Penso que um certo desprezo pela literatura
policial, verificada principalmente entre intelectuais acadêmicos e outros que
chamaríamos de puristas, não se justifica. Ela é tão boa como qualquer outra.
Ou tão ruim. Tempo houve em que este blogueiro era fã ardoroso de Luiz Alfredo
Garcia-Rosa, (e ainda é), professor de Psicologia, autor de livros importantes
para a Psicanálise, e que de repente passou a escrever livros policiais e
divertir-se a mais não poder. Suas obras ganharam fama através de minissérie da
Globo, nas quais despontava o detetive Espinosa. Confesso que li sua obra completa,
em torno de dez volumes.
Desde
então, não mais li qualquer livro policial. Até que encontro crítica
extremamente elogiosa a Alberto Mussa,
autor de O senhor do lado
esquerdo – o romance da Casa das Trocas (Record, 2011). Fui conferir: Literatura policial,
grande Literatura.
A originalidade da escrita de Mussa surge logo
no primeiro capítulo:
“Não é a geografia, não é a arquitetura, não
são os heróis nem as batalhas, muito menos a crônica de costumes ou as imagens
criadas pela fantasia dos poetas: o que define uma cidade é a história de seus
crimes.
Não me refiro, é claro, aos delitos
vulgares. Em qualquer lugar do mundo há criminosos incaracterísticos,
previsíveis, triviais. Falo dos crimes fundadores, dos crimes necessários; e
que seriam inconcebíveis, que nunca poderiam ter existido a não ser na cidade a
que pertencem.”
No
capítulo seguinte, quando anuncia o crime em questão, o autor o faz de forma
direta:
“O crime que vitimou o secretário da
presidência da república, no governo Hermes da Fonseca, aconteceu no velho
bairro imperial de São Cristóvão, na antiga rua do Imperador (atual avenida
Pedro Segundo), onde se erguia a lendária mansão denominada Casa das Trocas.
A Casa das Trocas, que foi residência
da marquesa de Santos...”
Pode-se
supor que, a partir daí, a narrativa estará recheada de fatos e personagens
históricos, misturados às cenas relativas ao crime principal; digo principal
porque são incontáveis os crimes secundários, artifício de que o autor se
utiliza para escrever um livro de quase 300 páginas.
A construção do personagem principal, o detetive Baeta, é primorosa!
Se
a marquesa de Santos é citada logo de início, é de se supor também que haverá
muita libidinagem...
A
história é ótima; melhor ainda a forma como é contada: grande literatura.
Se
não houver o tal preconceito besta contra a literatura policial, o futuro
leitor há de se divertir muito com Alberto Mussa.
Editora poderia ter escolhido outra cor para a capa do livro!
ResponderExcluirTio, como sou fá do Louco e seguidor de suas indicações, li em uma semana o livro. Primoroso, devorei o livro como não de costume. É por estas e por outras, que todos os dias dou uma passada por aqui!
ResponderExcluirObrigado!
Obrigado a você, Miledi, pela presença.
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