“Quem é você
que não sabe o
que diz?
Meu Deus do
Céu,
que palpite
infeliz!”
Aproprio-me
do famoso samba de Noel para comentar a crônica de Adriana Carranca na Folha do
último sábado (22/8).
Devo
confessar que a articulista me fisgou pelo título “O Islã precisa de um papa”! Ela enumera com minúcia os atos
terroristas praticados em nome do Islã, desde o 11 de setembro até os ataques
mais recentes do Estado Islâmico – EI, incluindo o massacre ao Charlie Hebdo, a
decapitação do arqueólogo de 82 anos Khaled Asaad, a destruição sistemática do
patrimônio histórico no Oriente Médio.
No
penúltimo parágrafo da crônica, Adriana faz curtíssima menção à barbáries
cometidas em nome do cristianismo, incluindo a corrupção no Vaticano e os
padres pedófilos. Admite que “muitos papas no passado acobertaram os crimes da
Igreja Católica”. Ela acredita que tudo será redimido pelas ações do papa
Francisco, “que parece trilhar outro caminho”. (O que até parece ser verdade!)
Ao
concluir seu texto ela acrescenta:
“É nesse sentido que os muçulmanos talvez precisem de um papa. Não se
trata de desculpar-se pelo EI, mas de contradizer sua falsa narrativa do Islã.
Falta-lhes uma voz com poder de influenciar tanto as massas quanto os
dignatários do poder, que represente a pluralidade dos muçulmanos e seja capaz
de defender a fé que a maioria considera pacífica. E que seja um moderado.
Inshallah.”
A
isso chamei de palpite infeliz!
O
que Adriana parece sugerir é que o Islã adote, a partir de agora, a organização
e a estrutura política da Igreja Católica, que, convenhamos, foi mesmo um
“sucesso”, pois sobrevive há 2.000 anos. Mas, e os desmandos de 2.000 anos? E
as guerras em nome da fé? E as Cruzadas contra os infiéis? E a Inquisição,
particularmente a espanhola? E o conluio com os nazistas? E, de fato, os padres
pedófilos, acobertados por seus superiores, incluindo papas?
O
que Adriana recomenda é a infantilização dos muçulmanos, que deveriam seguir à
risca as determinações de um infalível Pai-Todo-Poderoso, representante de um
certo deus aqui na Terra. Mesmo que esteja mais que comprovado – e é ela quem o
afirma – que tal representante seja tão falível quanto qualquer ser humano,
humano que ele é!
O
que qualquer um de nós precisa, independentemente de nossa crença ou
não-crença, é aprender a pensar, cada um com seu próprio aparelho de pensar,
sem cartilhas ou bíblias, logo que nos vemos livres do jugo paterno. A partir
daí, cada um de nós torna-se responsável pela própria educação, indispensável
para a vida em sociedade.
Em pleno séc. XXI,
esperamos que cada indivíduo possa adotar o pensamento científico – mesmo que
imperfeito, incompleto, sempre inacabado, em permanente evolução, em busca de
uma verdade que jamais será encontrada, e por isso mesmo sujeito a tantas
críticas – em vez do pensamento religioso, mágico, infantil, característico dos
primórdios da humanidade.
O fato é que a humanidade sempre precisou de líderes. E não parece que vá prescindir deles tão cedo. Mas custa mesmo crer que um papa, sozinho, dê conta de toda uma comunidade religiosa, complexa, numerosa e múltipla. Ou que o estilo Francisco vá funcionar junto ao islamismo. Até porque E.I. não é islamismo, de verdade! Tudo muito complicado. Melhor aprender a pensar...
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