Auto-retrato de Frida Kahlo
O que desde logo chama a
atenção do leitor no tema em questão é que os profissionais de saúde mal tocam
no assunto, e que é preciso que um leigo como Hélio Schwartsman denuncie o
escândalo, sob o título Apartheid da dor, em seu artigo de hoje na
Folha de S. Paulo (16/9).
Schwartsman cita a
médica Ana Claudia Arantes, que afirma: “a média mundial de consumo de morfina
é de 6,5 mg por habitante por ano e que, no Brasil, esse número é de apenas 1,5
mg. Na Áustria, campeã mundial de uso lícito do opioide, a cifra vai a 100 mg.
A menos que imaginemos que os brasileiros sejam 67 vezes mais resistentes à dor
do que os austríacos ou que os médicos do país alpino prescrevam drogas
perigosamente perto da irresponsabilidade, é quase forçoso concluir que o
brasileiro está sofrendo desnecessariamente.”
E o articulista da Folha complementa: “Nosso problema
é uma combinação de má formação dos médicos – que estudam superficialmente
analgesia e cuidados paliativos – com burocracia paranoica, que acha mais
importante evitar que viciados consigam drogas do que assegurar que pacientes
legítimos não sintam dor.”
Penso que este
parágrafo é antológico; só mesmo um intelectual do porte do Hélio Schwartsman é
capaz de formulá-lo tão bem!
Nos meus 40 anos
trabalhando como cirurgião geral, foram inúmeras as vezes em que me deparei com
pacientes submetidos a operações de grande porte, como gastrectomias (retirada
do estômago), recebendo doses mínimas de Novalgina de 6 em 6 horas no
pós-operatório imediato. Trata-se de um tipo sofisticado de tortura, difícil de
explicar.
Absurdo de igual
quilate ocorre com pacientes terminais que se queixam de variados tipos de dor
e são privados por seus próprios médicos de receberem morfina, hoje disponível
para administração oral, pelo “risco de se tornarem viciados”. Entre a
improvável dependência, pois na maioria das vezes não haverá tempo para isso, e
a dor contínua, insuportável, desumana, dá-se preferência a esta última.
Sem dúvida, uma falha na educação médica.
Quantas conversas e casos pessoais sobre o tema.... O medo, ignorância,descaso médico permite a bem nominada tortura sofisticada e ainda se ouve : "é assim, não posso fazer mais nada!"
ResponderExcluirSabemos bem do que se trata, Sergio!
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