sábado, 7 de outubro de 2017

Entrevista com Suzete


Não há dúvida de que a pessoa de Suzete tem despertado interesse e certa curiosidade desde a publicação do Folhetim, tanto em livro (O mito do vaso partido e outros escritos – ExLibris editora, 2010), como no blog.  https://loucoporcachorros.blogspot.com.br/search/label/Folhetim
Os que acompanham nossa correspondência me pedem mais detalhes sobre a vida desta cabelereira que aprecia a boa Literatura. Depois de tanto tempo trocando cartas com ela, resolvi entrevistá-la, e o fiz pelo telefone, às 19 h de ontem (4 out 2017), depois que o salão fechou suas portas.
            Eis sobre o que conversamos:

A: Olá, Suzete, como vai? É um prazer entrevistá-la para o blog, e agradeço por isso.

Suzete: A honra é minha, André. Ou devo chamá-lo de Louco, como muitos fazem no blog?

A: Você escolhe.

Suzete: Vou bem, André, como sempre cortando cabelo de homem, lendo, (infelizmente os livros estão muito caros), escrevendo, para espanto geral e inveja de minhas colegas de salão.

A: E o melhor é que você ama tudo o que faz, não é verdade?

Suzete: Verdade! Podem dizer o que for, doutor T. andou tentando diminuir meu trabalho, o resultado você já sabe, escrevi na última cartinha.

A: Alguma novidade no salão?

Suzete: Ih! rapaz, você nem sabe. Outro dia entrou uma mulher com jeito de homem, meio bruta, camisa xadrez e calça jeans, tênis Nike masculino preto, foi logo perguntando Tem alguma Suzete aí?
O salão estava cheio, olhamos todas espantadas, inclusive as freguesas que estavam sendo atendidas e as que aguardavam.
            Tem sim, a gerente respondeu, É essa aí, apontando para mim, Mas ela só corta cabelo de homem.
            O silêncio então foi de morte e durou a eternidade! Depois que falou, Marly, a gerente, percebeu o fora que havia dado.
A mulher não se fez de rogada: É com ela mesmo que eu quero cortar.
Apontei minha cadeira de trabalho, ela sentou-se, Como é seu nome, perguntei, Rodrigo, respondeu firme, voz grossa, sem margem para qualquer dúvida.   
            O corte já ia adiantado quando resolvi lhe perguntar de onde me conhecia, pois havia entrado no salão falando meu nome. A resposta foi um susto para mim e será um susto maior ainda para você, André: Eu sigo o Louco por cachorros, foi lá que fiquei sabendo do seu gosto por cortar cabelo de homem.
            Veja você, o Louco está ficando conhecido, e eu com clientes novos.

A: Que história, Suzete! O desfecho muito me apraz.

Suzete: Mas o desfecho vem agora. Rodrigo conferiu o corte, passou a mão sobre a cabeça, disse que gostou, levantou-se da cadeira, ajeitou a camisa, pagou-me... e pediu meu telefone!

A: E você?

Suzete: Dei o telefone, ora essa, que não sou pessoa de preconceitos. Pode surgir daí uma amizade interessante, mas não haverá de passar de amizade. Fique tranquilo.

A: E as leituras, como estão?

Suzete: Você sabe que sigo quase sempre as dicas do Louco. Estou lendo Mais de uma luz, do Amós Oz, e gostando muito. O Homem é fera, pena que tenham dado o Nobel para um japa, em vez do Oz. No ano passado foi pior, deram o prêmio para o tocador de viola americano, uma vergonha.
            Ah, comprei no sebo um livrinho muito bonito de haicais, da Adriana Calcanhoto, e estou gostando. Ela não segue as mesmas regras que você, mas acho que isso não tem importância. Vou ler um:

no brasil floriu
entre os ipês
o haicai japonês

            Outro que amei:

o pato, menina,
é um animal
com buzina

            Pode parecer meio ingênuo, mas para uma cabeleireira...

A: Cabeleireira de muito bom gosto! Além das cartas que publico no blog, você tem escrito mais alguma coisa?

Suzete: Estou juntando crônicas para um volume intitulado Memórias de uma cabeleireira. O que você acha?

A: O título está ótimo! Vamos ver as crônicas. O caso do Rodrigo precisa entrar. Se concordar, faço a capa do livro para você.

Suzete: Que ótimo! Qualquer dia mando uma para você criticar, que você é bom nisso...

A: Vamos ficando por aqui, Suzete. Em outro momento esta entrevista haverá de prosseguir. Muitíssimo obrigado.

Suzete: O prazer foi meu. Grande abraço.



4 comentários:

  1. Não acho justo chamar o Bob Dylan de tocador de viola americano, Suzete!!

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  2. Suzete publicando livro vai ser um acontecimento e tanto! Vamos todos ao lançamento!

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  3. Tio André esta Suzete é uma figura, mas na próxima entrevista, se houver, e tiver a oportunidade, questione-a sobre sua teoria do dedo podre, fiquei curiosíssimo!

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