“... o que me
deixa mais desmoralizado ultimamente é a suspeita de que, no ritmo em que as
coisas vão, não é impossível que a literatura, o que melhor me protegeu nesta vida contra o
pessimismo, possa desaparecer. Ela sempre teve inimigos. A religião foi, no
passado, a mais decidida a liquidá-la estabelecendo censuras severíssimas e
armando fogueiras para queimar os escritores e editores que desafiavam a moral
e a ortodoxia. Depois foram os sistemas totalitários, o comunismo e o fascismo,
que mantiveram viva aquela sinistra tradição. E também o foram as democracias,
por razões morais e legais, que proibiam livros, mas nelas era possível
resistir, brigar nos tribunais, e pouco a pouco aquela guerra foi sendo ganha
–isso acreditávamos–, convencendo juízes e governantes de que, se um país quer
ter uma literatura – e, em última instância, uma cultura – realmente criativa,
de alto nível, tem de tolerar, no campo das ideias e das formas, dissidências,
dissonâncias e excessos de toda índole.”
O parágrafo publicado por Mario Vargas Llosa em El País (17 Mar
2018), em artigo que traz o título Novas inquisições – O feminismo é hoje
o mais o mais resoluto inimigo da literatura, que pretende depurá-la do
machismo, dos preconceitos múltiplos e das imoralidades, é tão elucidativo, que o reproduzo aqui integralmente.
Em seguida o autor complementa:
“Agora o mais
resoluto inimigo da literatura, que pretende depurá-la do machismo, dos
preconceitos múltiplos e das imoralidades, é o feminismo. Não todas as
feministas, claro, mas as mais radicais, e por trás delas amplos setores que,
paralisados pelo temor de serem considerados reacionários, extremistas e
falocratas, apoiam abertamente essa ofensiva antiliterária e anticultural. Por
isso quase ninguém se atreveu a protestar aqui na Espanha contra o “decálogo
feminista” de sindicalistas que pede a eliminação das salas de aula de autores
tão raivosamente machistas como Pablo Neruda, Javier Marías e Arturo Pérez-Reverte.”
Llosa cita ainda a análise da
escritora Laura Freixas sobre Lolita, de Nabokov, onde ela afirma que o
protagonista era um pedófilo incestuoso, estuprador de uma menina que era filha
da sua própria esposa. Completa Llosa, mordaz: “Esqueceu-se de dizer que era
também um dos melhores romances do século XX.”
E Llosa conclui: “...graças aos incêndios e ferocidades
dos livros a vida é menos truculenta e terrível, mais sossegada, e nela os
humanos convivem com menos traumas e com mais liberdade. Aqueles que se
empenham em que a literatura se torne inofensiva trabalham na verdade para
tornar a vida invivível, um território onde, segundo Bataille, os demônios
terminariam exterminando os anjos. Queremos isso?”
Os que amamos a Literatura não queremos isso!
O que Llosa
esqueceu-se de dizer (está perdoado, pois não vive entre nós) é que o maior inimigo da Literatura é o não-leitor, aquele que não lê. Podemos
dizer que o Brasil ainda é um país inimigo da Literatura. As estatísticas são
alarmantes sobre os índices de analfabetismo funcional – este sim, poderoso
inimigo da Literatura.
Impensável, pois,
a vida sem a Literatura.
Excelentes os dois pontos de vista - de Llosa e do louco. Ainda voto no analfabetismo como o inimigo número 1. E fico a cogitar: não haverá gente que participa dos dois grupos - feministas analfabetas funcionais?
ResponderExcluirMuita gente em ambos os grupos!
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