O artigo de Susana Pérez de Pablos, publicado no El País, Madri (Espanha),
em 24/02/2015, é
de arrepiar, a começar pelo título: Sete motivos para ligar o celular na sala
de aula. (http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-na-midia/indice/32855/sete-motivos-para-ligar-o-celular-na-sala-de-aula/)
Imagine o leitor o susto que levou um
professor universitário aposentado, hoje dedicado ao Loucoporcachorros, ao ler
o que se segue:
“Liguem os telefones celulares.” Quando esta for a
primeira frase que o professor disser a seus alunos ao entrar na classe, em vez
de mandar que os desliguem, a mudança será real. No mundo atual, plenamente
digitalizado, a entrada da tecnologia na educação não tem retorno. Muitos
lembraram que o mesmo aconteceu há décadas com as calculadoras. Antes proibidas
em classe, passaram a ser usadas para aprender. Depois que a criança já sabe
somar, sua utilidade para resolver problemas mais complexos é evidente.”
A tese será
discutida durante a 29ª Semana Monográfica da Educação da Fundação Santillana,
que começa nesta terça-feira (24) em Madri, com o título "Melhorar a
educação: como a tecnologia pode contribuir?".
Segundo
a autora do artigo, “para esquentar os motores” ela cita as razões que justificam
a utilização do aparelho em sala de aula, que apresento aqui resumidamente:
1. “O
celular é o prolongamento do braço: o aluno leva toda a informação consigo, a
movimenta, intercambia, compartilha em rede, fora e dentro da classe. Desta
forma, aprende de maneira intuitiva, mesmo sem estar consciente disso.”
2. “Aplicativos
contribuem na educação: a classe não é mais o único lugar onde se aprende.”
3. “Professores
também estão familiarizados: o professor sabe usar a tecnologia como o aluno.”
4. “Recursos
digitais já estão disponíveis: a transformação da educação pela tecnologia
tem três pés: os recursos digitais com os quais se dotam a classe e os alunos
(desde as lousas digitais aos computadores), o acompanhamento do professorado e
um currículo digitalizado.”
5. “Professores
aprendem diretamente com especialistas: os professores não vão mais a cursinhos
para aprender a usar a tecnologia. ...Hoje em dia o acompanhamento do docente é
feito por especialistas em tecnologia nas próprias escolas.”
6. "Coordenador
tec" supervisiona os sistemas nas escolas: nos últimos anos foi criada a figura
do "coordenador tec" nos colégios, exatamente pela razão anterior:
para facilitar sua boa utilização com o fim de que se traduza em um sistema
melhor e mais eficaz de aprendizado para os alunos.”
E o artigo
termina de forma surpreendente, quase cômica, se não fosse trágica:
“Mas nem sempre o investimento em tecnologia para a
educação se traduziu em uma melhora dos resultados dos alunos. De fato, alguns
países que menos investem nela (como Finlândia, Japão ou Coreia do Sul) saem
nos primeiros lugares das provas Pisa, assim como outros que, pelo contrário,
investem muito nela (como Cingapura, Países Baixos ou Estônia).”
As
seis razões pelas quais os “especialistas” (a autora do artigo e o Sr. Mariano
Jabonero, Diretor de Educação da Fundação Santillana) preconizam o uso do
celular podem até ser verdadeiras, mas
não em sala de aula!!! Ele tornou-se mesmo um prolongamento do braço, para
o bem e para o mal! A sala de aula nunca foi o único lugar para se aprender. Aplicativos
ajudam no processo de aprendizagem. Os professores, como todos nós, vivemos na era
digital. Recursos digitais estão cada vez mais disponíveis para a educação. O
tal “coordenador tec” é mais um recurso para a otimização dos avanços tecnológicos.
Tudo
isso é verdade, mas por que precisa ser posto em prática exatamente em sala de
aula? Isso o artigo não explica. Por que não preservar um espaço onde deverá
predominar, não a tecnologia, mas o encontro entre pessoas – alunos e
professores –, com suas experiências próprias, idiossincrasias, virtudes e
defeitos? Por que substituir gente por máquina, num espaço destinado a pensar e
compartilhar de viva voz?
É
verdade que o computador coloca a informação, numa quantidade espantosa, à mão
do usuário, especialmente do alunado. Porém, informação não significa educação.
Terminada a aula – liguem seus celulares! –, mais que justo que todos busquem
informações adicionais, a confirmar ou refutar a palavra do professor.
Há muito o (bom)
professor deixou de ser apenas um transmissor de conhecimento. Seu papel
fundamental, pelo qual ele deve ser reconhecido, valorizado e bem remunerado, é
o de educador.
Como
no cinema, a aula vai começar: Desliguem
seus celulares!
Ótimo André . Esta polêmica/debate/ aprofundamento no assuno vai longe! Que será que vai sair desta discussão na Semana Monográfica? Acredito também que os professores estão acreditando nesta posição de serem submetidos a tecnologia como ela vem e não de a utilizarem a favor e se considerarem educadores.
ResponderExcluirÉ isso aí, Sergio. A coisa vai longe...
ExcluirConcordo Dr! Não há que se falar de celular em sala de aula, mesmo por que o foco principal desse dispositivo é facilitar a comunicação entre seus usuários: há recurso de telefone, email, chat point to point, mensagens sms, etc; algo inapropriado no momento da aula, onde a comunicação se dá in loco, entre professor e aluno. Embora os chamados smartphones tenham disseminado a possibilidade de navegação pela internet, eles não viabilizam tal navegação de uma maneira adequada ao aprendizado, tanto por conta de seu tamanho físico quanto dos recursos funcionais que provê. Por isso, além dos problemas envolvidos na dispersão de atenção ou no comprometimento da interação humana que um celular provocaria, o seu uso como provedor de informações úteis ao aluno, na minha opinião, seria algo no mínimo inadequado e ineficiente. Em termos de ferramentas tecnológicas, creio que um tablet, com ou sem acesso à internet, é muito mais aceitável numa sala de aula, desde que utilizado para realizar pesquisas rápidas, no intuito de substituir os pesados cadernos de notas e livros-texto de papel. Agora, como toda ferramenta de aprendizado, o uso de tablet pelos alunos deve ser disciplinado pelos responsáveis devidos.
ResponderExcluirObrigado, Extrato, por comentário tão detalhado. Concordo que pesquisas rápidas, coordenadas pelo professor, podem estimular o grupo a pensar.
ExcluirO aluno já dispõe de uma avalanche de informações via internet. Falta organizar o pensamento. Aí surge o professor e dinamiza-se a ´aula´. Se não for na aula, quando é que o aluno vai desenvolver o tirocínio, o espírito crítico, a análise? Mas com telefone desligado!
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