sábado, 26 de setembro de 2015

Alma cansada

              O velho tinha plena consciência de que havia se tornado um estorvo para a família, o que fazia dele, cheio de reumatismos, dores, mazelas de toda natureza, um homem amargo.
            Sua mulher com frequência não conseguia esconder a irritação com aquela convivência difícil, um peso morto, pensava ela. De vez em quando dava um tranco no velho, a voz ríspida, quase gritada, reclamando por pouco ou quase nada:
            – Credo, que coisa horrível!
            Ao que o velho respondia:
            – Tenha paciência, mulher, está por pouco...
            Aí então é que ela perdia de vez a paciência, sabedora de que aquele  pouco já durava uma eternidade. Respondia raivosa:
            – Que nada, você ainda vai longe.
            E aquilo doía ainda mais na alma cansada do velho.

            

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