(Quem ainda não viu, não leia. Vá ao cinema!)
Quentin Jerome Tarantino (1963-), de Cães de Aluguela Era uma vez em Hollywood, desenvolve raro percurso na história do cinema, de modo a colocá-lo na posição dos maiores gênios da sétima arte.
Em Cães, ele é implacável: violência é violência mesmo, com humor que se parece mais com sadismo. Não há um pingo de ternura. Os diálogos já são muito bons, sempre duros, a prender a atenção do expectador, que espera por mais violência. O cenário é pobre, um grande galpão vazio, onde os personagens traçam seus planos inviáveis. Ninguém sai incólume do cinema, na certeza de que ali está um grande diretor.
Há ternura de sobra em Era uma vez! Tanto, que Rick Dalton (na atuação magistral de Leonardo DiCaprio) chora sem parar; mas ele se comove mesmo quando, ao contracenar com uma pequena menina, ouve dela que aquela foi sua melhor atuação no cinema. E ganha um beijo. (Aquilo se parece com o velho Tarantino?)
A amizade entre Rick Dalton e Cliff Booth (Brad Pitt, com ótima atuação, cheia de delicadezas, porém discreta, como pedia o roteiro) também deve ser vista como manifestação de afetividade incomum nos filmes do diretor. Os dois protagonistas de Django livre, o homem branco e o homem negro, desenvolvem relação de alguma intimidade ao passarem lado a lado grande parte do filme, mas não se pode chamar aquilo de amizade.
Em Bastardos inglórios Tarantino é mais duro do que nunca; o tema assim o exige: pau nos chucrutes! A exagerada violência é mais humor que violência; a plateia delira quando um nazista recebe tatuada a suástica na testa! A ternura surge com o amor entre a mulher branca (dona do cinema) e o homem negro (técnico de cinema). São cenas curtas, há um único beijo, o diretor economiza na ternura, e pau nos chucrutes.
O mesmo se repete na maioria dos filmes do diretor; traços de ternura em meio à violência que não passa de paródia. Não é isso que vemos em Era uma vez: agora esta relação se inverte, a merecida violência fica guardada para o final, enquanto que durante todo o filme há manifestações de afeto. O modo como Cliff Booth trata a prostituta adolescente em cena que se passa dentro de seu Cadillac chega a emocionar; bem verdade que Tarantino talvez tenha se inspirado em antigo e reprovável comportamento do também diretor Roman Polanski, e mostrado como se deve fazer...
(Explícita também é a surra que o mesmo Cliff aplica em rapaz que mora na tal comunidade hippie e que furou o pneu de seu carro com uma faca. Tarantino não aprova aquele comportamento dos vagabundos da família Manson.)
O que impressionou mesmo este blogueiro foi o modo como o diretor tratou a trágica morte de Sharon Tate, ou seja, como conseguiu resolver – com máxima ternura – o fecho do filme. Entrei no cinema esperando uma carnificina e nada disso ocorreu. O que seria a morte de Tate foi substituída pela severa punição de três paus-mandados de Manson, ou do demônio, agora sim, com a violência cheia de humor de Tarantino, para igual delírio da plateia. O desempenho da cadela de Cliff foi sensacional. (Queria uma daquela para mim!) E o filme termina com Rick Dalton sendo recebido na casa de Sharon Tate, tarde da noite, em paz e com muito amor. Linda cena, cheia de ternura.
Esse Tarantino deve ter um coração mole como o diabo!
Estou louca pra ver esse filme e a sua crítica me deixou agora com mais vontade ainda!
ResponderExcluirEspero que esteja tudo bem. Saudade!
Vou acabar gostando deste Tarantino...
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