Há pouco mais
de um mês este blog tratou de tema de grande interesse, sob o título Empatia em xeque. (http://loucoporcachorros.blogspot.com.br/2017/03/empatia-em-xeque.html)
O psicólogo canadense Paul Bloom
(Professor de Psicologia na Universidade Yale) fez afirmação bombástica, a de
que a “Empatia piora o mundo”.
Agora
surge o texto de Ferran Ramon-Cortés (diplomado em Administração de empresas e
especialista em Comunicação) no El País (6 - mai -
2017), Os riscos da
empatia projetada, a falsa sintonia que pode machucar. Ele inicia com o
pertinente relato de caso:
“Tenho
um amigo que foi operado do
coração um ano atrás. Era uma cirurgia simples e de pouco risco,
realizada com o uso de um cateter, sem necessidade de nenhuma intervenção
maior. Algumas semanas antes do procedimento, ele contou o fato a uma amiga em
quem confia muito. Ela, fortemente consternada, lhe disse que imaginava que ele
estivesse preocupado (“coração é coração, nunca se sabe”, disse ela), mas ele,
com um sorriso, respondeu que não, que, embora uma cirurgia no coração sempre
cause forte impacto, aquela era muito simples e quase sem riscos.
Um dia
antes da internação, a amiga lhe telefonou.
-- Amanhã será a cirurgia. Como você
está?
-- Tudo bem. Preparado – respondeu o
meu amigo.
-- Estou perguntando porque, quando
você me contou, senti que estava muito preocupado... – acrescentou ela.”
Ramon-Cortés chama o episódio de “erro
empático”. A tal amiga, sempre preocupada com tudo e com todos, com a melhor
das intenções, expressou o que ela estava sentindo, diante do risco de uma
operação cardíaca. A isso o autor chamou de “empatia projetada”, o que não
ajuda em nada no relacionamento com o outro, que sentirá que não o entendemos.
Afirmo que, diante do outro, (a) é
desejável que possamos perceber suas expressões emocionais; e (b) que o nosso próprio
julgamento não contamine aquilo que estamos captando.
A capacidade
de percepção pode ser aprendida e aprimorada, o que haverá de influenciar nosso
relacionamento com as pessoas. (No exercício da Medicina, o desenvolvimento
desta qualidade é considerada fundamental para a boa Relação Médico-Paciente.)
Os julgamentos perturbam nossa
capacidade de percepção da realidade alheia e vemos apenas aquilo que queremos
ver. De igual modo, é preciso aprender e desenvolver a capacidade de ouvir sem
julgar, o que não é fácil.
A análise pessoal pode ser de grande
auxílio nesse mister, pois nos apresenta a nós mesmos antes que olhemos para o
outro: somos todos humanos, imperfeitos, seres ainda em desenvolvimento,
arraigados em muitos aspectos na infância da humanidade. O fundamentalismo
religioso talvez constitua-se no maior obstáculo para ouvir sem julgar: a
existência de dogmas, o moralismo, o preconceito, impedem nossa isenta
percepção da realidade.
Continuemos, pois, pensando a Empatia.
Realmente o tema se expande e aprofunda a cada texto do Louco. É um exercício constante, o de aquietar nossa mente e emoções para perceber o outro.
ResponderExcluirExiste uma diferença clara entre "sentir junto com o outro" e "sentir tomando o lugar do outro". Há vivências que podem ser compartilhadas, outras que são intransferíveis. Talvez o conceito de solidariedade seja o mais universal deles. Não depende de religião.
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