Manchete
comum a vários jornais de hoje: BRASIL DESENCANTA!
De fato, o
escrete jogou bem, diante de um adversário fraquíssimo, desanimado, sem vontade,
confiante no resultado entre os dois outros adversários, cujo empate o
classificaria. Não deu outra: Dinamarca classificada, embora perdendo de 4 a 0
para o Brasil.
Como os dois
jogos anteriores terminaram em 0 a 0, as manchetes referiram-se ao desencantamento do time brasileiro.
Gosto muito
de futebol, porém gosto ainda mais da língua portuguesa. Ao juntar essas duas
paixões surge um gosto muito especial, o do jargão futebolístico. Quantas vezes
pensei em publicar um dicionário de termos do futebol! Só pelo prazer em
colecionar palavras e expressões peculiares, na maioria das vezes sem qualquer
sentido ou nexo linguístico.
Um bom
exemplo surge quando o jogador, com um leve toque, faz a bola encobrir o
adversário, e ela é retomada mais adiante, para delírio da torcida. À esta
jogada dá-se o nome de lençol ou chapéu, dependendo da região do país
onde foi executada. Tem mais essa: os regionalismos são incontáveis.
Se um
jogador mete a bola por um lado do adversário, corre pelo outro lado e apanha a
pelota mais adiante, a isso dá-se o
fantástico nome de drible da vaca!
Bem, vamos
às manchetes de hoje.
O Houaiss
registra cinco acepções para o verbete desencantar,
não necessariamente nessa ordem:
1 – fazer perder ou perder
o encanto, a graça, o charme;
2 – fazer perder ou perder
as ilusões, o entusiasmo com relação a (alguém ou algo), desenganar(-se),
desiludir (-se), desapontar(-se);
3 – descobrir (coisa rara,
difícil de ser encontrada; achar, desentesourar, encontrar;
4 – fazer aparecer ou
aparecer (o que está sumido ou em estado latente).
Nenhuma destas acepções explica as tais manchetes. O
encanto, a graça, o charme da seleção já não existem faz muito tempo. E não
apareceram neste jogo.
Vamos então ao significado que se aplica:
5 –
livrar (alguém, algo ou a si mesmo) de
(encanto, magia); perder efeito (o feitiço); desenfeitiçar (-se).
Eis aí a solução do mistério! O feitiço foi desfeito. A
seleção livrou-se da magia, do maldito encantamento, e venceu de 4 a 0 a
Dinamarca. Desencantou, portanto!
Shakespeare já havia previsto o fenômeno; disse ele, em Hamlet:
“Há algo de podre no reino da Dinamarca”. Diante da podridão, desfez-se o
encantamento!
Gosto muito de futebol, porém gosto mais ainda da língua
portuguesa.
Foto: Eduardo Anizelli / Folhapress.
Tudo é material para o Louco elaborar belas crônicas. Detalhes que engulimos sem sentir seu sabor esta página abre, esmiúça e nos faz pensar.
ResponderExcluirQue bela crônica! O louco faz uma verdadeira "embaixadinha" com o texto, cada palavra no seu justo lugar, cada frase um "gol de letra".
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