Interessantíssimo o novo livro de Heloisa
Seixas, O oitavo selo – quase romance
(Cosacnaify, 2014), desde o título, inspirado no filme de Ingmar Bergman, O
sétimo selo, até o subtítulo, no Quase memória, de Carlos Heitor Cony. (Lembro-me
bem do primeiro livro de contos de Heloisa Seixas, o extraordinário O pente de
Vênus, de 1996). Agora, realidade e ficção entremeiam-se por todo o livro: a
realidade é sempre dura, um contínuo facear a morte, que a ficção procura
amenizar.
A
certa altura do “romance”, a autora confessa o que muitos de nós já sabemos e
experimentamos, sobre o ato de escrever:
“Escrever.
Escrever para não perder a sanidade, para não morrer. Afinal, não fora assim
que acontecera com ela própria, desde o princípio? A mulher sabia. Quantas vezes já não confessara – um pouco
constrangida, é verdade – que tinha começado a escrever por um ato de covardia,
não de coragem? Pelo medo puro e simples de morrer se não o fizesse?”
Vez
por outra a narradora dá voz ao marido, o também escritor Ruy Castro; outras
vezes, é a própria autora quem fala, Heloisa, e ambos dão testemunho de uma
incrível sucessão de infortúnios, desde o alcoolismo até o surgimento de
doenças gravíssimas, a morte sempre rondando a narrativa.
Uma
passagem extraordinária do livro dá-se quando o protagonista, por causa de “umas
dores nas costas”, procura o médico, que solicita uma radiografia de tórax.
Para surpresa de todos, ao revelar a chapa, aparece uma faca atravessada no
pescoço do homem. Repetida a radiografia, a faca já não estava lá. O médico
exclama: “Sabe que, por um momento, cheguei a pensar que a faca estivesse
realmente cravada no pescoço do senhor? É incrível! Nunca vi nada igual.”
Ficção?
Realidade? Elas são o mesmo do mesmo.
Para
certas pessoas, O oitavo selo será um
livro difícil de se ler. Mesmo assim, valerá a pena.
A
impressão que em mim causou pode ser assim resumida:
eu despedaçado
a
sensação
do
coração arrebentado
de
repente
não
resta outra coisa a fazer
senão
escrever
antídoto
para a loucura
para
continuar vivo
aplacar
a angústia
poder
pensar
manter
íntegro
o
eu despedaçado
conheço bem a sensação
do coração arrebentado
conheço bem a sensação
do coração arrebentado
Ótimo! Que sirva a literatura de suporte à vida. Eu digo sempre: "literatura de autoajuda" é um feio pleonasmo: toda boa literatura é autoajuda. Só não pode ser má literatura...
ResponderExcluirPaulo, melhor dizer Alta ajuda.
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