Doraibu mai kā, ou Drive My Car é um épico japonês com 3 horas de duração. Minha tentativa será a de resumi-lo aqui, após tê-lo visto numa noite, e revisto no dia seguinte, tantas as emoções que em mim despertou. (Até o momento, na plataforma MUBI.)
Mais uma vez ficção e realidade se entrelaçam a ponto de se tornarem indistintas, com um olhar extremamente humano e com o “tempo” dos orientais, muito lento, repleto de detalhes tão pequeninos que talvez seja necessário mesmo ver o filme várias vezes.
A direção é de Ryûsuke Hamaguchi, roteiro de Ryûsuke Hamaguchie e Takamasa Oe. Elenco: Hidetoshi Nishijima, Park Yu-rim, Reika Kirishima, Tôko Miura. São nomes que me soam pouco familiares, nem sei como pronunciá-los, porém, ao final, são pessoas que eu gostaria de conhecer, conversar com elas. A informação de que disponho é a de que Hamaguchi e Oe se basearam em diferentes contos do escritor japonês Haruki Murakami para escrever o roteiro.
Hamaguchi acredita que histórias salvam vidas, e enumera cuidadosamente personagens que aos poucos vão revelando suas histórias pessoais. No princípio, Oto, a esposa do diretor e ator de teatro Yûsuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima) cria histórias (e assim sobrevive) após ter relações sexuais com diferentes parceiros e com o próprio marido, responsável por anotá-las.
Com a morte de sua mulher, Kafuku se muda de Tóquio para Hiroshima e se entrega de corpo e alma a uma nova montagem da peça Tio Vanya, de Anton Tchekov. As experiências de vida recentes de Kafuku se misturam com as relações que ele desenvolve durante o ensaio da peça, principalmente com o galã Takatsuki (Masaki Okada), ex-amante de Oto.
O mesmo ocorre com a atriz surda Lee Yoo-na (Park Yu-rim), a única sul-coreana no elenco, que ensaia originalíssima comunicação através da linguagem de sinais com o diretor, os colegas de teatro e com o público. Considero este um dos pontos altos do filme.
Porém, a relação mais impactante ocorre com a motorista Misaki (Tôko Miura), exigência feita pelos administradores para que Kafuku pudesse trabalhar; ele é obrigado, muito a contragosto, a ceder o carro antigo de estimação à motorista. Ao final do filme, conhecemos os dramas vividos por Misaki, motorista desde adolescente.
Cada uma dessas personagens se esmera em contar suas próprias histórias, e de como chegaram até aquele presente momento de suas vidas, agora entrelaçadas a outras personagens. A totalidade delas, as histórias, é contada dentro do carro, quando Kafuku se desloca de um lugar a outro. (Uma das exigências de Kafuku aos administradores foi a de que sua moradia ficasse a uma hora do teatro, local dos ensaios diários, para que durante o trajeto ele pudesse repassar os textos.)
Durante os ensaios, os dramas pessoais de cada um se mesclam com a história de Tio Vanya. Ficções que dão forças para essas pessoas seguirem adiante, encarando não só o trauma da realidade já vivida, como também a incerteza do que está por vir.
Ao final, o expectador será capaz de apontar a personagem com quem ele mais se identifica. Detalhe de menor importância é o fato de Drive my car ter ganho o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2022. É o Filme que valoriza o Prêmio, não o contrário.
Um filme inesquecível, para ser revisto de tempos em tempos.
Esse Louco dá um trabalho danado. Demorei três dias para ver e rever o filme. Só parei quando gostei. É excelente, quase igual a crônica acima.
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