sábado, 18 de junho de 2016

A força do desejo

Os responsáveis de Orlando é o título da crônica de Contardo Calligaris na Folha de S. Paulo (16/06/2016), sobre o ocorrido numa boate da Flórida na madrugada de domingo passado. Um homem armado de fuzil semiautomático matou 49 pessoas e feriu 53.  
            Primeiro surgiu a história de que se tratava de um homofóbico furioso. Depois, soube-se que o assassino era frequentador assíduo da boate Pulse e que era usuário de aplicativo para encontros da comunidade gay.
            A explicação básica para o fenômeno psicológico, quem nos dá com clareza e simplicidade é Calligaris:

“Há uma regra básica para a qual nunca encontrei exceções, em mais de 30 anos de clínica. Claro, qualquer um pode discordar do desejo e da conduta sexual de outros; mas quando alguém se sente compelido a agir para impedir ou punir uma conduta sexual diferente da sua é que, de fato, ele está tentando reprimir seu próprio desejo de se engajar nessa conduta diferente. Quem agride, abusa ou tenta inibir os membros de uma minoria sexual está tentando reprimir nele mesmo um desejo que, às vezes, ele nem sequer consegue reconhecer.
É sempre assim: só odiamos a diversidade que detestamos ou receamos em nós mesmos. Um indivíduo sai atirando para matar algo que está dentro dele e que ele não sabe mais como silenciar.”

            Há um outro detalhe interessante nessa trama. É a declaração do pai do assassino: afirmou que o filho não precisava matar os homossexuais porque ao final eles seriam punidos, ganhando o inferno. Que efeito uma ideia como esta teria na mente do filho, um homossexual enrustido? O que ele poderia fazer com o desejo tão forte dentro de si? Matar-se?
Optou por matar inocentes e morrer com eles.
A Psicanálise introduziu um novo conceito a respeito do comportamento psicótico; penso que se aplica bem aos “terroristas” de modo geral. Daí nossa dificuldade para compreender as atitudes deles, preferindo rotulá-los como terroristas.





Um comentário:

  1. Como é difícil aceitar o diferente no outro. Como é difícil aceitar o diferente em si mesmo.
    Quanto moralismo vazio!

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