Quem leu o espetacular A louca da casa (Ediouro, 2004), jamais haverá de esquecer o nome de Rosa Montero, jornalista e escritora madrilena, nascida em 1951.
Surge agora A ridícula ideia de nunca mais te ver (Todavia, 2019), estupendo livro, misto de biografia, memórias e romance, com tradução de Mariana Sanchez e bela capa de Luciana Facchini.
Rosa Montero entusiasmou-se com o diário de Marie Curie, escrito entre abril de 1906 e abril de 1907, em que ela “conversa” com o amado marido, morto há pouco tempo. Também a autora havia perdido seu companheiro; não foi difícil juntar as duas histórias.
A linguagem de Rosa Monteiro é única, espelha uma personalidade inquieta, cheia de vida, que sabe pensar e transmitir o que pensa. A leitura flui deliciosa ao longo de todo o livro. Não resisto e reproduzo aqui trecho do primeiro parágrafo:
“Apenas em nascimentos e mortes é que saímos do tempo. A Terra detém sua rotação e as trivialidades com que desperdiçamos as horas caem no chão feito purpurina. Quando uma criança nasce ou uma pessoa morre, o presente se parte ao meio e nos permite espiar durante um instante pela fresta da verdade – monumental, ardente e impassível. Nunca nos sentimos tão autênticos quanto ao beirarmos essas fronteiras biológicas: temos a clara consciência de viver algo grandioso.”
“As horas que desperdiçamos caem no chão feito purpurina” é uma frase poética para se guardar!
De quebra, tomamos conhecimento da vida heroica de Marie Curie, suas descobertas, duas vezes premiada com o Nobel – Física e Química – notável cientista e mulher, descobridora do Rádio e do Polônio. Morreu vítima da radiação constante que recebia em seu laboratório.
Livro magnífico, que também trata da morte, do luto e das maneiras de superá-lo, mas antes de tudo trata da vida.
Rosa Montero é um talento! Tem razão o entusiasmo.
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