente, 
no livro intitulado Esmo.

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