segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Paraíso Perdido, o Filme!



Um bom filme lava a alma!
         Assisto o argentino/espanhol O Cidadão Ilustre e me delicio com a mistura literatura e cinema; vejo o americano Luckyque me fala ao coração ao tratar da velhice e da morte; e agora me deparo com filme brasileiro da melhor qualidade, comparável ao melhor cinema do mundo, com o título maravilhoso de Paraíso perdido, que trata da paixão.
         Não há outra razão para colocá-los juntos nesta crônica, a não ser que ambos têm bons diretores, ótimos atores, uma boa história para ser contada, e excelentes roteiros. Que mais é preciso para se rodar um bom filme?
         A baiana nascida em Salvador Monique Gardenberg (1958) é cineasta, diretora teatral e produtora cultural. Pensou realizar um filme popular; recorreu à musica dita brega e foi buscar um clássico do gênero, Márcio Greyck, autor de Impossível Acreditar que Perdi Você: “Venha me dizer sorrindo / Que você brincou / E que ainda é meu / Só meu, o seu amor.”   
(Interrompo aqui esta crônica e peço ao meu caro leitor que ouça essa música, composta em 1973, antes de prosseguir na leitura: https://www.youtube.com/watch?v=N9N1ymZObCg).
         Monique reuniu elenco espetacular: Erasmo Carlos, Júlio Andrade, Seu Jorge, Hermila Guedes, Júlia Konrad, Malu Galli, Jaloo, Lee Taylor, Humberto Carrão, Marjorie Estiano e outros. O desempenho de cada um deles, a começar por Erasmo Carlos, o patriarca da família, certamente sob a melhor direção, é ponto alto do filme. (Erasmo conta que a diretora o orientou a assistir a "Violência e paixão" (1974), do diretor italiano Luchino Visconti, para compor o personagem.)
         A história se passa num cabaré ou boate de qualquer cidade brasileira. Melhor dizer as histórias, pois a trama é composta de histórias de amor dos membros da família que administra a boate. Homofobia, violência contra a mulher, amor livre, a paixão levada ao limite extremo, são apresentados através de fantástica trilha sonora (a cargo de Zeca Baleiro).
         A música brega embala a paixão vivida por cada um: o sofrimento de um homem cuja mulher desapareceu, a paixão de um travesti por um rapaz que não se aceita homossexual, o amor livre entre duas ex-presidiárias e um policial, o cantor que deseja ser ator (Seu Jorge está magnífico nesse papel, além de ser um grande cantor). Paixão na medida certa.
         Compõem a trilha sonora nomes bem conhecidos como Márcio Greyck, Reginaldo Rossi, Ângela Maria, Paulo Sérgio, Odair José, José Augusto, Roberto Carlos, Zé Ramalho, Waldick Soriano e outros mais.   
         Eis como a diretora define seu filme: “O filme é um grito de amor e liberdade em contraposição a esse conservadorismo e moralismo, que eu não esperava do Brasil”. ..."É uma homenagem a essa música romântica que já foi tão rejeitada e vítima de preconceito, exatamente como nos outros temas que trato no filme.”  ... Completa Marjorie Estiano: "Para mim, brega é uma maneira extrema, desmedida e rasgada de falar. Não acho que seja pejorativo. Às vezes, dizemos como é preciso se portar para parecer elegante. Mas no amor não há esse lugar de elegância".
         Uma palavra sobre Ímã, personagem central do filme, representada por Jaloo, um estreante no cinema. Dono de voz original, potente, canta vestido de mulher mas só admite ser chamado de homem.
         Enfim, um grande e emocionante filme, brasileiríssimo! 

2 comentários:

  1. Vamos tentar ver? Mas onde?
    A julgar pela informação do louco, parece que não é filme para o “grande público”.

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