sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Resposta de Paulo Sergio

Resposta


Um poema não se justifica. Mesmo em se tratando de modesta trova, como a que postei aqui há poucos dias https://blogdopaulosergioviana.blogspot.com/2019/08/castigo.htm
 mesmo quando vem da lavra de rematado poetastro - o poema paira acima, e sempre, das mesquinhas razões humanas. Pode ser analisado, criticado, dissecado, mas nunca justificado. 
Para minha surpresa, aquelas pobres quatro redondilhas mereceram de André Vianna um comentário brilhante, elegante e judicioso, em seu blog (https://loucoporcachorros.blogspot.com/2019/08/arrependimento-culpa-e-castigo.html) . 
Confesso que me senti lisonjeado e espantado com a quantidade de apurados pensamentos que a minha trovinha suscitou. Tantos e tais pensamentos instigantes, que me vem o desejo de responder a eles. Que me perdoem a inconveniência: longe de mim o desejo de justificar o poeminha.
André, com a ênfase que lhe é característica, pondera:
- o poeta, sendo por definição fingidor, trata de momentos (circunstâncias) de sua vida, que se expressam em versos: trata de sentimentos momentâneos;
- arrependimento é irmão gêmeo da culpa;
- culpa “constrói o calabouço” do martírio, da autoflagelação, que nada constrói na estrutura mental do culposo;
- embora seja necessária a humildade de reconhecer os erros, não cabe a culpa, pois ”são inerentes à constituição“ do sujeito, são inevitáveis, próprias do humano (às vezes demasiado humano);
- reconhecer o erro é uma posição desconfortável, mas a culpa não redime.

Vejamos:
Tudo gira em torno do castigo representado pelo ”arrependimento“. Encarado como culpa, com a conotação puramente religiosa que se lhe atribui, de fato, ele se torna autoflagelação descabida. No entanto, as palavras têm suas nuances de significado.  Leia-se uma das definições de ”arrependimento“, no dicionário Caldas Aulete: ”Mudança de opinião ou de atitude em relação a fatos passados“. Arrependimento pode também significar, portanto, ”exame de consciência“, ”autocrítica“, termos que não caberiam numa trova, por serem excessivamente desprovidos de poesia. Fora, assim, do peso da culpa.
Alguém dirá: se é assim, por que chamá-lo ”castigo“? A resposta é singela: porque não há ninguém que olhe para seus malfeitos sem sentir vergonha, a menos que padeça de amoralidade. Mesmo sabendo que o erro é inerente ao humano, dificilmente se pode evitar o constrangimento de tê-lo cometido. Não fora assim, e o homem não ficaria motivado a emendar-se.
Para tal castigo, só vejo uma solução: rir de si mesmo, das próprias trapalhadas, vida afora.
Ou, sendo fingidor, fingir que é dor a dor que deveras sente...


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