sábado, 1 de novembro de 2014

Ludmila


   – Ludmila, é preciso ser tolerante, minha filha.
   – ...
            – Gays são gente como a gente.
            – ...
            – Às vezes até melhores.
            – ...
            – Não podem ser discriminados.
            – ...
            – Grandes artistas do passado foram gays.
            – ...
            – Pintores, escultores, escritores, poetas...
            – ...
            – Desde os tempos mais remotos.
            – ...
            – Lembra-se, Ludmila, daqueles vasos gregos que vimos no museu?
            – ...
           
            Os pais de Ludmila eram pessoas avançadas, bem pensantes, educadas e preocupadas com a educação da filha única, queridíssima. O sermão contra o preconceito era sempre o mesmo, desde a mais tenra infância da menina. Ludmila, pacientemente, ouvia, ouvia, ouvia.
           
Quando a jovem completou 14 anos, chamou a mãe e disse:

            – Mãe, preciso conversar com você.
            – Pois não, minha filha, sou toda ouvidos.
            – É sobre essa coisa de ser gay.
            – ... (na mãe, um certo espanto).
            – Mãe, não se assuste com o que vou dizer.
            – ... (agora, muito espanto).
            – Mãe, já tenho 14 anos e posso muito bem fazer minhas escolhas.
            – ... (meu deus!).
            – Acho que você e papai podem compreender a minha situação.
            – ... (a mãe, à beira de um ataque de nervos).
            – Mãe, eu gosto mesmo é de meninos.

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