O filme Dois Papas, dirigido por Fernando Meirelles, expõe a Igreja Católica e seus conflitos internos, ao tratar da eleição de Bento XVI (Joseph Ratzinger, na atuação discreta de Anthony Hopkins), sucessor de João Paulo. Inesperadamente, a surpresa para católicos e não católicos, a renúncia de Bento, súbita, sem explicações, quase misteriosa, para alguns, apocalíptica. Francisco (Jorge Bergoglio, por Jonathan Pryce, com ótima atuação) é escolhido o substituto, com votação maciça, mostra o filme.
Destacam-se os diálogos entre ambos, ao caminhar pelos jardins da residência papal de verão, em Castel Gandolfo, enquanto Bento ainda era o pontífice; são conversas delicadas, as palavras escolhidas com cuidado, o evidente conservadorismo de um, a vontade de reformar do outro, gente civilizada. Vez em quando uma palavra mais ríspida do Papa, o golpe assimilado com paciência pelo Cardeal.
Bento critica com visível irritação o cardeal, por declarações que contrariavam as leis da Igreja, incluindo temas como casamento de padres, homossexualidade e comunhão oferecida aos católicos divorciados. Bergoglio responde: “Passamos os três anos mais recentes repreendendo quem discordasse de nosso posicionamento em relação ao divórcio, ao planejamento familiar, ao homossexualismo, enquanto o planeta era devastado e a desigualdade crescia como um câncer. “O tempo todo, o verdadeiro perigo estava dentro, conosco”. Bergoglio se referia ao conhecimento da alta cúpula da Igreja quanto aos abusos infantis cometidos pelo clero, e o fracasso de Bento para lidar com este problema e com a corrupção. (Gente civilizada que não sabe olhar pela criança desprotegida, digo eu.)
Faltou força “física e mental” a Bento XVI para arcar com as responsabilidades do papado, talvez acometido por uma crise de fé.
Quer dizer então que o Papa é gente! – para quem ainda não sabia... Sim, o Papa é gente.
Agora, na virada do ano, Francisco aproxima-se dos fieis na Praça São Pedro, cumprimenta-os, pega criancinhas no colo, sorri seu sorriso aberto e franco, alegre, é um Papa popular e alegre, gosta de futebol, bem diferente do antecessor (um acadêmico, no dizer de Anthony McCarten, roteirista de Dois Papas). Francisco se mostra gente.
Eis que uma mulher, num gesto de extrema devoção, agarra a mão de Francisco, impede que ele se afaste, ela quer o Papa para si, deseja devorá-lo, incorporá-lo, entrar dentro dele, possuí-lo em carne e espírito, verdadeiro estado de êxtase, num transe místico, que denomino simplesmente de surto psicótico.
Francisco prega-lhe um tapa na mão e vira-se emburrado, bravo, puto da vida. Nenhuma novidade, todos já sabíamos, Francisco é gente!
Tudo isso me parece uma certa decadência da Igreja.
ResponderExcluir