Quando José J. Veiga (1915
– 1999) publicou seu primeiro livro, aos 45 anos, eu ainda fazia uso de cueiros
literários, saía de Monteiro Lobato para ingressar, à força, na literatura de
adultos, pelas indicações do saudoso professor de português, Seu Afonso, na época
do então denominado ginásio. Cresci ouvindo falar no escritor, mas nunca o li.
Espero viver o suficiente para resgatar este pecado.
Começo minha leitura pelo
começo, pelo primeiro livro de Veiga: Os cavalinhos de Platiplanto, reeditado
agora pela Companhia das Letras (2015), que pretende reeditar a obra completa
de Veiga. (Nunca se sabe bem o por quê, o fenômeno não é raro, mas alguns escritores,
bons escritores, aos pouquinhos vão desaparecendo, a obra esgotando-se nas
editoras, nas livrarias, como que morrendo para a mídia literária. Foi o que
ocorreu com José J. Veiga, e tantos outros. Daí a importância desta empreitada,
a reedição deste autor. Foram publicados até agora, além de Os cavalinhos, A
hora dos ruminantes.)
Veiga nasceu na Fazenda
Morro Grande, divisa dos municípios de Pirenópolis e Corumbá, em Goiás. O pai
dele era pedreiro; aprendeu com a mãe a ler e escrever. A infância –
magistralmente retratada em Os cavalinhos –, passou-a à beira de rios, em
quintais baldios, em brincadeiras de criança da roça.
Veiga formou-se em Direito
e nunca exerceu a profissão. Jornalista, residiu em Londres de 1945 a 1950,
trabalhando como correspondente na BBC. Durante 20 anos foi redator e tradutor
para as Seleções do Reader’s Digest.
Parece que o lançamento de
seu primeiro livro teve uma ajudinha de ninguém menos que Guimarães Rosa, que
lhe sugeriu o uso da inicial “J.” no meio de seu nome, J. de Jacinto, nome
materno.
Na atual reedição, caprichada,
capa dura, o excelente prefácio de Silviano Santiago – trata-se muito mais de
um ensaio de que um prefácio –, faz exaustiva e interessantíssima comparação
entre o conto A Ilha dos Gatos Pingados, de Veiga, e o poema Infância, de
Carlos Drummond de Andrade. Santiago afirma:
“Os dois se filiam à
tradicional e já longa descendência do romance Robinson Crusoé (1719), obra
prima de Daniel Defoe, o único livro de toda a literatura mundial que
Jean-Jacques Rousseau, o filósofo iluminista francês, recomenda às crianças na
idade escolar.”
No conto que dá título ao
livro, o narrador-menino emociona o leitor, no trecho que se segue:
“Mas quando a gente é menino parece que as coisas nunca saem como a gente quer. Por isso é que acho que a
gente nunca devia querer as coisas de frente por mais que quisesse, e fazer de
conta que só queria mais ou menos. Foi de tanto querer o cavalinho, e querer
com força, que eu nunca cheguei a tê-lo.”
Veiga, desde a
infância, conhecia a importância da frustração, da aceitação da frustração, na
formação do caráter de uma criança.
Mais não adianto para não tirar o espanto do
possível futuro leitor de Os cavalinhos de Platiplanto, de José J. Veiga, se é
que todos já não o leram, e eu, bobo aqui, na minha santa ignorância.
André é muita coincidência, ontem Ignacio loyola e alguns do grupo falaram muito do JJVeiga, inclusive que há um conto do Ignácio em um tempo que não conhecia a obra de Veiga que muito se assemelha ao da Veiga. Da discussão deixou-me muito curioso sobre ele e já comecei procurar sua obra. Abro hoje seu blog e lá está o homem!
ResponderExcluirQuanto talento perdido por aí! E como a vida é curta para tanta leitura.
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