Há dois dias comentei nesse blog o filme Drive my car, dirigido por Ryusuke Hamaguchi, verdadeira obra prima, em meu ponto de vista.
http://loucoporcachorros.blogspot.com/2022/04/doraibu-mai-ka-ou-drive-my-car.html . Não estava claro para mim se o roteiro havia sido baseado em livro ou apenas em um conto de Haruki Murakami, renomado escritor japonês. Imediatamente após ver o filme, minha mulher encomendou Homens sem mulheres, de Murakami (1ª edição Objetiva, 2015; 6ª reimpressão, Alfaguara, 2022).
O livro – que chegou em dois dias – contém sete contos, dos quais destaco o primeiro, Drive my car, e o último, Homens sem mulheres. A escrita é agradável, fluente, correta, e prende a atenção do leitor. Logo no início da primeira história surge a contratação de uma motorista pela personagem principal. No filme, este tema é central, porém surge depois de acontecimentos decisivos para o desenrolar da trama. Posso dizer que diretor e roteirista encaixaram a história da motorista de maneira brilhante, a dar a impressão que esta surgiu em seguida ao drama principal. É a arte de escrever roteiros, aqui levada à perfeição!
Eis pequena amostra de diálogo entre a motorista e o protagonista do conto – e do filme:
“– Que cruel.
– É, é uma ideia cruel.
– Como ele havia dormido com sua esposa, o senhor queria se vingar dele?
– Não é bem vingança – disse Kafuku. Mas eu não conseguia me esquecer desse fato. De jeito nenhum. Eu me esforcei muito para esquecer. Mas foi em vão. A imagem de minha mulher nos braços de outro homem não me saía da cabeça. Essa cena sempre voltava. Como se uma alma que não tinha para onde ir estivesse grudada no canto do teto, sempre me vigiando. Depois da morte da minha mulher, eu achava que esse sentimento desapareceria com o tempo. Mas não. Parece até que ficou mais forte. Precisava dar um jeito no que sentia. Para isso, eu precisava eliminar algo que era como uma ira que tinha dentro de mim.” (p.42)
Este é o tema inicial do filme, seguido do aparecimento da motorista. O filme acrescenta sua dramática existência, com uma infância pobre de afeto, sem qualquer perspectiva de uma vida melhor.
Tenho por hábito antigo ‘checar’ o conteúdo de livros e seus respectivos filmes. Ambos podem ser ótimos, como em O nome da rosa, obra de Humberto Eco. O livro pode ser bom e o filme ruim, o que ocorre na maioria das vezes. Ambos podem ser péssimos, como Perfume, história de um assassino. Às vezes o filme supera em muito o próprio livro; cito apenas dois exemplos: O carteiro e o poeta e Drive my car.
Literatura e Cinema formam em belo par na Arte contemporânea.
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