Hélio Schwartsman inicia sua crônica deste
sábado (“Estupro divino”,
15/8) na Folha de S. Paulo relatando a
instituição do mercado de
escravas sexuais pelo Estado Islâmico (EI), referindo-se à matéria recém
publicada pelo "The New York Times”.
Mulheres e meninas da etnia yazidi (a
maior parte das vítimas) que escaparam do cativeiro contaram que os terroristas
rezavam antes e depois de estuprá-las, pois, para eles, aqueles atos eram
permitidos por Deus.
E
Schwartsman formula a pergunta de forma precisa e a responde corajosamente:
“Como
milhares de homens que se intitulam bons muçulmanos – e, até onde se sabe, não
são psicopatas – conseguem escravizar meninas, estuprá-las diariamente e achar
isso certo? Que força faz uma pessoa suprimir qualquer traço de empatia que,
ainda que em doses variáveis, faz parte do arsenal de emoções humanas? A
resposta é "religião", que é um caso particular do fenômeno mais
geral conhecido como ideologia.”
Digo corajosamente
porque muitos dentre os milhares de leitores do conceituadíssimo articulista
haverão de discordar dele; dentre os pouquíssimos leitores do Louco, que endossa
completamente a opinião de Schwartsman, também. Dirão, no mínimo, que a
resposta comete o pecado da generalização. Talvez tenham razão.
O tema é polêmico, não
há dúvida. Por isso, penso eu, para afastar outros elementos contaminantes,
Schwartsman reduz a questão a dois únicos fatos: a reza e o estupro, aprovado
por um deus. Assim fica mais fácil discuti-lo, embora possa ser acusado também
de reducionismo. Sempre haverá argumentos contrários...
E assim Schwartsman
termina sua crônica, com um alerta ao nosso mundo contemporâneo, repleto de
fanatismo religioso:
“A
ideologia é a mais cruel das causas de violência identificadas pelos
sociólogos. ... quando tiro a vida de uma pessoa e afirmo que fazê-lo é
necessário para louvar o Criador ou para fundar o paraíso terrestre, transformo
a violência num valor positivo. E é isso que possibilita massacres.”
Mesmo os sinceramente crentes devem admitir que a visão dos homens a respeito da religiosidade, no decorrer de milênios, tem sido primitiva, selvagem, cruel, bárbara. Nem devia ser chamada de religiosidade. Deus não tem nada a ver com isso.
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