A crônica de hoje do Hélio Schwartsman
na Folha de S. Paulo, intitulada Tolerar a intolerância (1), é de arrepiar! Curta, limpa, clara,
objetiva, inteligente, bem escrita, mostrando o quanto é importante saber
pensar. Não resisto à tentação de comentá-la neste pobre blog.
Transcrevo
o trecho que mais me impressionou e que desejo repensar:
“...a democracia, ao contrário do que se apregoa, deve, sim,
admitir pregações nazistas, racistas e antidemocráticas. No instante em que o
sujeito tenta colocar essas ideias em prática, aí é hora de chamar a polícia.
Existe, afinal, uma fronteira mais ou menos natural entre o discurso e a
prática. É melhor aproveitá-la do que atribuir a alguém o poder de arbitrar
entre o que é ou não uma declaração aceitável.”
O
articulista chama nossa atenção para o limite entre o discurso e a prática,
limite este que nem sempre é claro e pode confundir homens e nações. As
invasões dos países vizinhos pelos nazistas, sem uma resposta a altura dos
demais, constitui prova cabal deste fato.
Parodiando André Green, psicanalista
francês (de origem egípcia, nascido no Cairo) recém falecido, o limite entre
discurso e ação não é uma linha fácil de ser identificada; antes, trata-se de
uma zona de fronteira, uma faixa de extensão variável, mais ou menos larga e
capaz de confundir os habitantes de cada lado.
Quando pensamos de modo diverso de
nosso interlocutor, e com frequência nos colocamos em lados opostos, tentamos
invadir o território alheio com nossas convicções.
Bem, aí é que o Schwartsman faz a
diferença: chega um momento em que é preciso chamar a polícia! Enquanto
discurso, podemos ouvir tudo, cobras e lagartos, delírios, ilusões,
ignorâncias, bobagens e bobagens e bobagens. Diante de uma ação, é preciso
reagir.
As implicações políticas e sociais
deste conceito são amplas e clamam por atitudes tanto individuais quanto da
sociedade.
E Schwartsman arremata:
“A liberdade de expressão, ao assegurar que todos os temas
possam ser debatidos sob todos os ângulos, catalisa a necessária reciclagem dos
consensos sociais. Num passado não muito remoto, queimar infiéis, prender
adúlteros e manter escravos eram ideias respeitáveis que tinham o amparo da
opinião pública.”
Ou
seja, conversar é preciso. E penso que a tolerância começa por saber ouvir.
Li a crônica e concordo com o comentario. Pode-se falar o que quiser. Fazer é que sao elas...
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