Log Lines (Linhas de Registo, em tradução livre) originalmente eram longas cordas em um carretel, com nós em determinados espaçamentos, que os marinheiros desenrolavam na água para medir a velocidade da embarcação. (Daí a origem do nó náutico.)
Modernamente, as loglines surgiram em Hollywood, um artifício para facilitar a venda de um roteiro, e permitiam que os produtores (leia-se financiadores) compreendessem a história sem precisar ler o roteiro, e despertar neles o interesse pela obra.
Uma logline ou storyline é o resumo de um filme ou livro, enfim, de uma história, de preferência em uma única frase, e contem necessariamente um protagonista, seu objetivo e uma força antagônica ou obstáculo.
Eis algumas regras básicas para elaborar uma logline:
1. Não utilize nome do personagem pois é uma palavra inútil; escreva sobre alguma característica do personagem, sua profissão, caráter; utilize um ou mais adjetivos que ajudem a defini-lo, de modo a revelar algo que aumente o interesse pela história.
2. Apresente o principal objetivo do protagonista, o que irá impulsionar a história e, consequentemente, conduzir a logline também.
3. Descreva a força antagônica, um obstáculo ao objetivo principal,
algo que impeça o protagonista de conseguir seu objetivo facilmente.
4. Inclua riscos, para adicionar um caráter de urgência e trabalhar emocionalmente a história.
5. Algumas histórias necessitam de uma breve ambientação, como nas histórias de ficção científica, terror etc. Às vezes o protagonista tem história pessoal crucial para a história e isso precisa ser explicado.
6. O título é fundamental na construção da logline.
Exemplos:
Jaqueline de Sousa escreveu:
O Poderoso Chefão:
“O relutante filho de um chefão da máfia precisa assumir o controle do império clandestino de seu pai para proteger sua família. “
(a) “O relutante filho de um chefão da máfia” = protagonista.
(b) “precisa assumir o controle do império clandestino de seu pai”= objetivo.
(c) “para proteger sua família” = força antagônica.
João Nunes escreveu:
O Fugitivo
“Um médico falsamente acusado da morte da mulher (o protagonista) luta contra o relógio para encontrar o verdadeiro culpado (o objetivo) antes de ser capturado pelo polícia incansável que o persegue (o obstáculo).’
O Padrinho
“Para garantir a sobrevivência da sua família (o objetivo) o filho mais novo de um mafioso (o protagonista) tem de abandonar os seus sonhos de uma vida honesta (o obstáculo).”
Ainda Nunes: “Uma logline pode ser escrita antes, durante ou depois de se escrever o guião. Por vezes é uma primeira etapa da criação, que nos ajuda a recordar o essencial da estória, e nos serve de bússola de cada vez que nos sentimos perdidos durante a escrita. Outras vezes só a escrevemos no fim, como um resumo (para contar aos amigos ou colocar numa carta de apresentação do nosso guião, por exemplo).
Logline vencedora da competição de Loglines LA Screenwriter. A vencedora Chidi Ezeibieli escreveu:
Extremity:
“Quando terroristas nigerianos sequestram sua filha paraplégica, uma pobre expatriada americana sem ninguém para recorrer, se disfarça de extremista para se infiltrar no grupo e encontrar sua filha.”
(a) “Quando terroristas nigerianos sequestram sua filha paraplégica” = Incidente inicial.
(b) “uma pobre expatriada americana sem ninguém para recorrer” = Protagonista.
(c) “se disfarça de extremista para se infiltrar no grupo e encontrar sua filha.” = objetivo.
Há quem diga que logline não é literatura, particularmente pelo uso excessivo de adjetivos. Tenho minhas dúvidas sobre isso. Se a logline for construída apenas para contar uma história, sem qualquer outra pretensão, ela pode ser escrita com arte, bom gosto, de modo a agradar o leitor e suscitar nele ideias novas sobre o texto. Poderá então ser considerada literatura?
Fonte
Em período de seca extrema, os sedentos passarinhos procuram a fonte, mesmo temerosos dos possíveis ataques dos cachorros.
Vamos ler mais sobre o assunto, e escrever loglines, um bom exercício mental.