Meu querido André,
escrevo para lhe desejar um feliz Natal e muita saúde em 2019.
Tenho escrito pouco, nem mesmo respondi sua última carta, com duas ótimas recomendações. Não é desculpa não, mas tenho trabalhado demais. Você não sabe da novidade: abri um salão de beleza! Acredita? Eu dona de meu próprio salão?
Tinha gente pensando que eu estava juntando dinheiro para ir a Nova Iorque; que nada, fui juntando meu dinheirinho na surdina, aprendi como aplicar no tal tesouro direto, para o que faltava, fiz um pequeno empréstimo no banco, e pronto, cá estou eu proprietária.
SALÃO DA SUZETE
O nome não poderia ser outro porque Suzete com zê é a minha marca de sorte desde que me conheço por gente e sempre que alguém se espanta e pergunta se Susete não é com esse respondo que meu nome é com zê desde o nascimento. Meu pai fez questão de registrá-lo assim e assim há de ficar até o dia de minha morte e depois.
Eu queria estampar no letreiro que o salão é misto, corta cabelo de homem e de mulher. Mas a coisa hoje está complicada, André, não estamos mais divididos em homens e mulheres. São tantas as variações que é difícil enumerá-las; além dos clássicos masculino e feminino, há o trans-homem, transmulher, travesti, transgênero, homem transsexual, mulher transsexual, pessoa transexual, mulher trans, homem trans, neutro, sem gênero, cross gender, pessoas trans, pessoas MTF, pessoas FTM, e não sei quantos tipos mais.
Resolvi a questão:
SALÃO DA SUZETE
– cortamos cabelo sem discriminação –
É claro que contratei três ajudantes para cortar do resto, porque eu só corto cabelo de homem (e similares).
Vai bem o negócio (assim acabo conhecendo NY!), gostaria muito que você visitasse o salão algum dia. Já pensou, se abro uma filial em NY? Daí não volto para o Brasil, só de férias, pra passar o verão na Bahia. Que a coisa aqui tá preta, André, você sabe. Os eleven do supremo não se entendem, tem gente vendo Jesus em pé-de-goiaba, o atual presidente indiciado novamente, o antigo continua preso, o novo alarmando, a Polícia Federal trabalhando freneticamente desde as 6 da matina e não dá conta de prender tanto corrupto vagabundo, o foragido italiano disfarçado de político mineiro, e o pior de tudo, a sofrência comendo solta.
(Disso tenho verdadeiro desgosto. Um país que já teve um João Gilberto, um Tom Jobim, um Vinícius de Moraes, a mpb cantada no mundo inteiro, hoje canta sertanejo, sertanejo universitário, e agora, sofrência. Puta-que-o-pariu. Ups!, escapou.)
Estou providenciando a compra do tal Anthony Marra que você recomendou no blog, que não paro de ler por nada desse mundo. Também por sua orientação comprei Haicais Tropicais, e me encantei com um haicai de Alberto Marsicano:
caem folhas do salgueiro
desejaria varrer o jardim
antes de partir
Fiquei fã do haicai, que não conhecia, confesso. Mas também gosto muito das quadras no blog de seu irmão Paulo. Ele é mesmo um poeta!
Fico por aqui, é a última cartinha do ano. Não deixe de me responder o quanto antes.
Beijo da sempre sua,
Suzete.
Feliz Natal, Suzete! Te vejo en NY!
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