sábado, 31 de agosto de 2019

Tempo de namoro?

Galeria de Família


                Posso estar enganado, mas essas duas fotos me sugerem tempo de namoro! 
          Ondina com os pés na água fria do ribeirão, Ofir pescando ao lado da ponte, cigarrinho na boca. 
          Felicidade no ar.




terça-feira, 27 de agosto de 2019

Omair e Maria Helena, Ruth e Glaucinha


Galeria de Família



Este é o único registro de que disponho de nosso querido tio Omair, irmão do nosso pai, casado com tia Ruth, ambos engenheiros químicos. A foto foi tirada no Sítio do Vô Breno, pequena propriedade rural no caminho das Pedrinhas, ao sopé da Mantiqueira, em pleno vale do Paraíba.
            Ao lado dele está nossa irmã Maria Helena, compenetrada, bem agasalhada, linda menina que olha para a câmera, ambos ela e o tio acariciando algum bezerro. À direita, um empregado da fazendinha tira leite, mas a vaca também não aparece.
            Curiosa fotografia.
            Para quem não sabe, nosso avô Breno possuía gosto peculiar para dar nome aos filhos: Glaura, Gláucia, Ofir e Omair.

             E aqui está tia Ruth, no colo a menina Gláucia, conhecida por Glaucinha, filha de tio Toi e tia Glaura, nossa prima portanto. Já naquele tempo Ruth era mulher moderna, independente, cabelo curto, ideias avançadas para os interioranos de Guaratinguetá.



Enfim, uma bela foto!


Ternura em Tarantino




(Quem ainda não viu, não leia. Vá ao cinema!)

Quentin Jerome Tarantino (1963-), de Cães de AluguelEra uma vez em Hollywood, desenvolve raro percurso na história do cinema, de modo a colocá-lo na posição dos maiores gênios da sétima arte. 
            Em Cães, ele é implacável: violência é violência mesmo, com humor que se parece mais com sadismo. Não há um pingo de ternura. Os diálogos já são muito bons, sempre duros, a prender a atenção do expectador, que espera por mais violência. O cenário é pobre, um grande galpão vazio, onde os personagens traçam seus planos inviáveis. Ninguém sai incólume do cinema, na certeza de que ali está um grande diretor.
            Há ternura de sobra em Era uma vez! Tanto, que Rick Dalton (na atuação magistral de Leonardo DiCaprio) chora sem parar; mas ele se comove mesmo quando, ao contracenar com uma pequena menina, ouve dela que aquela foi sua melhor atuação no cinema. E ganha um beijo. (Aquilo se parece com o velho Tarantino?)
            A amizade entre Rick Dalton e Cliff Booth (Brad Pitt, com ótima atuação, cheia de delicadezas, porém discreta, como pedia o roteiro) também deve ser vista como manifestação de afetividade incomum nos filmes do diretor. Os dois protagonistas de Django livre, o homem branco e o homem negro, desenvolvem relação de alguma intimidade ao passarem lado a lado grande parte do filme, mas não se pode chamar aquilo de amizade. 
            Em Bastardos inglórios Tarantino é mais duro do que nunca; o tema assim o exige: pau nos chucrutes! A exagerada violência é mais humor que violência; a plateia delira quando um nazista recebe tatuada a suástica na testa! A ternura surge com o amor entre a mulher branca (dona do cinema) e o homem negro (técnico de cinema). São cenas curtas, há um único beijo, o diretor economiza na ternura, e pau nos chucrutes.
            O mesmo se repete na maioria dos filmes do diretor; traços de ternura em meio à violência que não passa de paródia. Não é isso que vemos em Era uma vez: agora esta relação se inverte, a merecida violência fica guardada para o final, enquanto que durante todo o filme há manifestações de afeto. O modo como Cliff Booth trata a prostituta adolescente em cena que se passa dentro de seu Cadillac chega a emocionar; bem verdade que Tarantino talvez tenha se inspirado em antigo e reprovável comportamento do também diretor Roman Polanski, e mostrado como se deve fazer...
            (Explícita também é a surra que o mesmo Cliff aplica em rapaz que mora na tal comunidade hippie e que furou o pneu de seu carro com uma faca. Tarantino não aprova aquele comportamento dos vagabundos da família Manson.)
            O que impressionou mesmo este blogueiro foi o modo como o diretor tratou a trágica morte de Sharon Tate, ou seja, como conseguiu resolver – com máxima ternura – o fecho do filme. Entrei no cinema esperando uma carnificina e nada disso ocorreu. O que seria a morte de Tate foi substituída pela severa punição de três paus-mandados de Manson, ou do demônio, agora sim, com a violência cheia de humor de Tarantino, para igual delírio da plateia. O desempenho da cadela de Cliff foi sensacional. (Queria uma daquela para mim!) E o filme termina com Rick Dalton sendo recebido na casa de Sharon Tate, tarde da noite, em paz e com muito amor. Linda cena, cheia de ternura.
            Esse Tarantino deve ter um coração mole como o diabo!

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

O que é logline?


Log Lines (Linhas de Registo, em tradução livre) originalmente eram longas cordas em um carretel, com nós em determinados espaçamentos, que os marinheiros desenrolavam na água para medir a velocidade da embarcação. (Daí a origem do nó náutico.)
Modernamente, as loglines surgiram em Hollywood, um artifício para facilitar a venda de um roteiro, e permitiam que os produtores (leia-se financiadores) compreendessem a história sem precisar ler o roteiro, e despertar neles o interesse pela obra.
Uma logline ou storyline é o resumo de um filme ou livro, enfim, de uma história, de preferência em uma única frase, e contem  necessariamente um protagonista, seu objetivo e uma força antagônica ou obstáculo.
Eis algumas regras básicas para elaborar uma logline:

1. Não utilize nome do personagem pois é uma palavra inútil; escreva sobre alguma característica do personagem, sua profissão, caráter; utilize um ou mais adjetivos que ajudem a defini-lo, de modo a revelar algo que aumente o interesse pela história.
             2. Apresente o principal objetivo do protagonista, o que irá impulsionar a história e, consequentemente, conduzir a logline também. 
            3. Descreva a força antagônica, um obstáculo ao objetivo principal,
algo que impeça o protagonista de conseguir seu objetivo facilmente.
            4. Inclua riscos, para adicionar um caráter de urgência e trabalhar emocionalmente a história. 
            5. Algumas histórias necessitam de uma breve ambientação, como nas histórias de ficção científica, terror etc. Às vezes o protagonista tem história pessoal crucial para a história e isso precisa ser explicado. 
            6. O título é fundamental na construção da logline.

            Exemplos:

            Jaqueline de Sousa escreveu:

O Poderoso Chefão:

“O relutante  filho de um chefão da máfia precisa assumir o controle do império clandestino de seu pai para proteger sua família. “

(a) “O relutante  filho de um chefão da máfia” = protagonista.
(b) “precisa assumir o controle do império clandestino de seu pai”= objetivo.
(c) “para proteger sua família” = força antagônica.


João Nunes escreveu:

O Fugitivo

“Um médico falsamente acusado da morte da mulher (o protagonista) luta contra o relógio para encontrar o verdadeiro culpado (o objetivo) antes de ser capturado pelo polícia incansável que o persegue (o obstáculo).’

O Padrinho

“Para garantir a sobrevivência da sua família (o objetivo) o filho mais novo de um mafioso (o protagonista) tem de abandonar os seus sonhos de uma vida honesta (o obstáculo).”

Ainda Nunes: “Uma logline pode ser escrita antes, durante ou depois de se escrever o guião. Por vezes é uma primeira etapa da criação, que nos ajuda a recordar o essencial da estória, e nos serve de bússola de cada vez que nos sentimos perdidos durante a escrita. Outras vezes só a escrevemos no fim, como um resumo (para contar aos amigos ou colocar numa carta de apresentação do nosso guião, por exemplo).


Logline vencedora da competição de Loglines LA Screenwriter. A vencedora Chidi Ezeibieli escreveu:

Extremity: 

“Quando terroristas nigerianos sequestram sua filha paraplégica, uma pobre expatriada americana sem ninguém para recorrer, se disfarça de extremista para se infiltrar no grupo e encontrar sua filha.”

(a) “Quando terroristas nigerianos sequestram sua filha paraplégica” = Incidente inicial.
(b) “uma pobre expatriada americana sem ninguém para recorrer” = Protagonista.
(c) “se disfarça de extremista para se infiltrar no grupo e encontrar sua filha.” = objetivo.



            Há quem diga que logline não é literatura, particularmente pelo uso excessivo de adjetivos. Tenho minhas dúvidas sobre isso. Se a logline for construída apenas para contar uma história, sem qualquer outra pretensão, ela pode ser escrita com arte, bom gosto, de modo a agradar o leitor e suscitar nele ideias novas sobre o texto. Poderá então ser considerada literatura?

Fonte

Em período de seca extrema, os sedentos passarinhos procuram a fonte, mesmo temerosos dos possíveis ataques dos cachorros. 

Vamos ler mais sobre o assunto, e escrever loglines, um bom exercício mental.

domingo, 25 de agosto de 2019

Fonte


Logline

Em período de seca extrema, os sedentos passarinhos procuram a fonte, mesmo temerosos dos possíveis ataques dos cachorros. 

Taxi em Teerã

Logline

Premiadíssimo diretor de cinema iraniano, em seu filme Taxi, denuncia os problemas da cidade de Teerã e seus habitantes, mesmo perseguido pelo regime e proibido de filmar por 20 anos.

To dust


Logline

Judeu chassídico, em luto profundo e perturbador pela morte da esposa, desenvolve verdadeira obsessão pelo processo de decomposição do cadáver, a despeito da dificuldade até mesmo da ciência em responder seus questionamentos.

sábado, 24 de agosto de 2019

Julieta


Logline


Espanhola muito bonita, especialista em literatura grega clássica, busca desesperadamente reaver o contato com a filha que desapareceu após retiro espiritual. 


Em coautoria com Paulo Sergio Viana

Saíra amarela e petrea Aldravia N.86





moldura
de
petrea
enfeita
saíra
amarela


Foto: Mercêdes Fabiana, ago 2019

Bravo bem-te-vi





surge o bem-te-vi
o mais bravo do jardim
agora o silêncio



Foto: Mercêdes Fabiana, ago 2019.


João e Beatriz

Historinha para Gabriela

João é um belo saí-azul, casado com Beatriz.
Beatriz é uma linda saí-azul, mas vestida de verde.
Eles costumam tomar banho na fonte do nosso jardim.
De repente, uma surpresa!
Tudo termina bem.



João toma seu banho



Agora é Beatriz quem banha



Hora de secar ao sol



Eis que surge um intruso,
querendo tomar seu banho!
João e Beatriz botam ele para correr



A paz volta a reinar
João, atento, toma conta da fonte


quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Banho infantil



...
– Ai Vô, caiu sabão no meu olho!
– Então pisca.
– Ai Vô, está ardendo.
– Abre o olho que passa.
– Está ardendo, Vô.
– Abre e fecha, abre e fecha o olho.
– Ai ai ai!
– Continua piscando.
– ...
– Está passando?
– Está.
– Não falei pra você piscar!
– Doeu, Vô.
– Já passou, meu amor.
...

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Ámon, em ouro maciço

Minhas esculturas favoritas



Ámon (Amon ou Amun): deus da mitologia egípcia.

“Seu nome significa "O oculto", uma vez que originalmente era a personificação dos ventos. 
Durante o Antigo e o Médio Império Amon existiu como uma divindade extremamente local e pouco importante.  Adorado em Tebas (uma cidade distante dos grandes centros de poder localizados em Mênfis, Heliópolis e Abidos), Amon provavelmente dividia sua mitologia com mais sete deuses locais. 
Com a fundação da XVIII dinastia e o despontar do Novo Império, Amon muda completamente de status. De origem tebana, os faraós da XVIII dinastia deslocaram definitivamente o eixo do poder para o Alto Egito, fazendo de Tebas sua capital. Magicamente, Amon converte-se no deus do Império, propiciador da vitória nas batalhas e pai de todos os demais deuses do panteão. Como que para legitimar esta mudança de funções divinas, Amon é relacionado a Rá, o mais antigo dentre os deuses que um dia foram adorados como criador da vida e pai de todos os deuses. Sob o nome de Amon-Rá, Amon passa a ser reverenciado sob aspectos criadores e solares. Embora seu nome continue significando O Oculto ou O Escondido, escasseiam as referências de Amon como personificação dos ventos.”

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Ofir lê o jornal

Galeria de Família



Precioso registro de uma atividade sagrada de nosso pai, sempre cercada de rigoroso ritual.
Para ele, ler o jornal (O Estado de S. Paulo; ele não gostava do Globo, o preferido de Ondina) era coisa séria. Pra começar, ninguém podia TOCAR no jornal antes dele. Tirar um caderno interno, hoje denominado Caderno 2, para espiar a manchete, isso era crime inafiançável! Seu Ofir ficava uma fera.
Sentava-se à mesa, lia página por página dobrando cuidadosamente cada caderno, e ao final da leitura parece que o jornal nunca havia sido manuseado!
A foto mostra a sala do apartamento de Cabo Frio. Na mesa, ainda o velho bule de café, saco de pão, e o troco da padaria! Na pequena mesa à direita, uma garrafa de Velho Barreiro...
Saudade.

130 anos de Cora Coralina



Sombras


Tudo em mim vai se apagando.
Cede minha força de mulher de luta em dizer:
estou cansada.
A claridade se faz em névoa e bruma.
O livro amado: o negro das letras se embaralham,
entortam as linhas paralelas.
Dançam as palavras,
a distância se faz em quebra‑luz.
Deixo de reconhecer rostos amigos, familiares.
Um véu tênue vai se incorporando no campo da retina.
Passam lentamente como ovelhas mansas os vultos conhecidos
que já não reconheço.
É a catarata amortalhando a visão que se faz sombra.
Sinto que cede meu valor de mulher de luta,
e eu me confesso:
estou cansada.

domingo, 18 de agosto de 2019

3 microcontos caninos




– Lila, não vê que este abacate está podre?
– É por isso que estou comendo.


– Lila, não beba desta água suja.
– Está deliciosa!


– Lila, cuidado, tem um rato morto ali na frente!
– Onde, onde, onde?

***

Observação interessante:

A  ideia de juntar três microcontos em uma única postagem, todos versando sobre um tema comum, foi de meu irmão Paulo, tempos atrás. Gostei.
            O leitor tanto pode lê-los como contos independentes, ou juntá-los numa única história, contada em três minicapítulos. A intensão do autor, esta pertence tão somente ao autor.
            No caso dos 3 microcontos caninos, depreende-se que Lila é um cadelinha levada e cheira e come tudo que encontra pela frente. De resto, alguém já viu um cão parar para cheirar uma rosa? Muito menos para comê-la. Já um rato morto...

Quem é o rei?


...

– Hoje, 42 anos da morte do Rei!

– Ray Charles?

– NÃO, Elvis!

– Ah...

– Pelo menos não pensou no Roberto.

– Pensei...

– Desisto.

...

Aldravia N.85










canta
o
sabiá-laranjeira
rei
do
jardim


Fotos: AVianna, ago 2019

Segundas-e-sábados


“Amigo? Aí foi isso que eu entendi? Ah não, amigo, para mim, é diferente. Não é um ajuste de dar um serviço ao outro, e receber, e saírem por este mundo, barganhando ajudas, ainda que sendo com o fazer a injustiça aos demais. Amigo, para mim, é só isso: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isso, quase; e os todos sacrifícios. Ou – amigo – é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é. Amigo meu era Diadorim; era o Fafafa, o Alaripe, Sesfrêdo. Ele não quis me escutar. Voltei da raiva.
            Digo ao senhor: nem em Diadorim mesmo eu não firmava o pensar. Naqueles dias, então, eu não gostava dele? Em pardo. Gostava e não gostava. Sei, sei que, no meu, eu gostava, permanecente. Mas a natureza da gente é muito segundas-e-sábados. Tem dia e tem noite, versáveis, em amizade de amor.”



Guimarães Rosa, Grande Sertão Veredas, Edição Comemorativa, Nova Fronteira, 2006, pg. 164.

sábado, 17 de agosto de 2019

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Estranhos silêncios


Em recente visita a Mendoza, na Argentina, conhecemos certa vinícola bem conceituada, produtora de bons vinhos no Vale do Uco. Fomos recebidos num belo salão com vista para a cordilheira, ao centro a mesa imponente de madeira maciça, o enólogo a ocupar a cabeceira, quatro visitantes de cada lado da mesa. À minha frente, um casal de descendentes de japoneses, os traços orientais bem marcados, conversando em português.
            Após as devidas informações técnicas foi servido o primeiro vinho: duro, rascante, carrasco, travo amargo na boca, barato. Notei que o casal de japoneses cheirou o copo mas não provou do líquido. Seriam experts a ponto de recusarem o vinho apenas pelo desagradável buquê? Passei a observá-los com maior atenção.
            O segundo vinho era um pouco melhor. Repetiu-se a cena: o casal provou do aroma e não levou o copo à boca. Nessa altura do relato o leitor já adivinhou que o mesmo ocorreu com os três vinhos servidos em seguida, sendo o último muito bom. Os japoneses não provaram qualquer um deles, o que provocou em mim incontrolável reação, em tom de voz exaltado:
            – Não é possível! Assim eu vou ter que beber os vinhos de vocês! Por que não provaram os vinhos?
            – Nós não bebemos.
            – Não bebem?
            – Não bebemos.
            O silêncio tomou conta da sala. Nada mais pude dizer ou perguntar. Encerrou-se ali a degustação.
            Da conversa sempre animada com meu amigo M. ouvi surpreendente informação, que na oficina de escrita frequentada por ele a esmagadora maioria dos alunos nada escreve. O dever de casa consiste apenas na escrita de texto com tema previamente selecionado pelo professor, com prazo de entrega de longos quinze dias. Apenas meu amigo escreve (e bem!), mais ninguém. 
            Houve tempo – isso já foi relatado neste blog inúmeras vezes – em que coordenei oficina de escrita para psicanalistas em formação. Um dos participantes, porque nada escrevia transcorridas algumas semanas, ao ser questionado com delicadeza pela razão daquela atitude, respondeu de forma intempestiva:
            – Se eu escrever vou me revelar!
            O silêncio tomou conta da sala. Depois do susto retomamos a discussão sobre literatura.
            O analisando entra no consultório, deita-se no divã, permanece em prolongado  silêncio.
            – Estou sem assunto, doutor. O senhor me ajuda?
            – Como?
    – Puxa um assunto.
    – Assunto meu?
            – Pode ser.
            Agora é o psicanalista quem faz silêncio. 
            

Aldravia N.84




belo
imponente
 sabiá-poca
de
peito
branco



Foto: AVianna, ago 2019

Cavalo marinho e concha

A foto do dia


Detalhe: a concha incrustada!
Exímio joalheiro!

domingo, 11 de agosto de 2019

No Leblon

Galeria de Família



Momento especial em um boteco do Leblon, Rio de Janeiro, em companhia de Maria Helena e Shaun. Ela, parecendo uma artista de cinema, garantia que lá serviam o chope mais gelado da cidade...

Mercêdes & Camões

Galeria de Família



Havíamos nos mudado há pouco para a casa no Lago, as plantas ainda crescendo, e desfrutávamos da companhia de Camões, um amor de cãozinho. Mercêdes, muito bonita e animada com o jardim, abraça-o carinhosamente.
            Nossa homenagem a Camões pelo Dia dos Pais. Convive conosco até hoje uma filha dele, Nina Simone, beirando os 15 anos de idade.

Homenagem ao pai

Galeria de Família




chapéu velho na cabeça
roupa folgada no corpo
pés descalços
vê de vitória
em ambas as mãos
alegria esfuziante
no sorriso largo
– tempo de solteiro

Paulo Sergio Viana também presta sua homenagem:


Quem é o homem que ria,
sobre a pedra assentado?
Pensei que o conhecia,
conhecia só um lado...

sábado, 10 de agosto de 2019

Saí-azul






Saí-azul, fêmea e macho.


Fotos: Vianna, ago 2019.

A ridícula ideia de Rosa Montero



Quem leu o espetacular A louca da casa (Ediouro, 2004), jamais haverá de esquecer o nome de Rosa Montero, jornalista e escritora madrilena, nascida em 1951. 
            Surge agora A ridícula ideia de nunca mais te ver (Todavia, 2019), estupendo livro, misto de biografia, memórias e romance, com tradução de Mariana Sanchez e bela capa de Luciana Facchini. 
            Rosa Montero entusiasmou-se com o diário de Marie Curie, escrito entre abril de 1906 e abril de 1907, em que ela “conversa” com o amado marido, morto há pouco tempo. Também a autora havia perdido seu companheiro; não foi difícil juntar as duas histórias.
            A linguagem de Rosa Monteiro é única, espelha uma personalidade inquieta, cheia de vida, que sabe pensar e transmitir o que pensa. A leitura flui deliciosa ao longo de todo o livro. Não resisto e reproduzo aqui trecho do primeiro parágrafo:

“Apenas em nascimentos e mortes é que saímos do tempo. A Terra detém sua rotação e as trivialidades com que desperdiçamos as horas caem no chão feito purpurina. Quando uma criança nasce ou uma pessoa morre, o presente se parte ao meio e nos permite espiar durante um instante pela fresta da verdade – monumental, ardente e impassível. Nunca nos sentimos tão autênticos quanto ao beirarmos essas fronteiras biológicas: temos a clara consciência de viver algo grandioso.”

            “As horas que desperdiçamos caem no chão feito purpurina” é uma frase poética para se guardar!
            De quebra, tomamos conhecimento da vida heroica de Marie Curie, suas descobertas, duas vezes premiada com o Nobel – Física e Química – notável cientista e mulher, descobridora do Rádio e do Polônio. Morreu vítima da radiação constante que recebia em seu laboratório.
Livro magnífico, que também trata da morte, do luto e das maneiras de superá-lo, mas antes de tudo trata da vida.

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Cresce a correspondência




Iniciar a Correspondência com o Irmão nesse blog é alguma coisa que emociona, entusiasma, arrebata mesmo. Minha postagem Arrependimento, culpa e castigo (1) de 8 de agosto provocou a imediata Resposta (2) do irmão, reproduzida também no Loucoporcachorros. Agora sou eu quem responde ao irmão.
            Brilhante como sempre, Paulo inicia seu texto com uma bomba:  “Um poema não se justifica”. A frase de efeito é perfeita, além de absolutamente verdadeira. (Aquilo de “poetastro” é puro charme.) O poeta não precisa nem deve justificar-se; ele escreve, o leitor que faça a parte dele. Porém, tanto cutuquei a onça com vara curta que, magnânimo, Paulo resolveu responder. Tolerância e paciência para com o irmão não lhe faltam.
            Em primeiro lugar ele resume minhas ideias e considera com propriedade a epígrafe pessoana que grafei: “O poeta é um fingidor...” E Paulo é um grande poeta! Em seguida apresenta sua resposta.
            Ele menciona fato que evitei em meu texto, com o qual concordo e agora dou ênfase: o arrependimento “encarado como culpa, com a conotação puramente religiosa que se lhe atribui, de fato, ele se torna autoflagelação descabida.” As religiões, especialmente aquelas de origem judaico-cristã, ouso dizer que inventaram a Culpa, e dela tiram proveito até hoje. Pecar, confessar, receber o perdão após penitência, e voltar a pecar é mecanismo engenhoso que alivia a culpa. Em meu texto anterior salientei que “voltar a pecar” é inevitável e inerente à natureza humana. Alguma coisa vamos aprendendo ao longo da vida, a duras penas, com sofrimento às vezes extremo, e até chegamos a evitar a repetição de determinado erro, mas isso é exceção. Acumular conhecimento é fácil, difícil é a aprendizagem emocional. Desenvolver tolerância para consigo mesmo, reconhecer as circunstâncias que nos levam a equívocos, tornar consciente aquilo que é inconsciente e que nos move até mesmo contra o nosso desejo, tudo isso é bem mais difícil. (A Psicanálise pode ajudar.)
            Em seguida, com aguda perspicácia, Paulo afirma que “as palavras têm suas nuances de significado”, e que “arrependimento pode também significar ‘exame de consciência’, ‘autocrítica’, termos que, de fato, não têm lugar no poema. Bem, aqui ouvimos a voz do poeta, o peso que ele dá a cada palavra, a intenção de transmitir o inefável, o penetrar no mundo simbólico da poesia. Culpa já não é mais Culpa, é apenas uma ideia. Paulo apresenta, pois, brilhante solução para o emprego da palavra arrependimento.
            Resta o Castigo. Paulo pondera que “não há ninguém que olhe para seus malfeitos sem sentir vergonha, a menos que padeça de amoralidade”, e que  “dificilmente se pode evitar o constrangimento de tê-lo cometido”. Vergonha e constrangimento são sentimentos muito fortes, que machucam a alma; desenvolver, sinceramente, a tal tolerância para consigo mesmo pode abrandá-los. Em meu texto anterior assinalei que é mesmo “desconfortável” esta posição de reconhecer o erro e tornar a repeti-lo, mesmo buscando emendar-se. No entanto, que mais podemos fazer? 
            A prosseguir nessa linha de pensamentos, entramos em terreno pantanoso, movediço, o árduo caminho que persegue a compreensão da Natureza Humana. Mais uma vez, os homens se dividem entre os que creem e os que não creem, e isso faz toda a diferença. Deixemos para outro momento.
            É com entusiasmo – e pouca arte – que dou prosseguimento a esta Correspondência com o Irmão. Ele me faz pensar e sou grato por isso.





Resposta de Paulo Sergio

Resposta


Um poema não se justifica. Mesmo em se tratando de modesta trova, como a que postei aqui há poucos dias https://blogdopaulosergioviana.blogspot.com/2019/08/castigo.htm
 mesmo quando vem da lavra de rematado poetastro - o poema paira acima, e sempre, das mesquinhas razões humanas. Pode ser analisado, criticado, dissecado, mas nunca justificado. 
Para minha surpresa, aquelas pobres quatro redondilhas mereceram de André Vianna um comentário brilhante, elegante e judicioso, em seu blog (https://loucoporcachorros.blogspot.com/2019/08/arrependimento-culpa-e-castigo.html) . 
Confesso que me senti lisonjeado e espantado com a quantidade de apurados pensamentos que a minha trovinha suscitou. Tantos e tais pensamentos instigantes, que me vem o desejo de responder a eles. Que me perdoem a inconveniência: longe de mim o desejo de justificar o poeminha.
André, com a ênfase que lhe é característica, pondera:
- o poeta, sendo por definição fingidor, trata de momentos (circunstâncias) de sua vida, que se expressam em versos: trata de sentimentos momentâneos;
- arrependimento é irmão gêmeo da culpa;
- culpa “constrói o calabouço” do martírio, da autoflagelação, que nada constrói na estrutura mental do culposo;
- embora seja necessária a humildade de reconhecer os erros, não cabe a culpa, pois ”são inerentes à constituição“ do sujeito, são inevitáveis, próprias do humano (às vezes demasiado humano);
- reconhecer o erro é uma posição desconfortável, mas a culpa não redime.

Vejamos:
Tudo gira em torno do castigo representado pelo ”arrependimento“. Encarado como culpa, com a conotação puramente religiosa que se lhe atribui, de fato, ele se torna autoflagelação descabida. No entanto, as palavras têm suas nuances de significado.  Leia-se uma das definições de ”arrependimento“, no dicionário Caldas Aulete: ”Mudança de opinião ou de atitude em relação a fatos passados“. Arrependimento pode também significar, portanto, ”exame de consciência“, ”autocrítica“, termos que não caberiam numa trova, por serem excessivamente desprovidos de poesia. Fora, assim, do peso da culpa.
Alguém dirá: se é assim, por que chamá-lo ”castigo“? A resposta é singela: porque não há ninguém que olhe para seus malfeitos sem sentir vergonha, a menos que padeça de amoralidade. Mesmo sabendo que o erro é inerente ao humano, dificilmente se pode evitar o constrangimento de tê-lo cometido. Não fora assim, e o homem não ficaria motivado a emendar-se.
Para tal castigo, só vejo uma solução: rir de si mesmo, das próprias trapalhadas, vida afora.
Ou, sendo fingidor, fingir que é dor a dor que deveras sente...