terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Parasita ganha todos os prêmios




O diretor sul-coreano Bong Joon-ho fez um filme brilhante, original, espetacular mesmo, chamado Parasita, título que chama atenção, intriga, provoca e leva o expectador ao cinema, e ele não se decepciona, aplaude.
            (Tenho dificuldade para escrever sobre o filme sem contar a história, aquilo que modernamente se chama de spoiler; prefiro a nossa expressão ‘contar a história’, bem mais afetuosa.) 
Enumero apenas 10 fatos que me pareceram marcantes, numa síntese esquemática, com a pretensão de descrever, mais do que revelar. Destaco a dualidade, a simetria e a assimetria constantes. (O que faço mesmo é organizar minhas ideias através da escrita, para pensar melhor o filme.)
            
1.  2 famílias: 2 maridos, 2 mulheres, cada uma com 2 filhos, 1 menino e 1menina em cada família, de modo a perfazer 2 meninos e 2 meninas. 

2.  2 condições sócio-econômicas opostas, pobreza e riqueza extremas.

3.  2 casas ou moradias distintas, tão marcantes, elaboradas com tantos detalhes, que poderiam ser consideradas também protagonistas.




4. A casa da família rica, na ficção, foi criada pelo famoso arquiteto Namgoong Hyeonja. Tem linhas retas, é contemporânea, a sala com imensa janela de vidro ao fundo. O projeto é do cenógrafo Lee Ha Jun, construído em terreno baldio da Coreia do Sul, com calculada incidência de luz solar sobre o jardim, por exigência do diretor. A casa é tão real que é possível que alguém, mesmo durante o filme, tenha buscado no Google informações sobre sua origem e localização. 


(Divulgação)

5. Os pobres vivem em um buraco fétido, subterrâneo sem iluminação, onde nunca chega a luz solar, onde abundam insetos e todo tipo de quinquilharias; e eles são acumuladores de pobreza. A única pequena janela do buraco se abre para o rés da rua, onde vizinhos mijam à vontade. (Há quem viva ainda hoje em tais habitações na Coreia do Sul.)




7.  A família pobre, sem qualquer caráter, à sua maneira está bastante viva para praticar falcatruas, contar mentiras, espoliar (origem da gíria spoiler) o próximo, em busca de uma vida melhor, pois o buraco onde habita cheira mal. Eles têm esperança, representada por uma pedra mágica que ganharam de presente (portanto, sem qualquer esforço).

8.  A família rica é disfuncional, pobre de ideias, atolada na superabundância material, tudo de ótima qualidade porque vem dos Estados Unidos. Não sabem o que significa ter esperança porque têm tudo, não precisam de mais nada. (Mesmo assim, há uma cena em que o motorista despeja na mesa uma dezena de quinquilharias ou eletrônicos.) Eles toleram os pobres, só não suportam o cheiro deles, o que no filme não é um mero detalhe.

9.  2 famílias parasitas; pensando bem, quando o filme termina, percebemos que todos são parasitas.

10.  Ao final, sobram 2 de cada lado. (Ops!, quase conto a história.)

            Há muito mais para ser pensado, apenas não posso contar aqui. Mas é um grande filme, para entrar para a história do cinema.

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