A crônica de hoje de Luis Fernando Verissimo intitulada “Salada”,
em O Estado de
S. Paulo (13/8), traz um primeiro parágrafo primoroso:
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“Quem não for de
esquerda na juventude, não tem coração, quem não for de direita na maturidade,
não tem cérebro. Como todas as máximas categóricas, esta não resiste muito. Há
criancinhas reacionárias do berço e velhinhos carbonários até a morte. Mas não
deixa de haver algo de, digamos, antinatural num jovem que pensa como velho e
num velho que pensa, e age, como jovem. Num caso “coração” é sinônimo de
consciência social, de ideal igualitário, de inconformidade com toda injustiça.
No outro caso, “cérebro” é sinônimo de uma sabedoria que vem com a idade, que
não exclui o coração – já se disse que ninguém tem o monopólio dos bons
sentimentos –, mas repele a consciência ativa, que quer mudar o homem e o
mundo.”
Em seguida Veríssimo
passa a discorrer sobre a política nacional, o que não vem ao caso no Louco por
cachorros, nesse momento.
Porém, a introdução
acima trouxe-me a lembrança de uma conversa ocorrida há muitos anos, com um
velho amigo e seu filho adolescente, estudante de direito. Não restava dúvida
de que o menino era – e deve continuar assim – muitíssimo inteligente. Ele
empenhava-se em mostrar erudição acima do que era esperado para a idade, mas
enfatizava mesmo é que havia lido Olavo de Carvalho, e defendia as ideias do
filósofo, sabidamente de direita, com furor inusitado! Talvez mais
conservadoramente que o próprio filósofo, o que também chamou-me a atenção. A
defesa de qualquer ideia de maneira absolutamente convicta, como quem defende a
verdade última, parece-me sempre perigosa. (Num jovem, perdoa-se; num velho, não.)
O pai mantinha-se em silêncio, pois não conhecia o
autor; apenas revelava inequívocos sinais de orgulho pelo desempenho do pimpolho.
Eu, ouvia sem saber o que pensar, mas achando muito estranho aquilo tudo. Confesso
que cheguei a associar (inconscientemente) aquele comportamento com os da
juventude hitlerista... A única ligação que consegui fazer daquelas ideias foi
com a Faculdade de Direito, talvez a responsável por formação tão conservadora,
pensei, sem convicção.
Não tive mais contato com a família, não sei o que
pensa hoje o advogado adulto. Mas posso entender melhor meu sentimento de
estranheza, com a ajuda do Veríssimo, ao ver um jovem pensando como velho, ou
um velho pensando como jovem. Não é natural, independentemente de qualquer julgamento
sobre o certo e o errado.
Velho e novo. Mentalmente, conceitos dúbios.
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