terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Tolerância


A crônica de hoje do Hélio Schwartsman na Folha de S. Paulo, intitulada Tolerar a intolerância (1), é de arrepiar! Curta, limpa, clara, objetiva, inteligente, bem escrita, mostrando o quanto é importante saber pensar. Não resisto à tentação de comentá-la neste pobre blog.
            Transcrevo o trecho que mais me impressionou e que desejo repensar:

“...a democracia, ao contrário do que se apregoa, deve, sim, admitir pregações nazistas, racistas e antidemocráticas. No instante em que o sujeito tenta colocar essas ideias em prática, aí é hora de chamar a polícia. Existe, afinal, uma fronteira mais ou menos natural entre o discurso e a prática. É melhor aproveitá-la do que atribuir a alguém o poder de arbitrar entre o que é ou não uma declaração aceitável.

            O articulista chama nossa atenção para o limite entre o discurso e a prática, limite este que nem sempre é claro e pode confundir homens e nações. As invasões dos países vizinhos pelos nazistas, sem uma resposta a altura dos demais, constitui prova cabal deste fato.
Parodiando André Green, psicanalista francês (de origem egípcia, nascido no Cairo) recém falecido, o limite entre discurso e ação não é uma linha fácil de ser identificada; antes, trata-se de uma zona de fronteira, uma faixa de extensão variável, mais ou menos larga e capaz de confundir os habitantes de cada lado.
Quando pensamos de modo diverso de nosso interlocutor, e com frequência nos colocamos em lados opostos, tentamos invadir o território alheio com nossas convicções.
Bem, aí é que o Schwartsman faz a diferença: chega um momento em que é preciso chamar a polícia! Enquanto discurso, podemos ouvir tudo, cobras e lagartos, delírios, ilusões, ignorâncias, bobagens e bobagens e bobagens. Diante de uma ação, é preciso reagir.
As implicações políticas e sociais deste conceito são amplas e clamam por atitudes tanto individuais quanto da sociedade.
E Schwartsman arremata:

“A liberdade de expressão, ao assegurar que todos os temas possam ser debatidos sob todos os ângulos, catalisa a necessária reciclagem dos consensos sociais. Num passado não muito remoto, queimar infiéis, prender adúlteros e manter escravos eram ideias respeitáveis que tinham o amparo da opinião pública.”

            Ou seja, conversar é preciso. E penso que a tolerância começa por saber ouvir.


Um comentário:

  1. Li a crônica e concordo com o comentario. Pode-se falar o que quiser. Fazer é que sao elas...

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