sexta-feira, 3 de novembro de 2017

O senhor do lado esquerdo



                Penso que um certo desprezo pela literatura policial, verificada principalmente entre intelectuais acadêmicos e outros que chamaríamos de puristas, não se justifica. Ela é tão boa como qualquer outra. Ou tão ruim. Tempo houve em que este blogueiro era fã ardoroso de Luiz Alfredo Garcia-Rosa, (e ainda é), professor de Psicologia, autor de livros importantes para a Psicanálise, e que de repente passou a escrever livros policiais e divertir-se a mais não poder. Suas obras ganharam fama através de minissérie da Globo, nas quais despontava o detetive Espinosa. Confesso que li sua obra completa, em torno de dez volumes.
            Desde então, não mais li qualquer livro policial. Até que encontro crítica extremamente  elogiosa a Alberto Mussa, autor de  O senhor do lado esquerdo – o romance da Casa das Trocas (Record, 2011). Fui conferir: Literatura policial, grande Literatura.
             A originalidade da escrita de Mussa surge logo no primeiro capítulo:

“Não é a geografia, não é a arquitetura, não são os heróis nem as batalhas, muito menos a crônica de costumes ou as imagens criadas pela fantasia dos poetas: o que define uma cidade é a história de seus crimes.
           Não me refiro, é claro, aos delitos vulgares. Em qualquer lugar do mundo há criminosos incaracterísticos, previsíveis, triviais. Falo dos crimes fundadores, dos crimes necessários; e que seriam inconcebíveis, que nunca poderiam ter existido a não ser na cidade a que pertencem.”

            No capítulo seguinte, quando anuncia o crime em questão, o autor o faz de forma direta:

“O crime que vitimou o secretário da presidência da república, no governo Hermes da Fonseca, aconteceu no velho bairro imperial de São Cristóvão, na antiga rua do Imperador (atual avenida Pedro Segundo), onde se erguia a lendária mansão denominada Casa das Trocas.
           A Casa das Trocas, que foi residência da marquesa de Santos...”

            Pode-se supor que, a partir daí, a narrativa estará recheada de fatos e personagens históricos, misturados às cenas relativas ao crime principal; digo principal porque são incontáveis os crimes secundários, artifício de que o autor se utiliza para escrever um livro de quase 300 páginas.
             A construção do personagem principal, o detetive Baeta, é primorosa!
            Se a marquesa de Santos é citada logo de início, é de se supor também que haverá muita libidinagem...
            A história é ótima; melhor ainda a forma como é contada: grande literatura.
            Se não houver o tal preconceito besta contra a literatura policial, o futuro leitor há de se divertir muito com Alberto Mussa.

3 comentários:

  1. Editora poderia ter escolhido outra cor para a capa do livro!

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  2. Tio, como sou fá do Louco e seguidor de suas indicações, li em uma semana o livro. Primoroso, devorei o livro como não de costume. É por estas e por outras, que todos os dias dou uma passada por aqui!
    Obrigado!

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