sábado, 13 de maio de 2017

Empatia projetada

Há pouco mais de um mês este blog tratou de tema de grande interesse, sob o título Empatia em xeque. (http://loucoporcachorros.blogspot.com.br/2017/03/empatia-em-xeque.html)
O psicólogo canadense Paul Bloom (Professor de Psicologia na Universidade Yale) fez afirmação bombástica, a de que a “Empatia piora o mundo”.  
            Agora surge o texto de Ferran Ramon-Cortés (diplomado em Administração de empresas e especialista em Comunicação) no El País (6 - mai - 2017), Os riscos da empatia projetada, a falsa sintonia que pode machucar. Ele inicia com o pertinente relato de caso:

“Tenho um amigo que foi operado do coração um ano atrás. Era uma cirurgia simples e de pouco risco, realizada com o uso de um cateter, sem necessidade de nenhuma intervenção maior. Algumas semanas antes do procedimento, ele contou o fato a uma amiga em quem confia muito. Ela, fortemente consternada, lhe disse que imaginava que ele estivesse preocupado (“coração é coração, nunca se sabe”, disse ela), mas ele, com um sorriso, respondeu que não, que, embora uma cirurgia no coração sempre cause forte impacto, aquela era muito simples e quase sem riscos.
Um dia antes da internação, a amiga lhe telefonou.
-- Amanhã será a cirurgia. Como você está?
-- Tudo bem. Preparado – respondeu o meu amigo.
-- Estou perguntando porque, quando você me contou, senti que estava muito preocupado... – acrescentou ela.”

Ramon-Cortés chama o episódio de “erro empático”. A tal amiga, sempre preocupada com tudo e com todos, com a melhor das intenções, expressou o que ela estava sentindo, diante do risco de uma operação cardíaca. A isso o autor chamou de “empatia projetada”, o que não ajuda em nada no relacionamento com o outro, que sentirá que não o entendemos.
Afirmo que, diante do outro, (a) é desejável que possamos perceber suas expressões emocionais; e (b) que o nosso próprio julgamento não contamine aquilo que estamos captando.
A capacidade de percepção pode ser aprendida e aprimorada, o que haverá de influenciar nosso relacionamento com as pessoas. (No exercício da Medicina, o desenvolvimento desta qualidade é considerada fundamental para a boa Relação Médico-Paciente.)
Os julgamentos perturbam nossa capacidade de percepção da realidade alheia e vemos apenas aquilo que queremos ver. De igual modo, é preciso aprender e desenvolver a capacidade de ouvir sem julgar, o que não é fácil.
A análise pessoal pode ser de grande auxílio nesse mister, pois nos apresenta a nós mesmos antes que olhemos para o outro: somos todos humanos, imperfeitos, seres ainda em desenvolvimento, arraigados em muitos aspectos na infância da humanidade. O fundamentalismo religioso talvez constitua-se no maior obstáculo para ouvir sem julgar: a existência de dogmas, o moralismo, o preconceito, impedem nossa isenta percepção da realidade.
Continuemos, pois, pensando a Empatia.




2 comentários:

  1. Realmente o tema se expande e aprofunda a cada texto do Louco. É um exercício constante, o de aquietar nossa mente e emoções para perceber o outro.

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  2. Existe uma diferença clara entre "sentir junto com o outro" e "sentir tomando o lugar do outro". Há vivências que podem ser compartilhadas, outras que são intransferíveis. Talvez o conceito de solidariedade seja o mais universal deles. Não depende de religião.

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